Já só 13% dos franceses confiam em Hollande

Sondagem não traduz ainda o impacto do livro onde Trierweiler apresenta o ex-marido como um snob que desdenha dos pobres, que trata por "desdentados".

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Só 1% dos franceses tem "total confiança" no Presidente para a "resolução dos problemas" FRED DUFOUR/AFP

Já se sabia que François Hollande era o Presidente mais impopular da V República francesa (instaurada em 1958). O que não se sabia era até onde poderia descer e os dados divulgados na quinta-feira revelam que pode cair fundo — já só 13% dos franceses confiam no chefe de Estado, um número que aparece pela primeira vez nas sondagens.

Os 13% surgem na sondagem do barómetro político TNS Sofres/Le Figaro e significam uma quebra de cinco pontos em dois meses. Mas, como sublinha o jornal Le Monde na análise que faz dos dados, a impopularidade de Hollande é unânime em todas as sodagens recentes e os dados destas relativos aos presidentes concluem que, de facto, Hollande é o mais impopular.

François Hollande, que está no Eliseu desde Maio de 2012, já tinha quebrado o recorde de 16% de impopularidade atingido por Jacques Chirac em Julho de 2006, quando estava a terminar o segundo mandato.

O Presidente francêscorre o risco de descer tanto que o seu índice de popularidade tenha só um dígito. Ao olhar-se para os detalhes das sondagens, verifica-se que o Presidente está em perda em todos os sectores, a começar pelo seu próprio, os eleitores socialistas — 44% dos eleitores socialistas ainda confiam no Presidente, uma quebra de quatro pontos em relação há dois meses; os que deixaram de confiar já são a maioria, 54%.

Em pormenor, só 1% dos franceses têm "total confiança" no Presidente para a "resolução dos problemas da França actual". No espectro inverso, 56% dos inquiridos disseram "não ter qualquer confiança" em Hollande e 26% revelaram "já não ter qualquer confiança".

François Hollande começou a bater recordes de impopularidade em Novembro de 2013, ao descer abaixo dos 22% que François Miterrand atingiu em Dezembro de 1991 no barómetro IFOP/JDD (criado em 1958). O actual Presidente, que é contestado por uma ala do seu próprio partido que o acusa de uma abordagem económica de direita, surgiu muito rapidamente na cauda da lista dos sete presidentes da V República nos barómetro BVA, CSA e Ipsos/Le Point.

Os analistas franceses referem que os novos e tão desfavoráveis números divulgados na quinta-feira são o resultado da primeira sondagem feita após a grande remodelação do Governo. Motivada pelas críticas internas à política económica, a remodelação manteve Manuel Valls no cargo de primeiro-ministro. O índice de confiança deste também está em declínio, mas ainda assim mantém-se muito acima do do Presidente — 14% dos eleitores perderam a confiança em Valls, mas 30% ainda lhe dão um voto de confiança.

A nova sondagem foi realizada entre 28 de Agosto e 1 de Setembro, ou seja não mostra ainda se o livro da ex-mulher de Hollande, Valérie Trierweiler, publicado precisamente na quinta-feira, vai afundar mais a imagem do Presidente junto da opinião pública. Trierweiler — que recebeu meio milhão de euros para escrever "Merci pour ce moment" — apresenta o ex-marido como um snob que desdenha dos pobres, que trata por "desdentados" — o Le Monde fez imediatamente um trabalho sobre o elevadíssimo preço das consultas e tratamentros dentários em França e, nas redes sociais, eclodiram grupos a reivindicar o nome "sem dentes". Há os "sem dentes de direita", os "sem dentes de esquerda", os "sem dentes pelo casamento gay"...

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