Conservas e bacalhau ajudam Portugal a reduzir défice da balança comercial

Exportações de produtos da pesca aumentaram 2% entre 2011 e 2013, enquanto as importações caíram 3%. Défice comercial caiu 8,9% em três anos.

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Importações de bacalhau reduziram em valor devido à descida do preço do peixe Paulo Pimenta

O défice da balança comercial dos produtos de pesca diminuiu 63 milhões de euros entre 2011 e 2013, graças ao aumento das exportações e a uma quebra de 3% nas importações. Apesar da crónica (e muitas vezes inevitável) dependência do exterior, as vendas de conservas e de bacalhau deram um contributo importante para este desempenho.

Há três anos, as compras ao estrangeiro atingiram os 1499 milhões de euros, valor que caiu para 1452 milhões de euros em 2013. Já as vendas para os mercados externos, aumentaram 2%, de 793 milhões de euros para 809 milhões. Contas feitas, o défice global reduziu-se em 8,9%, num sector que tradicionalmente não consegue equilibrar a balança comercial.

A melhoria dos números não é alheia ao bom desempenho da indústria das conservas, um dos poucos produtos da pesca a conseguir um saldo positivo na balança comercial. As importações aumentaram de forma exponencial entre 2011 e 2013 (59%) para mais de 143 milhões de euros. Mas as exportações superam estes valores e mantiveram uma tendência de subida, que se tem vindo a verificar nos últimos anos. O ano passado a venda de conservas para os mercados externos cresceu 37% em comparação com 2011, chegando perto dos 206 milhões de euros. O saldo foi, assim, positivo, no valor de 62,8 milhões, mais 5%.

Moda das conservas aumenta vendas
Na verdade, as conservas nunca contribuíram tanto para as vendas internacionais do sector agro-alimentar e conseguiram, pela primeira vez desde 2009, estar entre os três produtos mais exportados, a par do vinho e do azeite, ultrapassando as cervejas.

Foi em 2012 que a indústria deu o maior salto, passando de 8º maior exportador do sector-agro alimentar, para o 4º lugar. A tendência de crescimento tem sido constante e as vendas internacionais somaram, em 2013, 206 milhões de euros, uma subida de 15,6% em comparação com o ano anterior. Os números reflectem não só o trabalho feito fora de portas - 65% da produção é exportada - mas também a mudança de comportamento dos consumidores portugueses, que passaram a comprar mais conservas. O produto está na moda e parece ter vindo para ficar.

A conserva de sardinha é a "rainha" do sector e consegue ter um superavit de 77,2 milhões de euros em 2013, 29% superior ao de 2011. As exportações cresceram 35% (para 84 milhões de euros) e as importações somaram 84 milhões de euros o ano passado, mais 35%.

Também o bacalhau contribuiu de forma positiva para a redução do défice comercial, com um aumento das exportações em 5% (para 89,3 milhões de euros) e uma quebra acentuada das importações de 12% (para 370,5 milhões de euros). Paulo Mónica, secretário-geral da Associação dos Industriais do Bacalhau (AIB), explica que os preços do peixe nos mercados internacionais reduziram-se substancialmente no último ano. "As quotas de pesca globais estiveram num nível historicamente elevado, o que fez baixar os preços. Mas em volume as importações aumentaram", adianta. Ou seja, a indústria nacional comprou mais bacalhau, por menor preço. O secretário-geral da AIB garante que os portugueses continuaram a consumir bacalhau, apesar dos anos de crise.

Quanto às exportações, sublinha que “as empresas do bacalhau têm prosseguido o seu esforço de penetração nos mercados externos, onde o Brasil é o principal”. No palco internacional, a indústria venda produtos de maior valor acrescentado, como o bacalhau demolhado ultracongelado, continua.

Para os industriais e comerciantes de pescado fresco e congelado, a redução do défice comercial deve muito às exportações, “em alternativa a um mercado interno estagnado”. Luís Silvério, presidente da Associação dos Comerciantes de Pescado (Acope) afirma que houve um “incremento das exportações de produtos provenientes da pesca nacional para outros mercados, em resultado dos contactos que têm vindo a ser desenvolvidos”. Na lista está toda a Europa, Estados Unidos e Canadá (no caso do peixe fresco). Ásia, Austrália e Europa de leste têm sido os palcos escolhidos para a venda de congelados.

Ao mesmo tempo, as prateleiras dos supermercados têm hoje uma maior oferta nacional de espécies como a pescada, diz o responsável, acrescentando que “o acesso dos consumidores a estes produtos explica em parte a redução da compra de congelados importados”.

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