A noite do “bailado” no mar

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Filipe Farinha

Conversa acabada. A bordo do 24horas, quando chega a azáfama do lançar e puxar covos (redes) não há mais tempo para falar. Dois homens – José João, de 60 anos, e Emanuel Dias, de 46, entram em cena.

No “palco” onde se desenrola uma estranha de dança, com mãos e pernas moverem-se de forma sincronizada, não há lugar para amadores. “Um descuido pode ser fatal”, lembra o mestre José Agostinho, manifestando confiança na equipa. “Não precisamos de dizer nada uns aos outros, cada qual sabe o que tem a fazer para que as coisas corram bem”. A agitação marítima não dá tréguas, e o cair da noite – ao contrário do previsto  – não trouxe a bonança.

A pequena embarcação sobe e desce como se fosse uma montanha russa. “Fixem o olhar no horizonte para não enjoar”, recomenda Agostinho à equipa de reportagem do PÚBLICO. Não resultou. Emanuel Dias, a iscar, José João, a puxar covos, alargam os passos pendulares para não perder o equilíbrio. Por momentos, o barco chega a uma inclinação de 45 graus. Não há pingos de insegurança ou de qualquer receio no rosto dos três pescadores. “Estamos habituados”, comentam.

Os sinais dos dentes de uma moreia, cravados numa mão do pescador mais velho, marcam apenas alguns dos muitos episódios vividos no mar. “Trabalha comigo há 25 anos, relata Agostinho, de 48 anos, manifestando orgulhoso na equipa. “Isto é um bailado”, diz, brincando com a situação. É verdade o que dizem: é o campeão na pesca ao polvo? “Não, há pelo menos um ou dois que são valentes”, afirma, sem revelar o nome dos outros camaradas. 

Uma coisa é certa, “se o mar está a dar peixe, vou a terra, descarrego, e volto ao trabalho – não há tempo a perder, a não ser para comer uma sandes”. A pescaria rendeu cerca de uma centena de quilos – um pouco menos do que o habitual –, mas nem tudo o que veio à rede foi polvo. Alguns safios, moreias e pargos, também viajaram até ao porto de Quarteira.

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