Estado Islâmico decapita jornalista norte-americano

James Foley foi raptado na Síria em finais de 2012. Extremistas dizem que o executaram em resposta à intervenção dos EUA no Iraque e ameaçam fazer o mesmo a um outro jornalista norte-americano.

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James Foley foi raptado em Novembro de 2012 Reuters

Um vídeo posto a circular na Internet pelo Estado Islâmico (EI) mostra um elemento deste grupo jihadista a decapitar um homem que identifica como sendo James Foley, um jornalista norte-americano que foi sequestrado na Síria em Novembro de 2012.

O Global Post, site de notícias para o qual Foley trabalhava quando foi sequestrado no Norte da Síria, em Novembro de 2012, adianta que o FBI concluiu já que as as imagens são verídicas. Vários dirigentes vieram também já a público condenar a execução – a última de uma longa lista de atrocidades cometida pelos jihadistas, mas a primeira a visar um cidadão americano.

No vídeo, intitulado "Uma mensagem para a América”– que foi entretanto retirado do YouTube – um homem que aparenta ser Foley surge, de cabeça rapada e uniforme laranja, ajoelhado num local desértico. Ao seu lado, um combatente de cara tapada mas com sotaque britânico, identifica o jornalista e, de faca na mão, anuncia que a execução prestes a acontecer é uma retaliação pelos ataques aéreos ordenados pelo Presidente Barack Obama contra os jihadistas. “Os vossos ataques provocaram mortes entre os muçulmanos. Vocês já não estão a combater rebeldes, mas um Exército islâmico e um Estado aceite por muitos muçulmanos em todo o mundo.”

Depois desta declaração, o extremista mata o homem ajoelhado ao seu lado. O vídeo termina com a imagem de outro prisioneiro em uniforme laranja identificado como Steven Joel Sotloff, outro jornalista norte-americano desaparecido na Síria desde Julho do ano passado e que se pensa poder estar igualmente nas mãos do EI. “A vida deste cidadão americano, Obama, depende da tua próxima decisão”, afirma o homem mascarado.

O Presidente norte-americano não reagiu ainda à anunciada execução . A Casa Branca disse terça-feira à noite estar ainda à espera da autentificação do vídeo, mas afirmou que, a serem verídicas, as imagens mostram os horrores de que o grupo é capaz.

Quem já reagiu foi a mãe de Foley, um jornalista que trabalhava há cinco anos a cobrir conflitos no Médio Oriente e Norte de África (chegou a ser feito refém durante a guerra na Líbia). “Nunca estivemos mais orgulhosos do nosso filho Jim. Ele deu a vida a tentar mostrar ao mundo o sofrimento do povo sírio”, escreveu Diane Foley no Facebook, onde deixa ainda um apelo aos sequestradores do filho para que poupem a vida de outros reféns. “Esles não têm qualquer controlo sobre a política do Governo americano no Iraque, na Síria ou em qualquer outro lado.”

Certo é que a divulgação das imagens, a confirmar-se a sua veracidade, acrescenta um novo facto de pressão para Obama, numa altura em que pondera até que ponto levar a intervenção militar no Iraque – até agora limitada a ataques aéreos contra posições do EI que ameaçam o Curdistão ou populações em fuga.

Cameron interrompe férias
As imagens estão também a despertar reacções em vários países. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, interrompeu as férias e vai reunir-se com responsáveis do seu gabinete de segurança para discutir “a situação no Iraque e a ameaça que os terroristas do EI representam”. Londres anunciou também que vai trabalhar em cooperação com os serviços secretos norte-americanos para identificar o combatente de sotaque britânico que surge nas imagens – o jornal Telegraph adianta que será usada tecnologia de reconhecimento de voz.

Ainda antes de ser conhecido este vídeo, o Presidente francês tinha proposto a realização de uma conferência internacional para debater uma resposta aos desenvolvimentos no Iraque e os riscos que os combatentes estrangeiros que se juntam aos radicais representam para os seus países de origem. “Não podemos continuar o debate tradicional, de intervenção ou não intervenção. Temos de definir uma estratégia global”, afirmou François Hollande, em entrevista ao jornal Le Monde.

A Síria, onde os jihadistas vindos do Iraque ganharam força e se armaram, é descrita como o país mais perigoso para os jornalistas. A Reuters adianta que pelo menos 69, entre sírios e estrangeiros, foram mortos desde 2011, e mais de 80 foram sequestrados. Por razões de segurança, muitos sequestros nunca são tornados públicos pelos países de origem dos repórteres, o que torna difícil uma contabilidade exacta. O Comité para a Protecção dos Jornalistas calcula que haja actualmente 20 jornalistas, tanto sírios como estrangeiros, dados como desaparecidos no país.

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