O belga que correu o mundo a pedir boleia está na Roulote

Burry Buermans é um jovem artista belga que viajou pelo mundo à boleia. Mas escolheu Portugal para viver e para desenvolver o seu trabalho com colagens

Butterskull é o nome da série que integra a instalação a preto e branco pensada para o Fusing
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Butterskull é o nome da série que integra a instalação a preto e branco pensada para o Fusing
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“Perseguir os sonhos". Este é o lema de vida de Burry Buermans. Foi assim que ele recuperou velhos carros Trabant, foi assim que começou uma companhia de teatro, foi por isso que andou pelo mundo à boleia e foi por isso que tornou artista. É um "homem realizado", mas à procura de novos objectivos. “Fiz tudo o que queria, agora tenho de perseguir novos sonhos”.

Burry deu início a uma viagem pelo mundo quando tinha ainda 23 anos. “Viajar à boleia é uma boa maneira de conhecer as pessoas e a sua cultura. Nunca sabemos o que pode acontecer, para onde vamos ou com quem vamos. É aventura pura”, conta ao P3. “Viajei à boleia porque quero perseguir os sonhos em todo o lado. Durante a viagem aprendi muito sobre formas de ver a vida e as pessoas”.

Não estudou arte, estudou educação, mas sempre experimentou diferentes formas artísticas. Percorreu um longo caminho à procura do seu próprio meio de expressão e estilo artístico, até que acidentalmente encontrou as colagens. "Tudo começou em 19 de Janeiro de 2012, quando um amigo me ligou para perguntar se eu o queria ajudar a fazer colagens para um livro que ele ia criar sobre os problemas de trânsito em Antuérpia. Fui ter com ele depois do trabalho para comermos juntos e naquela noite, a caminho de casa, tive um acidente e que acabei no hospital. Enquanto lá estava só conseguia pensar na colagem inacabada que ainda estava na minha mochila. Quando cheguei em casa, terminei imediatamente o que tinha começado e desde aquele momento não consegui parar”.

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A Roulote vai integrar a programação do Fusing, na Figueira da Foz

No Verão de 2012 mudou-se para Portugal para cumprir o seu sonho, para se concentrar na sua namorada, que é portuguesa, no seu filho e no seu trabalho como artista.

A pesquisa começa na Ladra

Nostalgia, autenticidade e contraste entre conteúdo e forma são a essência na obra artística de Burry Buermans. O artista é fascinado por livros antigos e revistas, cujos desenhos originais e imagens o inspiram. Podem encontrá-lo todas as semanas na Feira da Ladra, onde vai à procura de livros velhos para cortar as ilustrações e reorganizá-las em formas icónicas. As colagens são feitas com imagens originais de livros, revistas e jornais datadas de 1874 até ao presente. Todas as imagens são cortadas à mão, sendo depois agrupadas com detalhe. Gosta de se definir a si mesmo como “happily wicked”.

Burry desmistifica todo o processo que está subjacente no seu trabalho. “O meu trabalho tem quatro fases. Na primeira procuro as imagens certas e para cada trabalho (estou há mais de um ano à procura de um livro que ainda não encontrei...). Na segunda fase, corto as imagens com x-actos diferentes e tesouras. Na terceira fase, selecciono as imagens e construo a colagem. Por fim, na quarta fase, corto a colagem na forma final”.

Com o objectivo de roubar a atenção e o olhar das pessoas, Buermans trabalha quase sempre com formas atractivas, que despertam a curiosidade do observador para os detalhes. O artista escolhe deliberadamente formas reconhecíveis que imediatamente evocam emoções e pensamentos no espectador. O olho do observador é primeiro levado para a forma da colagem e, em seguida, para o conteúdo, feito de imagens detalhadas que estão, muitas vezes, em claro contraste com essa forma. Buermans utiliza muito o detalhe nas suas obras, que funciona como um convite ao espectador a encontrar histórias escondidas em cada criação. A quantidade de combinações possíveis entre forma e conteúdo é infinita e é isso que atrai o artista. “Cada obra tem a sua própria história” afirma.

Um crânio com borboletas

Buermans foi o artista convidado para a quarta exposição da Roulote, que já partiu de Lisboa a caminho da Figueira da Foz, para integrar a programação do festival Fusing Culture Experience, entre os dias 14 e 16 de Agosto. “Quando me convidaram a fazer algo para a Roulote, fiz algo em grande escala e a preto e branco”, explica. ”Como o Fusing é um festival cheio de jovens, achei importante que a exposição fosse interactiva, que as pessoas entrassem e deixassem também elas, a sua marca”, prossegue.

Burry criou na Roulote uma instalação onde todos os visitantes são convidados a pegar num marcador e colorir e uma exposição em miniatura. A instalação consiste numa colagem a preto e branco que integra a sua série "Butterskull”. Para o artista, este trabalho "é sobre a vida e a morte e a beleza que existe em tudo". "Sinto-me confortável com a morte, para muitas pessoas a morte é algo mau, mas para mim é igual ao nascimento. Daí a existência de um crânio, mas construído com borboletas, que são o sinal de vida”. A exposição é composta por fotografias pequenas de algumas produções do artista, que só podem ser visualizadas através de uma lupa. “Muitas vezes as pessoas entram, mas não percebem a mensagem porque não prestam atenção aos detalhes”.

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