Do rural ao urbano, arquitectura açoriana com história

Três arquitectos pegaram num moinho, num cafuão e numa estufa de ananases e deram-lhes uma nova vida. O resultado da residência "Redesign Tradition, Play Architecture" já pode ser testado

Foto
Brincar num moinho Rui Doares/Walk&Talk

Nas Portas do Mar, em Ponta Delgada, um pequeno moinho serve de diversão para crianças que por ali brincam. Não muito longe, na Piscina do Pesqueiro, uma estrutura branca que imita uma estufa de ananases transforma-se em equipamento balnear, para se apanhar banhos de sol numa espreguiçadeira com rede de pesca. Por ali, a florista da Matriz exibe um cafuão (que já serviu para secar milho) repleto de flores.

Um conjunto de estruturas rurais inspirado em aspectos da ilha de São Miguel foram modernizadas pelos arquitectos do Mezzo Atelier e do Argot ou la maison mobile que propuseram ao Walk&Talk trazer a São Miguel construções que já faziam parte da ilha, mas que caíram em desuso.

O ponto de partida para a residência "Redesign Tradition, Play Architecture" foi o imaginário infantil da açoriana Joana Oliveira (responsável pelo Laboratório de Arquitetura, juntamente com Luca Astorri e Giacomo Mezzadri), que saiu de São Miguel há mais de dez anos, mas mantém uma forte ligação com os Açores, e por isso não esquece as estruturas que outrora eram a base da economia de muitas famílias.

Foto
Vender flores num cafuão Rui Doares/Walk&Talk

"As três estruturas em madeira partiram de um worshop de auto-construção depois da nossa pesquisa sobre a arquitectura vernacular açoriana", sublinha Joana. O projecto passou por descontextualizar tais estruturas rurais, tornando-as funcionais no meio urbano e suscitando curiosidade nos mais novos, que não conhecem a original função daquelas estruturas, e nos mais velhos, que se mostram curiosos acerca da sua readaptação. “Não queremos dispersar muito, porque é interessante criar uma paisagem com todas as estruturas, mostrando que há uma relação entre elas”, explicou ao P3 Joana, que se mostra aberta a novos projectos, fazendo por manter a arquitectura cada vez mais presente no festival de arte urbana "mais aberto a outras áreas".

Foto
Relaxar numa estufa de ananases Rui Doares/Walk&Talk

"Queremos deixar a Ponta Delgada algo físico que possa ser utilizado, algo que possa ser apropriado mais tarde pela comunidade... porque nós não pintamos", junta Giacomo. A ideia, segundo Luca Astorri, foi "oferecer à cidade e aos habitantes um equipamento urbano em concreto e não uma instalação cenográfica que durasse duas semanas".

Sugerir correcção
Comentar