Apenas a guerra separou Marjorie e Clifford, a morte só os separou por 14 horas

Após casamento de 76 anos, o inglês morre aos 101 anos. Ela morre de "coração partido" horas depois.

Marjorie e Clifford ainda jovens
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Marjorie e Clifford ainda jovens BPM/The Telegraph
O casal no diz em que celebraram 70 anos de casados
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O casal no diz em que celebraram 70 anos de casados The Coventry Telegraph

“Até que a morte nos separe”. A jura de amor trocada no dia do casamento, em 1938, foi para toda a vida para Marjorie e Clifford Hartland. A morte separou-os apenas por 14 horas. Após 76 anos de vida juntos, Clifford morreu numa cama de hospital. Marjorie respirava pela última vez em casa. Horas antes repetia à filha pelo telefone: “Não consigo viver sem ele”. Os médicos dizem que morreu de desgosto.

A história do casal Hartland começa na década de 1930. Apaixonaram-se na primeira vez que se viram e acabaram por casar. Viveram praticamente toda a sua vida em Wyken, na cidade inglesa de Coventry, e em 1946 nasceu a sua única filha, Christine.

Entre o dia em que se conheceram até ao nascimento de Christine, a vida de Marjorie e Clifford dava um autêntico filme. Três anos depois se casarem, Clifford, que até então era mecânico, foi destacado para Singapura, em plena II Guerra Mundial.

Em 1942, o seu regimento de 700 homens acabou por ficar à mercê das tropas japonesas e Clifford e os seus colegas de armas foram torturados, passaram fome e foram submetidos a trabalhos forçados, tendo contribuído para a construção da linha ferroviária de Burma, antiga Birmânia, onde se estima terem morrido mais de 13 mil pessoas.

O inglês foi um dos únicos quatro homens do seu regimento que sobreviveram. Clifford contou mais tarde que tinha estado em 15 campos de prisioneiros diferentes e que chegou mesmo a escavar a sua própria sepultura. O terrível episódio aconteceu um dia antes da libertação dos presos. Clifford estava finalmente livre e podia voltar para casa. Em 1945, regressava a Inglaterra muito fragilizado e durante algum tempo esteve hospitalizado.

Durante os quatro anos de ausência do marido, Marjorie aguardou por notícias suas. As cartas que habitualmente trocavam deixaram de chegar e a família temia o pior. Mas Marjorie recusou-se a aceitar a morte do marido, mesmo quando o Exército lhe atribuiu uma pensão de viuvez, que rejeitou. Com o marido dado como morto, a jovem começou a trabalhar numa fábrica de pára-quedas. A filha Christine diz ao The Telegraph que a mãe rezava todos os dias na igreja antes de ir trabalhar para ter o marido de volta. “Ela viveu sem ele durante quatro anos, mas nunca acreditou que estava morto”.

Clifford voltou para casa e um ano depois nascia a sua filha. Nos anos que se seguiram e até à reforma, trabalhou como responsável numa fábrica de motores.

No dia 29 de Julho último, dia em que o casal Hartland comemorava 76 anos de casamento, Clifford morreu, aos 101 anos, num casa de repouso em Coventry. Horas antes, Marjorie, agora com 97 anos, tinha tido alta do hospital onde recebeu tratamento a uma perna partida. Cerca de 14 horas depois de ter sabido que o marido tinha morrido, Marjorie morria também em sua casa. A sua história só é conhecida agora.

Momentos antes tinha falado com a filha ao telefone. “Não consigo viver sem ele”, repetiu a Christine. “É uma história de amor perfeita. Estou devastada por terem morrido mas muito feliz por eles – nunca tiveram na realidade que viver um sem o outro”, diz a filha dos Hartland, que recorda que os pais “nunca discutiram” durante o seu “incrível casamento”. “O meu pai idolatrava a minha mãe, e ela adorava-o”.

Os paramédicos disseram que Marjorie morreu de ataque cardíaco, “literalmente de coração partido”, sublinha Christine ao The Telegraph.

A família do casal arranjou uma forma de Clifford e Marjorie terem um funeral conjunto. A cerimónia realiza-se esta terça-feira.

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