Não, nem sempre conseguem

Obama é o presidente dos EUA que mais se demarcou das relações com o Estado de Israel da história mais recente

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Jason Reed/Reuters

Desde a sua chegada à Casa Branca que Barack Obama marca um novo passo para a política externa dos EUA. O primeiro objectivo foi distanciar-se da linha neoconservadora e geoestratégica de G.W. Bush (guerras, crise económica, unilateralismo, imposição imperial), defendendo o diálogo e a tolerância – uma espécie de retracção herdada pelo pensamento da esquerda intelectual americana – e, para todos os efeitos, tal atitude significa menos participação nas relações internacionais. Desta forma, quando verificamos a ascensão de uma destemida Rússia, sob a égide de Putin, temos que entender qual a posição diplomática e geoestratégica do actual presidente dos EUA.

1. Uma das principais cartadas eleitorais de Obama, na política externa, cingiu-se à retirada das tropas americanas no Iraque e a um controlo sustentável da situação Afegã. No Iraque, apesar de ter sido feita a despedida, a instabilidade governativa e as novas investidas terroristas neste território deixam muito a desejar. Por outro lado, no Afeganistão houve a duplicação de mais tropas (sendo, assim, adoptada a táctica “contra-terrorista”). Como consequência, no Iraque surge a instabilidade e no Afeganistão uma guerra sem fim.

2. A “Primavera Árabe” rebenta e apanha os EUA de surpresa. A primeira foi a “revolução verde iraniana”, na qual a oposição ao regime iraniano manifestou o seu desagrado relativamente às eleições de Junho de 2009. Obama e H. Clinton assobiaram para o lado, talvez pensassem que tal acção fizesse com que os iranianos acelerassem as negociações nucleares. Na verdade, ficou algo a dever aos americanos, dado que só as sanções económicas acabaram por acalmar os ânimos do Irão.

3. O vírus primaveril expandiu-se a partir do Irão até à Tunísia, ao de leve, passando, com grande intensidade, para o Egipto (Mubarak foi obrigado a retirar-se, com ele fugiu, também, a estabilidade). O rasto seguiu para a Líbia. Muammar al-Gaddafi foi contestado pela Liga Árabe, mas também pelas principais potências europeias. O líder dos EUA é, desta maneira, “obrigado” a agir, timidamente, com alguma presença aérea militar. O fim de al-Gaddafi era igual ao de Mussolini. O contágio alastrar-se-ia ainda até ao Yemen – Saleh, o presidente e aliado dos EUA contra a Al-Qaeda, é forçado a abandonar o seu posto – e, por fim, à Síria. Neste caso particular, ganhou a Rússia, tendo em conta que a diplomacia americana perdeu o xadrez sírio com Putin. As “primaveras” significaram que a tolerância da nova política externa americana era intolerável.

4. Obama é o presidente dos EUA que mais se demarcou das relações com o Estado de Israel da história mais recente. Neste âmbito, com uma maior intervenção do mesmo no conflito entre Israel e a Autoridade Palestiniana, provavelmente, evitar-se-ia o massacre a que já nos habituámos, de forma inconsciente e filtrada, a tomar como habitual.

5. Tal fragilidade norte-americana foi aproveitada pelos russos – é verdade que o “reset”, bem patente no “New START”, foi bem-intencionado, no entanto pouco eficaz. Como resultado da extravagante posição imperial de Putin no leste europeu, os líderes da UE em conjunto com Obama aplicaram, obrigatoriamente, um novo pacote de sanções à Rússia. Todavia, algumas figuras (como Serguei Ryabukhin) afirmaram mesmo que tais sanções permitiram à Rússia apostar nas potencialidades internas. Pode muito bem ter começado uma nova “Guerra Fria”, mas, de facto, tudo está muito quente ainda.

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