Quantas vidas sobram à Nintendo?

As vendas da Wii U triplicaram no segundo trimestre. Mas a empresa continua com as contas no vermelho.

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Até Junho deste ano, tinham sido vendidas 6,7 milhões de Wii U REUTERS/Phil McCarten/

Está longe de ser “game over”, mas é caso para dizer que a Nintendo está com dificuldades em passar este nível. A gigante nipónica dos videojogos tem vindo a somar maus resultados financeiros, em parte causados pelo falhanço da consola doméstica Wii U, que desde o lançamento, em finais de 2012, tem vendas muito abaixo das expectativas da empresa.

Até Junho deste ano, tinham sido vendidas 6,7 milhões de  Wii U, uma consola que trouxe como uma das grandes novidades um ecrã integrado no comando, permitindo aos criadores de jogos desenvolver novas mecânicas. A esperança era repetir o sucesso da Wii, que inaugurou a era dos jogos controlados por gestos e que se revelou popular, não só pela novidade tecnológica, mas também pelo preço, abaixo da concorrência e apelativo para os jogadores mais casuais.

O desempenho da Wii original, lançada no final de 2006, e o da sucessora são incomparáveis: apenas quatro meses após a estreia da primeira Wii, tinham sido vendidos 5,8 milhões de unidades. Até agora, já foram vendidos 101 milhões.

Foi em 2011 que a Nintendo apresentou prejuízos operacionais pela primeira vez e, desde aí, nunca mais conseguiu regressar a terreno positivo. As últimas contas trimestrais, comunicadas no final do mês passado sem a habitual conferência de comentário aos resultados, revelaram um prejuízo de 9470 milhões de ienes (cerca de 69 milhões de euros), quase o dobro do mesmo trimestre de 2013. As vendas recuaram 8%, para 75 mil milhões de ienes (542 milhões de euros).

Ajudada pela popularidade de jogos recentes, a Wii U conseguiu um bom desempenho no segundo trimestre, por comparação com o período homólogo. As vendas de consolas mais do que triplicaram, atingindo as 510 mil unidades, e as de jogos quadruplicaram, para 439 mil títulos. Mas as consolas portáteis da família 3DS caíram 42%, para as 820 mil unidades, com a venda de jogos a descer 22%.

De acordo com a empresa de análise de mercado Statista, o mercado de vendas de consolas está relativamente equilibrado: a Nintendo tinha em Março uma fatia em torno dos 35% de vendas, a Sony tinha 40% e a Microsoft (que não tem consolas portáteis), cerca de 25%.

Globalmente, as consolas enfrentam uma concorrência cada vez maior dos jogos para smartphones e tablets, que aliciam sobretudo quem quer gastar menos tempo e dinheiro neste género de entretenimento. De acordo com a Gartner, estes jogos deverão em 2014 representar 17% de um mercado avaliado em 75 mil milhões de euros. As consolas terão 53%, muito abaixo dos 73% do ano passado.

A porta chinesa
No início do ano, contudo, abriu-se uma nova oportunidade para as consolas. A China – um mercado cobiçado por toda a indústria de electrónica de consumo –  anunciou a suspensão de uma proibição de venda de consolas, que vigorava há 14 anos e tinha sido justificada com efeitos adversos na saúde mental dos jovens. Ainda assim, os fabricantes estão sujeitos a regras apertadas: os jogos não poderão incluir conteúdos considerados obscenos ou violentos pelas autoridades, e os aparelhos terão de ser produzidos na zona de comércio livre de Xangai.

A Nintendo optou por uma estratégia diferente das rivais, que começaram agora a comercializar as respectivas consolas naquele mercado, e anunciou, em Maio, planos para fabricar equipamentos de baixo custo com o objectivo de chegar à crescente classe média chinesa.

O mercado de videojogos chinês totalizou no ano passado 11 mil milhões de euros, mas as consolas terão de conseguir conquistar consumidores que cresceram sem uma PlayStation, Xbox ou Wii e onde os jogos gratuitos para PC e os jogos para dispositivos móveis são a regra.

Portugal acompanha a tendência global
Para o mercado português, e como é habitual, a Nintendo não divulga dados. “O desempenho da Nintendo em Portugal tem acompanhado a tendência global” da empresa, refere Nelson Calvinho, gestor de produto da marca. “A Wii U acompanha também a tendência mundial. Depois de um início marcado pela falta de oferta de software (que se reflectiu nas vendas de hardware), este ano a tendência é bastante positiva”, acrescenta. O responsável diz contar que o lançamento de novos jogos no segundo semestre venham ajudar a impulsionar as vendas.

Nelson Calvinho observa ainda que o mercado português dos videojogos se tem “naturalmente ressentido da forte contracção do consumo, que coincidiu com uma mudança de gerações de consolas”.

O mercado português de videojogos encolheu no ano passado e o segmento das consolas não foi excepção. Exceptuando as vendas digitais, o sector teve receitas em torno dos 100 milhões de euros, segundo a empresa de análise de mercado GfK. Aquele valor fica 16% abaixo do registado no ano anterior.

Já o mercado de consolas encolheu 18%, para 34 milhões de euros, embora as consolas domésticas – que incluem a oitava geração, bem como modelos mais antigos que permanecem à venda –  tenham tido um deslize de apenas 2%, para 24 milhões de euros. Os acessórios tiveram uma quebra de 10%, para 11,5 milhões.

A venda de jogos caiu 15%, naquele que foi o pior desempenho na Europa ocidental. Em Espanha, por exemplo, a quebra foi de apenas 5%. Os mercados que mais se aproximaram do português foram a Itália e o Benelux, ambos com um decréscimo de 13%.

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