Um festival entre o artesanato e a alta costura

Vime e escamas de peixe. Um cardume de artistas e muitas paredes. No meio do Atlântico, um festival não se importa de fazer figuras de urso. E ao quarto ano, o Walk&Talk saiu da gaveta da arte urbana...

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A ilha de São Miguel tem arte mesmo onde não há "Walk&Talk" Paulo Pimenta
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Diana Sousa e Jesse James são a alma do festival Paulo Pimenta
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CUDDLY, da polaca, Iza Rutkowska, relaxou em Ponta Delgada Paulo Pimenta
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Ursus arctos barbeiticos largou 540 bolas de pelo Paulo Pimenta
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Vista sobre o arvoredo, de Jorge Santos, reflecte muito deste festival Paulo Pimenta
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Miguel Flor, o curador da residência de artesanato urbano Paulo Pimenta
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Obie Platon deixou nos Açores a sua parede mais longa Paulo Pimenta
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Uma das paredes com mais história foi ocupada por Hyuro Paulo Pimenta
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Fidel Évora deixou uma homenagem em forma de barco afundado Paulo Pimenta
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Fidel Évora contou a "história de uma travessia" de emigrantes ilegais Paulo Pimenta
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Espírito da Floresta, da espanhola Labuenaylamala, está suspenso no Jardim António Borges Paulo Pimenta
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Espírito da Floresta ainda em construção no espaço "caótico" da Galeria Paulo Pimenta
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Mariana, a miserável nunca tinha mergulhado numa parede Paulo Pimenta
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A ordem e progresso de Marlon de Azambuja Paulo Pimenta
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A peça de Christos Voutichtis que inundou uma sala da Galeria Paulo Pimenta
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João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira criaram um "Retiro", a sala de estar do festival Paulo Pimenta
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Marlon de Azambuja organizou à sua maneira uma fábrica abandonada Paulo Pimenta
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Gabriel Specter pintou uma casa e foi "adoptado" pela família que lá mora Paulo Pimenta
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A insularidade de São Miguel "não é criativa" Paulo Pimenta

João Andrade, 62 anos, está sentado no chão, num canto da Galeria — que é tudo mais uma galeria. Nasceu descalço e assim se apresenta, com um entrelaçado de vime preso entre os dedos dos pés e as mãos atarefadas com mil tranças. É a sua posição desde “7 de Outubro de 1963, dia do exame da quarta classe”. “O padre convidava na igreja quem quisesse entrar para a indústria... fui com 11 anos.” E o processo mecânico repetiu-se durante mais de meio século até o artesão ter sido novamente tentado — uma tentação chamada Walk&Talk. “Estou a unir quatro qualidades de cestas para transformar a peça num lustre. O meu avô dizia ‘até morrer a gente aprende’...”

Acabámos de chegar ao coração de Ponta Delgada, à famosa Galeria Walk&Talk, nave-mãe do festival açoriano que evoluiu da arte urbana para a arte pública, um espaço amplo com  sinais de já ter sido stand de automóveis e onde agora é conduzida, polida, alinhada e exibida criatividade. “Somos fascinados por processos criativos”, explica ao Ípsilon Jesse James, que há quatro anos semeou o festival de arte pública Walk&Talk com Diana Sousa e agora está concentrado em “deixar as pessoas entrar”, em “criar massa crítica”. É por isso que João Andrade está sentado no chão de um armazém que parece um atelier de mil artistas (com máquinas de costura, pilhas de vime, a mulher de capote pintada de rosa-choque, sacos e sacos de escamas...). É por isso que a zona de refeições é aberta ao público. É por isso que os miúdos da Associação Alternativa, de apoio a toxicodependentes, entraram e perguntaram se podiam ajudar João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira a montarem o Retiro, o “bólide” do stand (criou-se uma cumplicidade e os artistas decidiram ir limpar as praias com os putos na semana seguinte). É por isso que este é o festival que “não esconde quando não há dinheiro” e faz “uma festa quando o dinheiro cai na conta”. É por isso que os artistas aceitam ir a Ponta Delgada sem receber nada a não ser liberdade total. É por isso que no primeiro fim-de-semana ninguém trabalha: os mais ou menos “forasteiros” comem cozido nas furnas, mergulham nas lagoas e voltam para Ponta Delgada com a sensação de pertencer à família Walk&Talk, que é mais do que uma lista interminável de nomes incríveis pintados nas paredes da ilha de São Miguel.

“É preciso que eles percebam o que é viver numa ilha”, diz Jesse a propósito da visita de Filipa Francisco à vila de Rabo de Peixe, onde a coreógrafa inventou um Cardume com o grupo de bailarinos 37.25 (que já tinha trabalhado com Victor Hugo Pontes e Marco da Silva Ferreira em A Ilha, no ano passado, quando a dança contemporânea ainda era uma espécie de alien em São Miguel). Filipa entrou na casa das pessoas, as senhoras partilharam histórias, trocaram-se retratos e improvisou-se nas ruas de uma comunidade que “sofre muito o estigma de ter ficado ali, de aparecer sempre nas notícias por ser o sítio mais pobre da Europa”. Filipa Francisco quis celebrar essa comunidade. Assim como Alexandre Farto, aliás Vhils, um dos embaixadores do festival, que os locais alimentaram para lhe agradecer por lhes ter embelezado a sua “casa”. Assim como o norte-americano Mark Jenkins, que em 2012 não dizia uma palavra de português e disse que as pessoas de Rabo de Peixe “falam como o mar” quando prolongam o final das frases como o ir e o voltar das ondas. “Isso é que é mágico. Pessoas de fora que olham para a ilha de outra forma. Natália Correia e Vitorino Nemésio já diziam que nos compreendemos melhor enquanto ilhéus quando saímos. Fisicamente, mas também conceptualmente, mesmo que através de outras pessoas.”

É um facto. Está gravado nas paredes. O museu de street art já existe. Esse foi o objectivo do primeiro ciclo de três anos do Walk&Talk. A edição de 2014 marcou o segundo ciclo. “Já podes brincar mais, ou ser mais sério”, diz Jesse, 26 anos, calções e “mangas arregaçadas” do início da manhã ao final da noite (Diana, 28 anos, é omnipresente, uma enciclopédia de nomes “forasteiros”, de murais brutais; tem uma agenda mais preenchida do que Banksy na sua última visita a Nova Iorque). O Walk&Talk nunca existiu “para ficar bonito”, nem para exportar — mesmo que fosse para a ilha do vizinho do lado. Aconteceu para “quebrar barreiras de medo”. Durante três anos, Jesse e Diana, e uma trupe de voluntários que cresce à velocidade da luz, foram riscando objectivos. Levar a arte para o espaço público? Check. Conseguir a validação da comunidade? Check (ai de quem vandalizar a minha parede!). Criar linguagem artística nas pessoas? Checking. “Fazer street art é rápido”, assume Jesse. “Mas no primeiro ano deixámos 20 peças que têm um período de interpretação de vários anos. Cada pessoa tem o seu processo de relação com a obra. Ouvia-se ‘gosto daquela, não gosto daquela, detesto aquela cor’. O curioso é que no espaço de três anos já ouves ‘eu gosto muito da composição’ ou ‘em termos cromáticos faz mais sentido’ ou ‘conceptualmente gosto mais daquela’. Queremos gerar uma discussão artística e está a acontecer.”

É por isso que ao fim do dia a Galeria se transforma num grande sofá. As conversas (art talks) servem para entendermos o puzzle açoriano construído por João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira, para interpretarmos a Ordem e Progresso do brasileiro Marlon de Azambuja (que tinha decidido não ir a mais festivais mas pegou numa fábrica em ruínas e deixou-a... em ruínas), para mergulharmos na palavra (e na imagem) “conceptual” com João Onofre, para vermos e tocarmos em Martha Cooper (sim, essa Martha Cooper), para ouvirmos Carlos Martins, que foi director executivo de Guimarães 2012, juntar na mesma frase “Walk&Talk” e “Capital Europeia da Cultura” — 2017, quem sabe? É por isso que cada artista é um embaixador e se relaciona com as pessoas que trepam aos andaimes, trazem comida, ajudam a pintar e sentem a peça como sua. Posso ajudar o Christos Voutichtis a montar aquilo? Posso ir ter com a Mariana, a miserável à praia para mergulhar com ela numa parede? Posso ver-me ao espelho com o Jorge Santos?

Sair da gaveta

Tirar o Walk&Talk da “gavetinha” da arte urbana? Check. “Se nos fecharmos nessa gavetinha será a morte do Walk&Talk.” Aos poucos, o Walk&Talk entrou na cabeça das pessoas. Jesse chama-lhe “criação de memória”. “Há muito mais do que a arte mural.” São as artes performativas e uma série de habilidades que invadem a ilha e criam uma relação afectiva e efectiva com a comunidade. São vivências e relações intensas entre artista e público. 

Chamem-lhe o que bem entenderem. A polaca Iza Rutkowska ocupou espaços com um boneco/pufe tamanho XXXL. O madeirense Ricardo Barbeito vestiu-se e fez “figura de urso” (Ursus arctos barbeiticos), deambulou pela paisagem urbana, onde espalhou 540 bolas de pêlo (cabelo recolhido em cabeleireiros de Ponta Delgada). A brasileira Fernanda Eugénio inventou um “disparador para trajectos inusitados”. A performance Cidade Oráculo, criada originalmente para o Rio de Janeiro, obriga as pessoas a “experienciarem um trajecto que habitualmente não fariam”. É um mapa invisível para lugares mais (uma loja chinesa) ou menos (o banco onde Antero de Quental se suicidou) banais. “Os participantes trazem perguntas que gostariam de fazer a um oráculo, mas vão caminhar com a pergunta de outra pessoa e recebem um lugar para visitar na companhia da sua nova pergunta e um conjunto de acções urbanas”, explica Fernanda Eugénio, que encontrou “uma cidade com bastantes intervalos de emissão de discurso”. Ponta Delgada “não está sempre a bombardear as pessoas”: “Apela a uma pausa, à contemplação.” “Aqui, achamos que ninguém nos vê, mas muitas pessoas estão atentas e sabem precisamente onde estamos. Temos várias testemunhas”, acrescenta Gustavo Ciríaco, que circula silenciosamente por Ponta Delgada com um grupo circunscrito por um elástico à altura da cinta (é a performance Aqui enquanto caminhamos, que já passou por mais de 30 cidades de todo o mundo). “O elástico ganha as formas das ruas por onde o grupo passa, afunila, agrupa-se, alonga-se mediante a atenção de cada um perante um detalhe da cidade. Quando alguém pára, o grupo sente. Como não é permitido falar, estamos mais atentos. A cidade torna-se assunto. Somos um grande binóculo”, diz o artista, que em poucos dias traçou um retrato-robô da localidade. “Não é uma cidade moderna, com avenidas longas onde à distância vemos por onde vamos. Aqui temos surpresas. Quem nos observa, pergunta ‘quem são eles?’, ‘são loucos?’, são ‘turistas holandeses?’. E há quem entre no elástico.”

As pessoas, reflecte Fernanda “estão ávidas”. “Basta abordá-las. Isto é um espaço criativo em potência.” O Walk&Talk, na opinião de Gustavo, “exercita pessoas que não estão, como em Londres, habituadas a excentricidades”, pessoas que, como descreve Ricardo Barbeito, se sentem desconcertadas quando vêem um urso, uma “criatura solitária, esquiva e que só se dá com outros na época do acasalamento”.

Em Ponta Delgada, essa época não dura apenas os 15 dias do festival. O modelo de residências artísticas, por exemplo, está muito mais presente do que nas edições anteriores. “Consegues trazer mais pessoas para a estrutura do festival e de uma forma mais efectiva. Porque elas saltam desses projectos para outros, transformam-se em voluntários e até eventualmente em artistas”, explica Jesse James, que apostou num quarteto de residências: a cada vez menos extraterrestre dança contemporânea (Filipa Francisco + 37.25 Núcleo de Artes Performativas), o sobrenatural artesanato urbano (coordenado por Miguel Flor), o quase familiar laboratório de arquitectura (Joana Oliveira e Giacomo Mezzadri, do Mezzo Atelier, e Luca Astorri, do Argot ou la maison mobile, pegaram na arquitectura vernacular açoriana e construíram equipamento urbano transformando um cafuão de milho numa estrutura de apoio a uma florista, uma estufa de ananases numa zona de estar para banhistas e um moinho de vento numa espécie de parque infantil) e a poesia na rua (Richard Simas e Nisa Remígio). “Eles ficam cá mais tempo. É preciso tempo. Isto distingue-nos dos outros festivais chega-faz-e-vai-embora. O processo é mais calmo e mais honesto. Deixa uma memória que fica. Se não houver a validação da comunidade, isto tanto podia acontecer aqui como noutro sítio qualquer.”

“Isto” é o verdadeiro Walk&Talk. E “isto” acontece na Ilha de São Miguel, a mesma “das vacas, das cascatas e dos vulcões”, como refere o New York Times, assinalando um festival que está a transformar-se num núcleo “avant-garde”; um “bálsamo”, como escreveu há dias o jornalista do espanhol ABC “desde um ponto perdido no meio do Atlântico”. Basta ver o brilho nos olhos de Martha Cooper, a fotojornalista com a maior colecção de registos de arte de rua do mundo, quando fala das suas primeiras horas a bordo desta aventura. “A combinação de street art e da vida do quotidiano é incrível, é rara”, diz ao Ípsilon ao ritmo a que avança fotografias no LCD da sua máquina. “Não consigo falar sem as fotografias”, sorri Martha, que nasceu nos anos 40, começou a fotografar graffiti aos 15 anos, inspirou Os Gémeos no mundo dos muros (Otávio e Gustavo Pandolfo começaram a pintar depois de terem absorvido o seu livro Subway Art, de 1984, que pediram à mãe para ir traduzindo) e tem quase 100 mil seguidores no Instagram, onde tem revelado a sua paixão por São Miguel. “Rabo de Peixe... esta rua... as cores das casas, as pessoas encostadas às paredes, as bicicletas e a roupa a secar nos estendais... tanta vida e um Vhils!”, registou — no mesmo sítio que Filipa Francisco comparou a uma cena de Fellini. “O que eu mais gosto é de ter tirado boas fotografias”, confessa Martha, que prefere “mil vezes” fotografar peças inacabadas com o artista em acção do que ter no cartão de memória o produto final que milhares de pessoas vão fixar no futuro.

Escamas haute couture

O processo pedagógico do Walk&Talk é, segundo José Manuel Bolieiro, “uma forma de mudar mentalidades e de combater o conservadorismo e a inércia”. “A criatividade e a estética dão um impulso a uma cidade tipicamente entre o branco, a pedra cinzenta e a neblina, que não estava habituada a esta irreverência”, confessa ao Ípsilon o presidente da câmara de Ponta Delgada, “cúmplice” assumido de licenciamentos, parcerias e autorizações. “Travar, jamais”, regista. “É o reconhecimento de um terreno que não estava explorado. Existiam reservas iniciais por parte dos privados e até dos dirigentes dos serviços que procuravam disfarçar que desconheciam a arte. Agora há acolhimento afectivo por parte das populações, peças de arte que nos trazem vantagens competitivas enquanto destino turístico (e que disfarçam até alguns pontos negros urbanísticos, algum património degradado da cidade e da ilha)”, diz.

Por estes dias, Fátima Andrade, prima “bem chegada” de João, parece viver na Galeria, o espaço camaleónico que é um resumo do que se passa lá fora, nos pontos da ilha que se vão acotovelando como formigas trabalhadoras no site do evento. 2011, 2012, 2013, 2014... Fátima é “especialista” em bordado “mais simples e mais complicado”, registo do Santo Cristo, bandeiras do espírito santo, estanho, escamas, flores de cetim, sabonete, papel quilling, corte e costura, patchwork, cartonagem, folha de milho, mas sente-se “cansada de fazer sempre a mesma coisa”. “Isto chama a atenção.” O “novo visual” do artesanato açoriano tem o dedo de Miguel Flor, estilista, director artístico da plataforma Bloom no Portugal Fashion e coordenador de um cruzamento entre designers e artesãos. “Conhecia o vime, mas fiquei espantado com as linhas e a cor do ponto matiz, o azul Yves Klein, que continuo a usar muito em colecções, e com a escama de peixe, que na minha ideia é raspado dos robalos para deitar fora (risos). Aqui são escamas grandes de veja, um peixe saboroso. Quando pensas em escamas, pensas em algo muito frágil, mas são extremamente resistentes. Normalmente utilizam-nas na decoração dos retratos do Santo Cristo.” A ideia “nada fulminante” (“o artesanato é riquíssimo”) de Miguel Flor foi apresentar os designers aos materiais e aos artesãos polivalentes (“Jamais conseguirei estar com os pés ao alto a entrelaçar vime como o senhor Andrade”), procurando uma linha conceptual, mas ao mesmo tempo comercial. “Algo empreendedor, algo que possa ser reproduzido. Porque não podemos deixar morrer o artesanato. E a única forma é criar coisas que possam ser compradas, produtos apetecíveis.” Deste cruzamento surgiram um lustre (Rui Freitas), carteiras em escamas de peixe tingida (Simone Ponte), mochilas (Carolina Brito), sacos de linho (Mafalda Fernandes) e lenços folclóricos (Lina Tavares Raposo) com pássaros estilizados por Carolina Brito.

“E eu, no meio disto tudo, fiquei a babar-me. ‘Tenho de fazer qualquer coisa, tenho de fazer qualquer coisa...’ Algo que possa ser exportado de outra forma.” Miguel, um apaixonado por ilhas que nunca tinha estado nos Açores, é dos primeiros a chegar à Galeria — quase sempre de bicicleta. A sua missão? Possível. “A Maison Martin Margiela, onde trabalhei há dez anos nas colecções de alta costura, faz umas máscaras bordadas a lantejoulas, a flores, extremamente bonitas, que caem nas páginas das revistas de moda de todo o mundo. Lembrei-me de fazer umas máscaras iguais para lhes enviar. Será um teaser. Pode ser que eles gostem tanto do material que queiram replicá-las ou que queiram cá vir espreitar. Este artesanato merece estar em montras.”

O Walk&Talk “não nos deixa quietos”, resume Miguel Flor — que neste momento ainda deve estar perdido pela ilha. “Aquilo que pensava que me ia chatear, que é estar na praia e chover, até acho piada. ‘Está a queimar’, como se diz por cá, e depois vem o nevoeiro e vestes a camisola... e este tira-e-põe, o arco-íris na praia, as estações que se misturam e que te confundem as ideias... dão charme à ilha. Está sempre calor, estás sempre de calções e é essa liberdade que tu queres.”

Está “tudo por definir”, arrisca Jesse James. E “essa é a magia do Walk&Talk”. Na retina de Martha Cooper, com o passaporte mais preenchido de todos os tempos, ficaram a calçada portuguesa (“só me pergunto quanto custará para levar para os Estados Unidos e colocar no chão da minha cozinha”) e os azulejos (“para mim, esta técnica era do Invader, em Paris”). “As ruas já são arte. Quem diria que havia tantos artistas no mundo?”. Lídia, 71 anos, uma das participantes no Lata 65, invenção de Lara Seixo Rodrigues, “não sabia ao certo o que ia fazer”, mas não se via a pintar paredes depois de uma vida no ensino básico (e meia a gravar cassetes para a tele-escola). “Como eles [o pessoal do Walk&Talk], também eu tive uma vida muito, muito preenchida.”

 

O Ípsilon viajou a convite do Walk&Talk

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