Locarno, entre a descoberta e a celebração

Linguagens e estilos diferentes, tributos e novidades para ver este ano no festival.

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Scarlett Johansson em "Lucy", de Luc Besson DR
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Uma das primeiras imagens divulgadas de "Cavalo Dinheiro", de Pedro Costa DR
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"Vénus de Vison" de Roman Polanski DR
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"Pão, Amor e Fantasia" de Luigi Comencini DR
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"Leopardo", de Luchino Visconti, vai passar em versão restaurada em Locarno dr

Há duas dimensões diferentes a trabalhar simultaneamente no festival de Locarno. De um lado, para citar João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, um festival “ousado” e “não alinhado”, que dá visibilidade ao cinema de autor mais radical, definido pelo director Carlo Chatrian como uma experiência de “liberdade formal e hibridização de linguagens”.

Isso vê-se numa competição oficial que não hesita em misturar linguagens e estilos muito diferentes, documentário e ficção, ensaio e experiência. Pedro Costa coexiste com o documentarista suíço Fernand Melgar, o “etno-cineasta” americano J. P. Sniadecki (oriundo do Laboratório de Etnografia de Harvard) cruza-se com o filipino Lav Diaz (cujo From What Is Before tem quase seis horas de projecção), o veterano francês Paul Vecchiali partilha espaço com o underground americano Alex Ross Perry. A selecção competitiva Cineastas do Presente abre espaço a primeiros e segundos filmes dos EUA e França mas também da Malásia, do Uruguai ou de Taiwan. E o prémio carreira é este ano entregue a um dos mais raros e influentes cineastas contemporâneos, o espanhol Victor Erice, autor de apenas três longas-metragens.

Esta dimensão de “descoberta”, mais radical e atenta, é completada por uma outra de “celebração”, mais popular e acessível, corporizada nas célebres sessões ao ar livre da Piazza Grande para 8000 espectadores. Foi neste verdadeiro cinema ao ar livre que decorreu, ontem, a abertura oficial com a exibição de Lucy, o thriller do francês Luc Besson com Scarlett Johansson no papel principal, depois de sessões “pré-festival” que mostraram Os Salteadores da Arca Perdida de Steven Spielberg ou Os 400 Golpes de François Truffaut. É lá também que vão ser mostrados As Praias de Agnès de Agnès Varda, Vénus de Vison de Roman Polanski e Sils Maria de Olivier Assayas com Juliette Binoche, todos homenageados na edição deste ano; ou a comédia A Viagem dos Cem Passos, de Lasse Hallström, com Helen Mirren; ou o esplendoroso restauro do Leopardo de Luchino Visconti.

O filme de Visconti está integrado na retrospectiva dedicada ao estúdio italiano Titanus, com a exibição de quase 50 filmes rodados entre 1922 e 1990 mas especialmente concentrada no período de ouro do cinema italiano no pós-II Guerra Mundial. Obras como Verão Escaldante de Valerio Zurlini, Duas Mulheres de Vittorio de Sica, O Pássaro das Plumas de Cristal de Dario Argento, Pão, Amor e Fantasia de Luigi Comencini, O Conto do Vigário de Federico Fellini, A Intrusa de Alberto Lattuada ou o filme colectivo Nós Mulheres com contribuições de Roberto Rossellini e Luchino Visconti vão ocupar em quase exclusividade o cinema Ex Rex. E Locarno não fecha inteiramente as portas ao glamour – entre os convidados presentes este ano estarão Melanie Griffith, Mia Farrow, Juliette Binoche, Roman Polanski ou Giancarlo Giannini.

Mas é na competição principal – que atribuiu o Leopardo de Ouro ao longo dos anos a nomes como Mike Leigh, Raul Ruiz, Jim Jarmusch, Claire Denis, Terence Davies ou Jafar Panahi e, nas últimas edições, Jean-Claude Brisseau e Albert Serra – que os holofotes vão estar assestados. E já há muitos a apostarem em Pedro Costa para vencer Locarno 2014. 

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