Hirstville, a urbanização à imagem de Damien Hirst que vai nascer em Inglaterra

Talvez o artista contemporâneo mais rico do mundo, Hirst já tem uma estátua polémica em Ilfracombe. A população está preocupada com os planos do autor de Verity e For the Love of God.

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Damien Hirst e For The Love of God REUTERS
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Hirstville, ou o projecto Southern Extension David Lock Associates
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Hirstville, ou o projecto Southern Extension David Lock Associates
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Verity, em Ilfracombe, Reino Unido Steve Russell © Damien Hirst and Science Ltd

Depois de uma estátua controversa que domina o horizonte do porto de Ilfracombe, no sul do Reino Unido, esta cidade inglesa vai agora ter uma urbanização com 750 casas, uma escola, centro de saúde, lojas, escritórios, campos de desporto. A polémica está instalada porque tudo isto – da estátua ao terreno e projecto de 756 m2 – é de Damien Hirst, um dos artistas mais ricos do mundo, senão mesmo o mais rico, que já conservou vacas e tubarões em formol e incrustou diamantes num crânio humano.

A luz verde a este projecto foi dada pelo presidente da câmara na passada quarta-feira. O terreno que vencedor do prémio Turner de 1995 comprou há dez anos por pouco mais de um milhão de euros é um lugar à beira-mar, florestado e por enquanto sem construção. O projecto está já apelidado de Hirst-on-Sea ou Hirstville e está a causar descontentamento em muitos residentes da cidade. O empreendimento que será ecológico, escreve a revista de arquitectura e design Designboom, irá pôr fim à área natural para dar origem a construção que se prevê que seja bastante cara e onde apenas 75 casas terão um custo médio. No total, espera-se que o projecto faça crescer a população de Ilfracombe em 20%, diz a mesma revista.

Hirst-on-Sea, cujo nome oficial é aliás Southern Extension, vai estar em construção nos próximos dez a 15 anos e a David Lock Associates está encarregue do design urbano. O arquitecto, Mike Rundell, disse em 2012 que Hirst tem “horror a edifícios anónimos, edifícios sem vida. Ele quer que estas casas sejam o tipo de casa onde ele iria querer viver”.

“A população [de Ilfracombe] precisa de crescer para se tornar sustentável. Haverá unidades industriais e lojas – esperamos que traga trabalho para a cidade”, disse Anne Thomas, responsável pelo planeamento urbano da cidade, em Maio, quando o projecto ainda estava em discussão. Nessa altura, a polémica  estava instalada. Robert Hardman, colunista do tablóide britânico Daily Mail e natural de Ilfracombe, escreveu no final de 2013 contra o empreendimento de Hirst cujo título era: “Não deixem o Senhor Pickled Shark  [uma alusão à peça The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living, de 1991] arruinar a nossa cidade: primeiro ele deu-nos uma estátua grotesca, agora Damien Hirst planeia outra agressão à Ilfracombe adormecida, uma urbanização de 100 milhões de libras”.

O colunista argumenta que aquele que tem encimado as listas da Artinfo como o artista mais rico do mundo já tem em Ilfracombe, para além de “uma mansão que não deve ser confundida com a sua residência principal, a alguns quilómetros de distância”, um restaurante, um café e a sua galeria de arte, um hotel em construção e a estátua Verity. Esta extensão da cidade, que Hardman diz significar um influxo de mais três mil residentes, é “mais um lucrativo triunfo da publicidade sobre o bom senso”, escreve.

A tal “estátua grotesca” está mesmo à entrada de Ilfracombe, a dar as boas vindas a quem entra na cidade pelo porto. É uma grávida nua empunhando uma espada em direcção ao céu: no seu perfil esquerdo tudo está normal, mas do lado direito, a mulher está descarnada: a pele levantada deixa ver os músculos, o crânio e o bebé no seu ventre. A obra erguida em 2012 foi descrita por Hirst como uma “alegoria contemporânea para a verdade e justiça”, mas criticada pelo público e pelos críticos de arte - Catherine Bennett escreveu no Guardian que “quando se tem um artista em busca de atenção e uma cidade ambiciosa, o resultado é esta monstruosidade”. Outro crítico, Jonathan Jones, chamou-lhe uma "perigosa monstruosidade".

Alguns residentes consideram que este projecto vai invadir a sua privacidade e afundar o comércio local. “Damien Hirst fez coisas boas aqui, mas isto é demasiado grande. Ele já tem um restaurante, um hotel e propriedades no porto - começa a ser um domínio do Damien”, disse ao Telegraph Kate Barnard, enfermeira de 41 anos, quando questionada sobre o projecto. 

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