Hollande pediu à Europa para não descansar sobre "os louros da paz”

Instabilidade na Ucrânia e no Médio Oriente recordadas no dia em que se assinalou o início dos combates da I Guerra Mundial

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Dirigentes dos 83 países que tomaram parte na I Guerra Mundial estiveram em Liége Luke MacGregor /reuters

Cem anos depois do início daquela que foi anunciada como “a guerra para acabar com todas as guerras” mas que se transformou no primeiro conflito mundial, numa carnificina de 17 milhões de mortos, prestou-se tributo aos que perderam a vida e celebrou-se reconciliação que na segunda metade do século XX transformou inimigos em aliados. Mas com a instabilidade a pairar de novo sobre a Europa, houve também apelos para que não sejam esquecidas “as lições do passado”.

“A mensagem que devemos guardar deste dia é que não podemos ser apenas os guardiões da paz. Temos de assumir as nossas responsabilidades”, disse o Presidente francês, um dos dirigentes dos 83 países que tomaram parte na I Guerra Mundial convidados pelo rei da Bélgica precisamente para o local onde, a 4 de Julho de 1914, as hostilidades começaram.

A Alemanha, já oficialmente em guerra com a Rússia e a França, invadiu a Bélgica, mas as suas forças confrontam-se com a feroz resistência das guarnições dos 12 fortes que rodeavam a cidade de Liége. A violação da neutralidade belga precipitou a entrada do Reino Unido no conflito e o fim de qualquer hipótese de evitar a guerra de dimensões continentais que se desenhava desde o assassínio, a 28 de Junho em Sarajevo, do arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do império austro-húngaro.

A pequena cidade belga cairá ao final de 12 dias de combates que provocaram um milhar de mortos, mas que deram aos franceses e britânicos a oportunidade para reorganizarem as suas forças.

“Homenageamos hoje os que morreram para nos dar a liberdade e prometemos recordá-los”, disse o príncipe William, representante da coroa britânica nas cerimónias em Liége, cidade posta em estado de sítio para receber presidentes, realeza e ministros vindos de todo o mundo.

A data, uma das mais simbólicas de um Verão de comemorações, quis ilustrar de novo o longo caminho percorrido pelos líderes europeus após as duas guerras mundiais. “A Europa pacificada, a Europa unificada, a Europa democrática. Esse foi o sonho dos nossos avós e é isso que hoje temos. Temos de a acarinhar e melhorar”, disse o rei Philippe da Bélgica.

Hollande alinhou pelo mesmo diapasão, mas sublinhou que nenhum dirigente “deve cansar-se de procurar a paz” ou acomodar-se perante as actuais ameaças à estabilidade. “Como podemos permanecer neutros quando um avião civil é abatido sobre a Ucrânia, como podemos permanecer neutros perante o massacre de civis no Iraque ou na Síria [...] como podemos permanecer neutros quando em Gaza um conflito sangrento dura há mais de um mês” , questionou o Presidente francês, pedindo à Europa que “não descanse sobre os louros da paz”.

Também William sublinhou que “os acontecimentos na Ucrânia recordam que a instabilidade continua a perseguir o continente” e o Presidente alemão, Joachim Gauck, afirmou que a Europa não pode ficar impassível quando a lei internacional é violada.

No Reino Unido, o dia foi igualmente simbólico, com dezenas de homenagens que evocaram a entrada da última grande potência no conflito. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, juntou-se aos herdeiros da coroa numa visita ao cemitério militar belga de Saint-Symphorien, onde estão sepultados o primeiro e o último soldados britânicos mortos na guerra.

Todos os britânicos foram também convidados a apagar as luzes entre as 22h e as 23h, a hora a que Londres declarou guerra a Alemanha, evocando a célebre frase do então chefe da diplomacia Edwar Grey que, na iminência do conflito, afirmou: “As luzes estão a apagar-se na Europa; não as veremos acender novamente no nosso tempo de vida”. Uma homenagem que terá como epicentro a abadia de Westminster onde, uma após outra, se apagarão as velas acesas para uma vigília até restar apenas a que ilumina o túmulo do soldado desconhecido. Essa será por fim soprada às 23h, recordando os quatro anos de escuridão que devastaram o coração da Europa e levaram a guerra a todos os continentes.

Notícia corrigida às 23h17 O assassínio do arquiduque Francisco Fernando aconteceu em Sarajevo e não em Belgrado

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