Um livro-mapa da street art de Lisboa, com GPS e tudo

Livro da Zest lançado esta quinta-feira parte das recolhas da Galeria de Arte Urbana da Câmara de Lisboa e mostra e localiza cerca de 200 obras de anónimos e consagrados, de estrangeiros e portugueses, obras legais e ilegais.

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Tinta Crua - 38°42'24 N 9°8'55 W Tinta Crua
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Desconhecido - 38°42'12 N 9°9'43 W Desconhecido
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Alexandre Farto aka Vhils - 38°42'37 N 9°7'51 W Alexandre Farto aka Vhils
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Querido Zé - 38°42'46 N 9°8'42 W Querido Zé
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C215 - 38°42'39 N 9°7'41 W C215
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C215 - 38°42'16 N 9°9'60 W C215
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ARM Collective/RAM/MAR - 38°41'48 N 9°11'45 W ARM Collective/RAM/MAR
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Ninguém - 38°42'39 N 9°8'20 W Ninguém
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Desconhecido - 38°42'55 N 9°8'5 W Desconhecido
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Nomen - 38°43'34 N 9°9'38 W Nomen
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How and Nosm - 38°42'6 N 9°10'36 W How and Nosm
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PixelPancho e VHILS - 38°42'36 N 9°7'41 W PixelPancho e VHILS

Quando pararam as gruas que elevavam, em pleno dia, a dupla de artistas brasileiros Os Gémeos ou o italiano Blu aos céus da Avenida Fontes Pereira de Melo e os seus gigantescos murais na fachada de um edifício devoluto ficaram prontos, os telefones começaram a tocar. A Galeria de Arte Urbana (GAU), que já tinha quase dois anos na Câmara Municipal de Lisboa, sentia que estava dado o seu “pontapé de saída”, explica Inês Machado, que destaca estas peças de arte urbana de 2010 no novo livro Street Art Lisbon, esta quinta-feira. A ideia é “levar as pessoas para a rua”, explica o editor Nuno Seabra Lopes, com GPS e tudo para saber onde encontrar cerca de 200 peças de arte urbana - obras legais, algumas ilícitas, stickers e outras cores que pintam o rosto de Lisboa nos últimos dois anos.

Os telefones tocavam e os emails chegavam porque a imprensa internacional estava interessada - o Guardian viria a eleger a obra como uma das melhores do mundo no ano seguinte. Aquela parte do projecto Crono, acolhido pela GAU e concebido pelo designer Pedro Soares Neves, pelo artista Alexandre Farto (nome de guerra como writer de graffiti é Vhils, o mais internacional português da área) e pelo comissário Angelo Milano, “foi o que pôs Lisboa no panorama das cidades de arte urbana”, considera a técnica da Câmara de Lisboa e uma dos seis membros da GAU – criada em Outubro de 2008 no Departamento de Património Cultural da câmara.

Street Art Lisbon (9€) é um livro-álbum, uma colecção de cerca de 200 imagens feitas ou existentes nos anos de 2012 e 2013. Nasce do encontro entre a vontade da Zest – Books for Life de se debruçar sobre a street art, uma paixão de Nuno Seabra Lopes, e do trabalho de documentação da GAU, que colige uma base de dados das peças mais interessantes que vai encontrando – desde que não danifiquem o património - e das que espalha ela própria pela cidade, comissariando intervenções em locais autorizados. “Lisboa estava a crescer e continua a crescer internacionalmente nesta temática”, explica o editor, que pensou este livro “para quem gosta de fazer as coisas como se estivesse de férias”.

Esta edição bilingue (português e inglês, para servir também aos turistas estrangeiros) foi pensada “não só como um álbum para ver em casa – nem isso faz sentido na street art, é uma parte importante da nossa vida urbana”, diz ao PÚBLICO Nuno Seabra Lopes. Por isso, o mapa incluso funciona também com georreferenciação com coordenadas GPS para que os leitores possam ir ao encontro das obras que lhes escapem no quotidiano .

A maioria das imagens do livro é cedida pela GAU, cujo número mais recente da sua revista será lançado esta tarde na LX Factory (viabilizado pela parceria de impressão com a Zest) numa sessão na Ler Devagar que terá também live painting de Vanessa Teodoro. A ideia é que Street Art Lisbon se transforme numa colecção, com mais um volume talvez já em 2015, mas do primeiro livro fazem já parte nomes internacionais como Os Gémeos, o francês C215, os espanhóis How and Nosm ou portugueses como Vhils, Nomen, Pantónio e ARM Collective, além de vários anónimos.

Sendo a arte urbana por natureza efémera – “durante esta conversa alguma pode ter deixado de existir”, diz Inês Machado  – Street Art Lisbon surge como uma “memória em livro” – “esta nunca ninguém vai apagar”, sorri. Mas também como uma forma de passar a mensagem da GAU, que é a de um equilíbrio difícil num país que tem em vigor há quase um ano uma lei que tenta emoldurar o graffiti em autorizações camarárias e proteger monumentos, edifícios de interesse público ou religiosos. E quando há writers e street artists a defender posições muito diferentes sobre o que é graffiti e a importância do risco na sua produção.

A GAU é “uma plataforma municipal dedicada às manifestações artísticas de street art e graffiti”, como descreve a técnica que está desde a sua fundação na equipa que hoje tem seis pessoas, sintomaticamente integrada no Departamento de Património Cultural da autarquia. Street Art Lisbon “contribui para a valorização do património da cidade, para este tipo de expressões de arte urbana que não é bem vista por uma parte do público”, explica Inês Machado, mas também para distinguir a arte urbana de “actos vandálicos contra o património”, defende. Aqueles que, em parte, estão na génese do que hoje consideramos graffiti, um dos pilares da cultura hip hop e que fala de exclusão, de resgate do espaço público, de transgressão. “A comunidade é feita de múltiplas vozes e discursos: há pessoas que se recusam a trabalhar na faceta legal e aqueles que o preferem fazer, vindos da ilustração ou do design”, exemplifica a técnica, além dos que acumulam ambas as pulsões – a do convite e a da quebra.

Por isso, Inês Machado frisa que, se por um lado, a GAU, responsável por convidar artistas a pintar os vidrões da cidade ou os seus camiões de recolha de resíduos, mas também novos murais alusivos ao 25 de Abril ou aos 120 anos do nascimento de Almada Negreiros, por exemplo, “nunca procurou institucionalizar o graffiti”, por outro “condena veementemente o vandalismo que utiliza aerossol. Mas temos consciência de que o lado underground vai sempre existir, é quase o pulsar deste movimento.” E se Street Art Lisbon queria “ser um retrato fiel do que Lisboa é em arte urbana e como também fotografamos peças ilegais e as inventariamos, mas que não são gestos de danificação de património” – não são feitas sobre pedra, exemplifica -, “não seria fiel fazer este guia sem as incluir”. 

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