A quase-trégua transformou-se em não cessar-fogo. A guerra vai continuar

Trégua informal pontuada por mortes e ataques em Gaza e em Israel, com pelo menos 13 mortos no território palestiniano e quatro em Israel.

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Uma criança palestiniana chora depois do ataque desta segunda-feira que matou oito menores e dois adultos num parque em Gaza REUTERS/Finbarr
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Um veículo armado israelita na viagem de regresso a Israel depois de novos combates na Faixa de Gaza REUTERS/Baz Ratner
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A raiva de um homem palestiniano com a camisola coberta de sangue do filho AFP/MARCO LONGARI
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Soldado israelita no funeral do companheiro de armas Liad Lavi, morto nos combates em Gaza REUTERS/Siegfried Modola
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Duas crianças brincam no meio da destruição em Gaza AFP/MAHMUD HAMS
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Tanque israelita junto à fronteira de Israel com a Faixa de Gaza AFP/DAVID BUIMOVITCH
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Palestiniana reza junto à sepultura de um familiar no cemitério de Sheikh Radwan, na Cidade de Gaza AFP/MARCO LONGARI
No Eid al-Fitr celebra-se o fim do Ramadão e do jejum
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No Eid al-Fitr celebra-se o fim do Ramadão e do jejum AFP

No dia em que começa o Eid al-Fitr, a festa em que comemora o fim do mês do Ramadão, houve paz e depois guerra. Pelo menos 13 palestinianos morreram - várias crianças num campo de refugiados perto da praia de Gaza - e quatro soldados israelitas morreram vítimas de um rocket perto de Eshkol, Sul do país.

Falando ao país, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, avisou que Israel tem de estar preparado para "uma operação que pode demorar algum tempo". O mundo, acrescentou, deverá assegurar a “desmilitarização da Faixa de Gaza”. Pouco depois, uma série de líderes mundiais pediram de novo um cessar-fogo humanitário, “imediato e sem condições”.

Netanyahu parece ensanduichado entre a pressão do público israelita e a pressão internacional. No lado interno, o jornalista do Ha’aretz Anshel Pfeffer reagia à declaração do primeiro-ministro dizendo que “ou estão a planear expandir a operação [militar] de surpresa ou ele está a correr um enorme risco político” por não o fazer já. Do lado externo, os EUA já vieram dizer que o modo como Israel criticou a proposta de trégua do secretário de Estado John Kerry não é “como se tratam parceiros e aliados”, e os líderes dos EUA, Reino Unido, França, Alemanha e Itália repetiram o apelo ao cessar-fogo.

Aos israelitas, o primeiro-ministro voltou a prometer não parar a operação enquanto não forem destruídos os túneis do Hamas. É que se os rockets são uma ameaça poderosa, os túneis são o que tem realmente assustado muitos israelitas, e talvez por isso o apoio à operação continua especialmente alto entre os habitantes do Estado hebraico. Os israelitas podem escapar dos rockets refugiando-se em abrigos ou contando com o sofisticado sistema Iron Dome (Cúpula de Ferro). “Mas não há nada a proteger-nos de combatentes do Hamas a sair de túneis para nos raptar e matar”, dizia uma habitante num kibutz no Sul de Israel, perto de Gaza, à BBC. Relatos nos media do material encontrado, como algemas e tranquilizantes parecendo prontos para a serem utilizados numa tomada de reféns, deixaram os habitantes ainda mais temerosos. 

O aumento da violência do dia – “foi um dia difícil e penoso”, disse Netanyahu – contribuiu para este sentimento.

Um dos vários rockets palestinianos matou quatro soldados israelitas. Uma infiltração de combatentes do Hamas num túnel perto de um kibutz acabou em violência – o Hamas dizia ter morto dez soldados, Israel dizia ter morto os infiltrados.

Em Gaza morreram pelo menos 13 palestinianos, incluindo várias crianças, muitas usando as roupas novas que tinham recebido pelo Eid, dizia a agência palestiniana Ma’an. Um projéctil atingiu um dos maiores hospitais de Gaza.

Até hoje, a operação tinha deixado 1030 mortos em Gaza (as autoridades reviram o número em baixa), a grande maioria dos quais civis, e 6233 feridos. Do lado de Israel, morreram 48 soldados, dois civis, e um trabalhador tailandês.

A dada altura, voaram pequenos papéis brancos em vários bairros de Gaza lançados pela aviação israelita. Crianças corriam com eles na mão mostrando-os para uma câmara. Os folhetos listavam o nome de combatentes mortos, “aqueles que pensaram que podiam enfrentar o poder das Forças de Defesa de Israel”.

Ao mesmo tempo, habitantes de alguns bairros começaram a receber as mensagens alertando para ataques iminentes de Israel. No Twitter, o médico palestiniano Belal Dabour ia contando como havia bombardeamentos no centro de Gaza. “Seis adultos a tentar escolher uma divisão segura. Conclusão: Não há.”. Passados alguns minutos: “A relatar números [de mortos], não sabendo como ou quando serei um número”.

Antes, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, fez mais um dramático apelo ao fim dos combates: Gaza está em "estado crítico" e que os combates têm de parar "em nome da humanidade", declarou.

Ambos os lados se comportaram de um modo irresponsável e “moralmente errado”, disse Ban. “É uma questão de vontade política. Eles têm de mostrar a sua humanidade enquanto líderes, tanto israelitas como palestinianos”, declarou, em Nova Iorque, Ban Ki-moon.

As declarações de Ban seguiram-se à aprovação por unanimidade no Conselho de Segurança das Nações Unidas, na madrugada desta segunda-feira, de uma resolução exigindo um cessar-fogo imediato, incondicional e duradouro na Faixa de Gaza.

A resolução previa um início de um cessar-fogo nesta segunda-feira, que deveria prolongar-se para que entretanto tivessem lugar negociações de paz, com base numa proposta já avançada pelo Egipto (e rejeitada pelo Hamas por não conter o fim do bloqueio económico israelita a Gaza, que já dura há oito anos).

O Governo de Telavive rejeitou a proposta, alegando que o texto "tem em conta as necessidades de um grupo terrorista assassino que mata civis israelitas e não dá resposta às necessidades de segurança de Israel", segundo um comunicado do gabinete de Netanyahu.

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