Esta tricicleta é de madeira, tem selim de cortiça e não tem preço

É uma bicicleta com pedalada assistida e pesa 38 quilos. Nasceu no Instituto Politécnico de Viana do Castelo, alicerçada no conceito de bike sharing, e será baptizada de Wicla. O ciclista profissional Rui Sousa, do Boavista, já pedalou e é o padrinho do Projecto Raiooo

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Joana Fonseca

Um aviso à navegação. Esta bicicleta de três rodas, de madeira, com pedalada assistida, selim feito em cortiça, não estará à venda numa loja perto de si. O veículo que foi ganhando formas nas cabeças e nas mãos de 19 alunos do 1.º ano do Mestrado em Design Integrado, do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, é mais do que um meio de transporte. É um serviço que pode ser alugado para permitir a turistas, e não só, a descoberta de cidades, de monumentos, do comércio mais tradicional de cantos e recantos portugueses. “Não é uma bicicleta para venda. É uma bicicleta para que todos tenham o prazer de conduzir”, explica o professor Ermanno Aparo, coordenador do mestrado. Não tem preço, portanto, nem ambiciona estar exposta em montras, porque a sua missão é criar um meio alternativo para viver o espaço urbano de outra forma.

É uma bicicleta urbana e é portuguesa. É uma tricicleta. Tem três rodas 24 para garantir a estabilidade e segurança de quem circula nas cidades. É de madeira, mais concretamente de contraplacado marítimo de bétula com acabamentos em mogno que ajuda a esconder baterias e fios eléctricos. O selim é feito com um novo aglomerado de cortiça sinónimo de conforto para quem gosta de dar aos pedais. Tem motorização eléctrica, mas não tem aceleradores. Tem um sensor atrás dos pedais que em sinal de dificuldade acciona a pedalada assistida, o que permite uma utilização por uma público mais alargado, por gente de várias idades, dos mais novos aos mais velhos. E pesa 38 quilos. “É leve tendo em conta que é uma tricicleta que tem pedalada assistida”. “Não é uma bicicleta normal, é uma tricicleta, o peso é absolutamente relativo. Esta bicicleta tem uma boa distribuição dos pesos”, garante o professor Aparo de origem italiana. Só para chegar a essa parte, de estabilizar pesos, foram necessários três meses de trabalho.

O ciclista profissional Rui Sousa, da equipa do Boavista, já experimentou, gostou, e é o padrinho do Projecto Raiooo. “Disse-nos que é muito leve a pedalar”, revela o coordenador do mestrado. Certo é que a tricicleta de madeira tem despertado atenção lá fora. A revista italiana Urbancycling já publicou no seu portal um artigo sobre a bicicleta construída em Viana do Castelo. E há contactos de potenciais interessados na Dinamarca, em Itália, em França e do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos da América. "Estamos interessados em que os interlocutores nos ouçam". Que podem ser câmaras municipais ou outras entidades.

O nome foi colocado a votação na Internet. Entre Wicla e Beca, os cibernautas preferem o primeiro nome. Wicla representa seis meses de trabalho e várias parcerias de empresas e instituições – onde constam nomes como a Corticeira Amorim, os Irmãos Jacôme, a Rodi, Ruedas Eléctricas, Ciclos Terra e Irmãos Queiróz, entre outras.

Durante seis meses, os 19 alunos licenciados com vontade de serem mestres, sempre acompanhados de perto pelos professores Ermanno Aparo e Manuel Ribeiro, não tiraram os olhos da nova bicicleta que poderá revolucionar a forma de usufruir das cidades. Pediram mais tempo, mais horas fora das aulas, para se dedicaram ao Raiooo. O empenho valeu a pena. Desde logo porque as ideias não se resumiram a um protótipo sem potencialidades de sair do papel. Há um produto concreto à vista de toda a gente. “Estes jovens são grandes recursos e é preciso evitar que eles fujam. É preciso criar projectos que os envolvam, que os motivem”, diz Ermanno Aparo, realçando a vertente prática deste projecto do Instituto Politécnico de Viana do Castelo.

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