As razões do Qatar para acolher o Mundial em 2022

Queremos cooperar plenamente com a investigação da FIFA no processo de candidatura. Não temos nada a temer ou a esconder.

Este foi um Mundial incrível. Vimos actuações individuais maravilhosas, grandes jogos e grandes surpresas. Mas seja a vitória da Alemanha, a derrota do Brasil ou o desempenho de equipas, como o Chile, Colômbia e Costa Rica, existem boas razões em termos de futebol que explicam tais resultados. E apesar de tudo o que possa ter ouvido ao longo das últimas semanas, também existem boas e legítimas razões que justificam a vitória do Qatar contra os seus mais conhecidos rivais para sediar o Mundial de Futebol daqui a oito anos. O problema é que temos tido dificuldades em ser ouvidos.

O Qatar não tem uma tradição rica na história do futebol. Somos um país pequeno, e as nossas temperaturas no Verão são elevadas. Por mais injusto que seja, somente a nossa riqueza já é motivo de suspeita. A nossa campanha foi vitoriosa, não porque ignorámos estas importantes questões, mas porque apresentámos argumentos convincentes. Nós transformámos cada desafio a nosso favor. Ganhámos porque a nossa campanha foi vista como a melhor.

A história do futebol do Qatar pode até ser mais recente do que a da Europa ou a da América do Sul, mas tanto no nosso país como no Médio Oriente, a paixão por esse desporto é igualmente forte. Os membros da FIFA entenderam isso e interessaram-se em levar o campeonato para uma região nova. 

Os Mundiais nos Estados Unidos, em 1994, no Japão e na Coreia do Sul, em 2002, e na África do Sul, em 2010, contribuíram para o crescimento da popularidade do futebol em todo o mundo. Esta é a oportunidade de levar o campeonato até aos muitos milhões de fãs de futebol do Oriente Médio.

Os membros da FIFA também ficaram convencidos com o nosso sucesso em organizar outros eventos desportivos tais como os Jogos Asiáticos de 2006, os Jogos Pan-Arábicos e o Mundial Asiático, ambos em 2011. O tamanho compacto do Qatar deu a esses eventos uma sensação bastante diferente, outro ponto positivo segundo os membros da FIFA. Nós propusemos um Mundial de Futebol onde as equipas e os fãs não tenham que viajar grandes distâncias entre os estádios, ao contrário do Brasil ou da Rússia daqui a quatro anos. Da mesma forma, foi reconhecido que o Qatar é um país estável e pacífico, com um dos índices mais baixos de criminalidade do mundo.

Sem dúvida alguma, encarámos fortes concorrentes. Porém, tanto os Estados Unidos como o Japão e a Coreia do Sul sediaram recentemente o Mundial de Futebol. A Austrália tem uma tradição desportiva muito importante, mas o futebol não é o seu desporto número um. Uma final nesse país implicaria longas viagens e custos significativos. Em contrapartida, mais de 2 mil milhões de fãs de futebol estão a apenas quatro horas de voo do aeroporto de Doha.

Na opinião de alguns críticos, o intenso calor durante o Verão no nosso país é a principal razão pela qual não deveríamos ter ganho a candidatura. No entanto, provámos que as partidas de futebol poderiam ser jogadas e vistas em condições confortáveis. Fazer o campeonato durante o Inverno nunca fez parte da nossa oferta. Para alguns, a ideia de ter estádios com ar condicionado pode parecer uma ideia fantasiosa. Mas desde 2008 contamos com sistemas de refrigeração para eventos ao ar livre.

Dedicamo-nos à investigação e ao desenvolvimento de uma refrigeração alimentada a partir de fontes de tecnologia solar e renovável, e prometemos à FIFA compartilhar os resultados de tal pesquisa com outros países.

Reconheço que investimos mais dinheiro na nossa campanha se compararmos com outras candidaturas, mas foi somente com o objectivo de alcançar o nível dos nossos rivais mais conhecidos. Tivemos de dar a conhecer ao mundo o nosso país e informar as pessoas do que podemos oferecer. Desde o dia em que lançámos a nossa proposta de candidatura até ao dia em que o nome do nosso país foi revelado no envelope em Zurique, respeitámos estritamente o regulamento. Por essa razão, queremos cooperar plenamente com a investigação da FIFA ao processo de candidatura. Não temos nada a temer ou a esconder.

Tudo isso não pôs fim às crescentes acusações sem fundamento. A Interpol descartou completamente a alegação feita pelo Sunday Times de que teria exigido uma investigação criminal em relação à decisão tomada para 2022.

Indicámos à FIFA como pretendíamos que o Mundial de Futebol fosse um catalisador para mudanças positivas na nossa região. As nossas acções têm correspondido às nossas palavras, e já tomámos, por exemplo, medidas para modernizar as nossas leis do trabalho. Também enfatizámos a nossa firme convicção de que sediar o Mundial no Médio Oriente permitiria uma melhor compreensão da região tanto dentro como fora dela. 

Tal como vimos no Brasil, o Mundial de Futebol tem uma capacidade notável para unir pessoas e culturas. Fãs de todos os cantos do mundo formam novas amizades e consequentemente regressam aos seus países com olhos e mentes mais abertos.

Infelizmente, existem muitas divisões, assim como incompreensões no nosso mundo. No entanto, a paixão partilhada pelo futebol pode eliminar os preconceitos e unir as pessoas em torno do que elas têm em comum. Esta mensagem – que nunca foi tão importante como agora – era a base da nossa candidatura. É também a razão pela qual esperamos ansiosamente para acolher o mundo no nosso país em 2022: será um evento maravilhoso.

Presidente da Federação de Futebol do Qatar

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