Em Timor-Leste há duas línguas oficias. O tétum e o português. Assim determina o 13º artigo da Constituição. A primeira está a ser consolidada e a segunda a ser reintroduzida em todo o território, depois de quase 25 anos de ocupação indonésia.
Entre finais de 1975 e até ao referendo de 30 de agosto de 1999, que culminou com a restauração da independência de Timor-Leste a 20 de maio de 2002, era proibido falar português. O bahasa (língua) da Indonésia era o idioma oficial.
Durante aquele período, a língua portuguesa era o símbolo da resistência, como atestam os milhares de documentos do Arquivo e Museu da Resistência.
Aos líderes timorenses pareceu óbvia a escolha do português como língua oficial do novo país. Foi uma opção política, estratégica e identitária, mas aquela língua trazida pelos avôs portugueses que chegaram há quase 500 anos a Oecussi não era dominada pela maior parte da população.
Hoje em Timor-Leste a língua portuguesa ainda não é falada em todo o território nacional nem pela esmagadora maioria da população, mas é garantidamente a mais debatida e a mais questionada.
Nas redes sociais, as discussões multiplicam-se e já há propostas de referendo. Uns não querem a língua do colonialismo, outros não querem a língua da ocupação, mas o mercado do emprego em que mais ordena e muitos jovens aprendem as línguas relacionadas com a sua profissão.
Os censos de 2010 revelam que, dos cerca de um milhão de timorenses, apenas 56,1 por cento fala, escreve e lê em tétum. O bahasa é falado por 45,3% da população. Só depois aparece o português, com 25,2%, e o inglês, com 14,6%.
O Presidente do país, Taur Matan Ruak, é perentório: “o português está para ficar”, mas com um “genuíno espírito construtivo” também admite que o português deve ainda, nesta fase, ser ensinado como língua não-materna.
O chefe da diplomacia, José Luís Guterres, também garante que o país vai fazer os “possíveis para que dentro de alguns anos seja uma língua falada em todo o território e que as novas gerações possam também comunicar em português”.
Por aqui não há ilusões e todos sabem qual é a realidade linguística do país a que se junta as línguas maternas, que a Constituição também prevê que sejam valorizadas e desenvolvidas.
Mas, a futura presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa parece querer mudar o cenário. De repente o português popularizou-se. Há formações em língua portuguesa e uma genuína preocupação em a querer dominar.
A presidência da CPLP vai servir de propulsor para todos os componentes da sociedade e para as diversas instâncias do Estado fazerem da língua portuguesa uma língua do dia-a-dia, defende o linguista timorense Benjamim Corte-Real.
E é isso que se pretende. Segundo o linguista, a ideia é que o português seja uma língua dominada na escrita e nas escolas e um instrumento de trabalho eficaz para não mais se invocar a ideia de que uma língua estrangeira está a ser forçadas às crianças timorenses.
Foram várias horas perdida na montanha. Um cacho de bananas o único alimento. A visão de meia dúzias de casas reconfortou-me a alma. No meu mau tétum tentei pedir indicações. De uma casa um senhor de meia-idade perguntou: A senhora quer ir para onde? Recebi todas as indicações. Aqui também se fala português.
Texto originalmente publicado na Lusa (Timor-Leste) a 26 Junho 2014