De quantos “wows” se faz uma visita à Casa da Música?

Até para quem já entrou na Casa da Música uma dezena de vezes, nas visitas guiadas há sempre mais cantos para conhecer e recantos para redescobrir. Seis vezes por dia.

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Mariana Vasconcelos

João Cortesão é novo nestas andanças. É um dos 12 funcionários da Casa da Música que assume a condução das visitas guiadas ao edifício, mas só chegou à equipa há apenas um mês. Mas logo se percebe que está talhado para isto quase desde que nasceu: começou novo a tocar instrumentos, e concluiu o quinto ano do conservatório de Música no Porto, em piano. Percebe bem a importância da acústica numa sala e de como é simpático poder ouvir o som que sai do clarinete que estamos a tocar quando temos um timbale a ressoar logo atrás de nós. E é, também, arquitecto há sete anos, pelo que sabe explicar muito bem os desafios que o holandês Rem Koolhas provocou, e resolveu, no edifício que agora é o ex-libris da Rotunda da Boavista.

O gosto e a curiosidade pela música e pela arquitectura serão os dois pilares principais de quem se mobiliza para conhecer, por dentro, a Casa da Música. E são muitos. Durante o ano de 2013, o número de participantes em visitas guiadas chegou quase aos 40 mil. Retirando as visitas privadas e institucionais e o público escolar (que fez 565 visitas), o público geral somou 23.806 participantes, que se distribuiram por 1607 visitas. O que dá uma média de 15 participantes por visita guiada. Durante o mês de Agosto há seis visitas guiadas por dia: quatro em português, e duas em inglês.  

Numa das visitas que João Cortesão conduziu esta semana - e que o P3 acompanhou - estavam 20, entre ingleses, alemães, holandeses, franceses e catalães. Não eram todos músicos, claro, mas percebiam todos o inglês falado do João. E entre eles havia cinco arquitectos. Que são, quase sempre, os que fazem mais perguntas. Apesar de não serem esses que largam os “wows” de espanto quando olham para 32 metros de altura do átrio principal, ou ouvem a explicação de que a gigantesca parede de betão cumpre a dupla função de ser um elemento estrutural e a fachada do edifício. O primeiro “wow” que ouvimos veio de uma família a falar francês. 

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Mariana Vasconcelos

A visita nunca foi, porém, demasiado técnica - apesar de João se esforçar por responder a cada uma das muitas perguntas que iam surgindo dos participantes : “Qual é a espessura deste vidro?”, “Nunca tiveram de substituir um destes painéis ondulados?”, “Quem é que assinou o projeto de acústica da Casa da Música?”. A visita foi, antes, lúdica: João conseguiu-nos por a fazer música na Sala Laranja, onde está instalado o Sound Space, parte integrante dos Hot Spots da Casa da Música. E foi, muitas vezes, surpreendente: mesmo para quem, como nós, já perdeu a conta ao número de vezes que entrou na Casa da Música para assistir a concertos na Sala Suggia e na Sala 2, para participar num Clubbing (e beber um copo no bar suspenso) ou até para participar com os filhos num workshop do serviço educativo muitas vezes ministrados em salas de ensaio, descobre um recanto que desconhecia. Por exemplo, o que estava para ser uma sala técnica e se converteu no terraço VIP, e, mais recentemente, é o local onde está instalado o Gamelão (instrumento tradicional indonésio) comprado pela Casa da Música.

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Numa visita guiada de pouco mais de uma hora, ficamos a conhecer toda a história da Casa da Música. Desde 1998, altura em que surgiu a notícia da realização no Porto da Capital Europeia da Cultura três anos depois, até ao lançamento do concurso de arquitectura, ao qual apareceram 27 projetos, dos quais 20 ficaram pelo caminho, e ao porquê de ter ganho o projeto de Koolhas. E percebemos a importância do conceito de democratização que o arquitecto holandês defendeu até ao limite - desenhando uma sala principal (a sala Suggia) com muita luz natural, e acessível ao contacto visual a partir de outras cinco salas do edifício.

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Na visita que o P3 acompanhou - cada guia conduzirá a visita de uma maneira diferente - sobraram as questões relacionadas com a acústica e a surpresa de estarmos a visitar a sala com a segunda melhor acústica do mundo. Arthur Lewis, um britânico licenciado em engenharia acústica confirma as muitas surpresas. "Não sei se é mesmo a segunda melhor do mundo, como disse o João, a terceira, ou a quarta! Sei que queria, muito, poder assitir a um concerto naquela sala", afirmou. Mas estava no Porto de passagem, e não havia nada agendado na Sala Suggia nos dois dias em que ainda iria andar pela cidade. "Os voos desde Londres são baratos. Hei-de voltar", prometeu. 

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