Homem a quem foi dada a injecção letal nos EUA demorou quase duas horas a morrer

Mais um caso polémico devido à mistura de drogas usada. Estados têm cada vez mais dificuldade em comprar os produtos necessários à execução da pena de morte.

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Joseph Wood foi condenado à pena de morte por duplo homicídio DR

Quase duas horas foi o tempo que demorou a morrer um homem condenado à morte no Arizona, nos Estados Unidos, a quem foi dada a injecção letal.

Os seus advogados ainda apresentaram um recurso de última hora para suspender a execução, pois, ao fim de uma hora, era possível ver Joseph Wood a respirar com grande dificuldade, ouvindo-se os ruídos e vendo-se os movimentos do seu peito.

O governador do Arizona, Jan Brewer, disse que mandou investigar o que se passou, mas considerou que o condenado “morreu de acordo com a lei”. Os advogados responderam que os direitos de Woods, condenado por um duplo homicídio, foram violados e que o processo que levou à sua morte foi “cruel e uma punição sem precedentes”.

“Aos olhos das testemunhas e dos médicos, ele não sofreu. Trata-se de uma comparação impossível com o sofrimento que infligiu às suas vítimas e com o sofrimento que causou nas famílias delas”, disse o governador.

Joseph Wood foi condenado à pena de morte em 1989 pelo assassínio da namorada e do pai dela. A execução deveria ter durado dez minutos. O cocktail letal começou a ser injectado às 13h52 (hora local, na quarta-feira), mas morreu às 15h49, uma hora e 54 minutos depois. 

Não se sabe o que provocou a demora na execução, mas, mais uma vez, a suspeita recai no cocktail de drogas usado. Os advogados de defesa exigem que o estado do Arizona revele o nome das empresas que fornecem a combinação de medicamentos usados neste execução.

A Constituição dos EUA proibe punições “cruéis e invulgares”. O caso de Woods, como o de outro condenado à morte no Oklahoma reabriram a polémica sobre as drogas usadas na injecção letal. Em Abril, os responsáveis da prisão do Oklahoma tentaram injectar midazolam em Clayton Lockett, mas tiveram dificuldade em encontrar uma veia e o processo foi descrito pela imprensa americana como “uma carnificina” — Clayton morreria meses depois de ataque do coração. Antes, em Janeiro, no Ohio, Dennis McGuire demorou 25 minutos a morrer. 

Os estados têm cada vez maior dificuldade em conseguir comprar as drogas, devido ao boicote de farmacêuticas, sobretudo europeias, que não querem ver o seu nome associado à pena de morte. Procuram alternativas para os cocktails letais, não revelando onde as compram ou o que compram.

Alguns estados, devido a este boicote, estão a regressar a métodos que já haviam sido rejeitados como método de execução — o Tennessee anunciou que, se não encontrar fornecedores para a injecção letal, regressará à cadeira eléctrica. Em 2010, o único produtor americano de uma das drogas usadas na injecção letal, o tiopental sódico de sódio, um sedativo, deixou de fabricar o produto. Os estados mudaram para outro sedativo, mas a empresa dinamarquesa que o produz, a Lundbeck, restringiu as suas exportações para os EUA para que o seu produto não seja usado na pena de morte. Em 2011, o Reino Unido primeiro e depois a União Europeia proibiram as exportações para os EUA de três produtos usados no cocktail – o pentobarbital, o brometo de pancurónio e o cloreto de potássio. 

Nos EUA há um debate sobre a pena de morte, com alguns estados a suspenderem as execuções. Porém, esta forma de punição ainda é apoiada por uma grande parte da população, sobretudo no Sul. 

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