“É muito difícil encontrar um consenso para reformar o SNS”

António Ferreira, presidente do Conselho de Administração do Hospital de S. João, no Porto, defende que "não há dinheiro para sustentar o SNS se não tivermos a coragem de o reformar"

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Surpreendeu-o a abertura do Ministério da Saúde perante o braço de ferro da administração do hospital? Não houve braço de ferro. Não posso dizer que o Ministério da Saúde não esteve sempre aberto a discutir esses assuntos. Creio é que o ministério tem estado entre duas pressões: de um lado os hospitais, concretamente o Hospital de S. João com necessidades específicas, e do outro lado uma falta de sensibilidades das normas impostas pela troika para responder a essas necessidades.

Os cirurgiões do Hospital de S. João continuam a fazer em média uma cirurgia por semana ou conseguiu que essa barreira fosse ultrapassada?
Não tenho isso de cabeça, mas os cirurgiões e, em termos gerais, os médicos do S. João são os que têm maior produtividade do país pelo menos nos hospitais de nível comparado.

Quando fez esta denúncia, em Dezembro de 2012, disse também que havia 30 cirurgiões que nunca tinham ido ao bloco operatório. Esse número mantem-se?
Apresentei a análise num contexto comparativo e que se referia aos dados da OCDE de 2010 e que comparava com os dados do mesmo ano em Portugal. Os relatórios sobre a produtividade dos médicos do hospital e qual é a produtividade dos médicos de outros hospitais estão disponíveis na página da Administração Central dos Serviços de Saúde

Em 2012, a  taxa de absentismo no seu hospital era de 11%. E hoje?
Diminuiu no último ano, mas não tenho esses valores de cor.

Escreveu recentemente um livro sobre a “Reforma do Sistema de Saúde”. É possível um consenso para reformar o SNS?
O livro que publiquei não pode ser considerado como a resposta, mas há uma coisa que eu sei: se se mantiverem as coisas como têm estado ao longo dos anos, isto vai estourar. Não há dinheiro para sustentar o SNS se não tivermos a coragem de o reformar, mas também só temos coragem de o reformar se conseguirmos um consenso à volta de ideias pelo menos das ideias centrais do que queremos para o SNS. E é muito difícil encontrar um consenso que envolva não só as forças políticas e sociais e em que os portugueses acreditem.

Para quando a abertura do centro de hemodiálise para doentes crónicos em Valongo e quanto vai custar?
Haverá condições para que até ao final do ano termos o centro de hemodiálise a funcionar. Os projectos arquitectónicos já estão feitos e só falta fazer obras de adaptação, que são poucas e pouco dispendiosas. Quanto a custos, será muito menos do que um milhão de euros.

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