Na Casa de Mário Laginha já sabemos como tudo acaba

Foi como se Mário Laginha tivesse feito um serão em casa, entre amigos, e nos convidasse a entrar. O pianista despediu-se da "Casa do Mário" num concerto com Julian Argüelles e Helge Norbarkken

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Mário Laginha Trio

Já tinha dado um concerto com o Remix Ensemble (na terça feira, 8 de Julho), outro com a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música (no sábado, 12 de Julho). Ontem, foi a vez de tocar em trio, a formação em que Mário Laginha está como peixe na água, mesmo quando escolhe formações algo invulgares, como as que juntam ao piano instrumentos como o saxofone e a percussão. “Estou poucas vezes com estes senhores. Mas é sempre um privilégio estar em palco com eles”, disse o pianista, a meio do concerto que deu, este domingo, na sala Suggia.

Os “senhores” que o acompanhavam eram o britânico Julian Argüelles, saxofonista, e o norueguês Helge Norbarkken, nas percussões, velhos amigos que, em Serralves no já longínquo ano de 2001 souberam fazer magia. "O resultado foi tão mágico que ainda hoje oiço essa gravação com a sensação de ter feito um dos concertos da minha vida", disse Laginha sobre esse concerto, num texto reproduzido pela Casa da Música.

Treze anos depois, ali estavam eles, de novo. E o privilégio foi de quem pôde presenciar a este reencontro, e trocou a final da Mundial de Futebol pela oportunidade de assistir a mais um inesquecível momento de música. Deixar as decisões da Final meio custou a muitos. Até a Mário Laginha que, quase até às 22h00 (hora para que foi atrasado o concerto), esteve na fila da frente, posicionado no videohall colocado na Praça exterior da Casa da Música, e onde toda a gente pode assistir ao impasse que, até então, dominava o jogo entre Alemanha e Argentina. O concerto começou depois do início do prolongamento do jogo.

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Mário Laginha

“Também queria saber resultados. Mas, aqui estamos nós, sem saber muito bem como é que isto vai acabar. Estou a falar do Mundial, claro”, disse Mário Laginha, nas primeiras palavras que dirigiu a uma plateia cheia de amigos e fãs, novos e velhos, entendidos de música e nem por isso. Ninguém sabia como ia acabar a bola mas o mais importante era mesmo sentir a viagem que aqueles três músicos iam proporcionar, ao longo de mais de hora e meia.

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Julian Argüelles

Se em Serralves houve magia - e foi por isso que Mário Laginha, com carta Branca para assumir a programação da Casa da Música durante uma semana, numa espécie de residência artística chamada a “Casa do Mário” - no palco da sala Suggia não houve menos. Laginha mostrava que se sentia mesmo em casa, nas parcas vezes em que vinha ao microfone para explicar o repertório (onde dominaram os temas assinados por Laginha, mas também dois de Argüelles) e na forma como interagia com os músicos e, até, como escolhia os títulos das músicas. "Escrevi este tema para levar a uns festivais na Noruega. Começou sem titulo, chamei-lhe Noruega. Depois demos outro nome, acho que o nome da cidade onde fomos beber uns copos, mas acabamos por ficar agarrados ao primeiro nome".

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Helge Norbakken

Laginha não falou muito. Nem precisava. A plateia estava ali para ouvir as suas mãos. Quando, no início desta semana, explicava aos jornalistas a programação com que pretendia preencher a Casa da Música durante a semana, dizia que ainda não tinha repertório fechado. “Tenho uma ideias do que vamos tocar. Mas não está tudo decidido. Logo se vê. A piada do jazz também é essa”, antecipava. E, afinal, todos sabíamos como é que tudo ia acabar. Há sempre a possibilidade de imprevistos, claro. Mas, no futebol, jogaram 11 contra 11 e, no final, ganhou a Alemanha. E no palco da sala Suggia, voltou a sentir-se cumplicidade e magia. E música de muitíssima qualidade.

Agora Mário Laginha vai entregar as chaves da Casa da Música, dando palco ao saxofonista Ricardo Toscano, um músico da nova geração que, segundo o pianista, é um dos bons exemplos da música e dos músicos de qualidade que vão aparecendo em Portugal. 

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