Portugal tem capacidade para videojogos?

Os nossos maiores esforços de desenvolvimento estão ligados aos anos 80, evidentemente devido a popularidade do Spectrum, mas na década seguinte praticamente estagnamos

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Hush/GS78

Já se tornou quase cliché afirmar que “a indústria dos videojogos faz mais dinheiro que as indústrias cinematográficas e musicais juntas”. Isto é um facto bem conhecido há mais de dez anos. Então, porque será que Portugal esteve ausente durante tanto tempo? Não fez, ou fará, sentido colocarmos os esforços nacionais no maior mercado de entretinimento global?

Normalmente costumo dar este pequeno exemplo para descrever o nosso crescimento ao longo das últimas décadas. Em 1982, o ZX Spectrum foi lançado no Reino Unido, e no ano seguinte, naquele país havia pelo menos mais de 300 estúdios a desenvolver títulos para o sistema, resultando em quase 400 jogos num só ano. Em Portugal, só após 2010, tínhamos oficialmente chegado aos quase 300. O que demorou um ano no Reino Unido, cá em Portugal foi feito em cerca de 30 anos.

Teorias para o nosso atraso com o resto da indústria europeia não faltam. Uns apontam para a confusão permanente no ensino português, que dificilmente formava profissionais; outros para a nossa forma de percepcionar o mundo que nós deixa por vezes inertes perante a tecnologia; ou quem sabe, será o preconceito desta indústria ser vista como somente uma “coisa de miúdos”? Seja qual for a razão, ou razões, não há como negar os factos. Fizemos pouco.

Os nossos maiores esforços de desenvolvimento estão ligados aos anos 80, evidentemente devido a popularidade do Spectrum, mas na década seguinte praticamente estagnamos, e só voltamos em força no início do novo milénio, em parte devido ao advento massivo da internet. Mas, mesmo estas aproximações ao longo das décadas foram fugazes. Basta ver que só tivemos um título com várias sequelas dignas desse nome (o Elifoot). O resto ficou quanto muito por uma única sequela (como o Undercover 2: Mercs Wars), ou simplesmente partiu para outras aventuras.

Actualmente o panorama é diferente, ou pelo menos aponta nessa direção. Estúdios de videojogos têm surgido e títulos qualitativos também. Estes são os casos do Inspector Zé Tó e Robot Palhaço, da Nerd Monkeys, Smash It! Adventures, da Bica Studios, Billabong Surf Trip da Biodroid, Gravity Guy da MiniClip, Hush, da GS78, The Quest of the Dungeons da Upfall Studios, No Heroes da Drunken Lizards, Dephs da Immersive Douro, Elifoot Quiz, fruto da parceria entre a EliDreams e Battlesheep, entre muitos outros. Neste momento mais de 30 jogos estão a ser desenvolvidos em Portugal, com datas de lançamento para este ano, ou para o próximo.

Claro que mesmo com este glorificado crescimento, nem tudo são rosas, "A Walk in the Dark", da Flying Turtle, "Under Siege", da Seed Studios, e "Magic Defenders", da Clueless Ideas, saíram de cena, apesar de serem apreciados pela crítica e colocados em plataformas de grande reconhecimento. No entanto, é importante que se desenvolva trabalho, criando bases para o futuro. Pessoalmente acredito que Portugal tem capacidades, e um dia teremos “O” jogo que seja uma espécie de bandeira portuguesa nesta lucrativa indústria.

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