O país da boa música

Por muito que se tente, não há maneira de dizer que esta banda foi melhor que aquela. Eu, como toda a gente, tenho as minhas favoritas: Arctic Monkeys, Black Keys, Imagine Dragons surpreenderam-me

Foto
Miguel Manso

Em Portugal, não há sítio melhor que o Alive para ouvir música. Digo-o há anos e mantenho-o. Nos últimos sete anos, o festival de Algés é o grande responsável por podermos (re)encontrar os nossos heróis e, ao mesmo tempo, descobrir outros tantos músicos que tão-pouco conhecíamos. Este 2014 não foi excepção: vimos os ídolos de ontem e preparámos terreno para os de amanhã.

Por muito que se tente, não há maneira de dizer que esta banda foi melhor que aquela. Eu, como toda a gente, tenho as minhas favoritas: Arctic Monkeys, Black Keys, Imagine Dragons surpreenderam-me — não sendo seu especial fã, confesso que fiquei rendido às prestações. MGMT e The Lumineers? Chatinhos, chatinhos. Buraka Som Sistema: uma pica do caraças. Paus? Bons, como sempre. Sohn, Brushy One String e Drenge eram puros desconhecidos para mim, mas ganharam um cantinho no meu iPod.

Além da muito boa música, o Alive tem vindo a alcançar outro mérito gigantesco: o da internacionalização. Gente de todo o mundo arreda pé até este canto de Europa e planta-se aqui a ouvir canções. Finlandeses, alemães, ingleses, escoceses, espanhóis (que pouco se sabem comportar nestas andanças), irlandeses, dinamarqueses, brasileiros, entre milhentos outros, compunham a paisagem. Aqui podemos ser raptados para o meio de um grupo de ingleses, saltar e dançar ao som da “Lonely Boy” dos Black Keys, apanhar com um banho de cerveja e, mesmo assim, continuar a achar que nada disto é estranho, nada disto é impróprio. Se o Alive fosse um país, a sua língua oficial seria o esperanto.

Nunca nada é perfeito. O Alive não é excepção — longe disso. Há muitas achegas a dar. Para começar, convém dar mais atenção à segurança no palco principal: depois do desaire vergonhoso que foi aquele 8 de Julho de 2011, quando três bandas (Klepht, The Pretty Reckless e You Me At Six) cancelaram por causa de uma estrutura gigantesca que ameaçou estatelar-se sobre uma multidão, também este ano houve um ecrã a resvalar palco abaixo, apenas safo por dois cabos sobreviventes e uma ponta de sorte. Era giro que se prestasse mais atenção às pessoas e menos atenção às mudanças nas nomenclaturas das marcas. Além disso, as dificuldades técnicas foram demasiadas: no palco principal, a multidão ficou duas vezes sem conseguir ouvir pevas do que tocavam os artistas; no secundário, as Au Revoir Simone e os War on Drugs passaram as passas algarvias para dar música ao público.

Talvez fosse bom repensar também a disposição do Clubbing e do Heineken. Em dias em que o vento se levanta, o ambiente intimista do palco secundário é assassinado pelos graves que troam vindos do palco electrónico. Já para não dizer que a zona de refeições apresenta elevados níveis de poluição sonora, quase a resvalar para o tóxico-radioactivo. Além disso, sobram muitas saudades dos anos em que os nomes anunciados provinham de géneros mais distintos. Recordo, por exemplo, com saudade, o ano em que Mastodon e Machine Head partilharam um cartaz com Placebo e Chris Cornell. Ou do ano maravilhoso em que a Everything is New conseguiu a proeza megalómana de cá trazer os eternos White Stripes. Queremos mais disto e menos homogeneidade.

Já sabemos que para o ano há mais. Esperemos que seja (ainda) melhor.

Sugerir correcção
Comentar