Não foi no palco principal que nos despedimos do Nos Alive

O último dia de Nos Alive, sábado, fez-se no palco Heineken, um dos secundários, onde vimos óptimos concertos de Cass McCombs e War On Drugs. E onde vimos os Unknown Mortal Orchestra, que assinaram um dos melhores momentos do festival. Dos regressados Libertines, cabeças de cartaz, não rezará a história

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Chet Faker Miguel Manso
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The Libertines Miguel Manso
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Jungle Miguel Manso
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Foster The People Miguel Manso
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Bastille Miguel Manso
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The War on Drugs Miguel Manso
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Unknown Mortal Orchestra Miguel Manso
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The Last Internationale Miguel Manso
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Parquet Courts Miguel Manso
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MGMT Miguel Manso
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Black Keys Miguel Manso
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Au Revoir Simone Miguel Manso
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Buraka Som Sistema Miguel Manso
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Os britânicos Arctic Monkeys foram os cabeças de cartaz do primeiro dia do festival Miguel Manso
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No concerto dos Arctic Monkeys Miguel Manso
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O primeiro dia esgotou semanas antes do festival acontecer Miguel Manso
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No concerto dos Imagine Dragons Miguel Manso
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Imagine Dragons Miguel Manso
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Interpol Miguel Manso
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Interpol Miguel Manso
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Interpol Miguel Manso
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Kelis Miguel Manso
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Parov Stelar Band Miguel Manso
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Passa das duas da madrugada e o palco Heineken transborda. Há gente em pé em cima de caixotes do lixo para ver melhor. Há uma multidão que irrompe em palmas em ritmo cada vez mais acelerado, excitadíssima, e que surpreende o homem em palco. O homem chama-se Chet Faker e as suas canções intimistas mas vívidas, trabalho de cantautor com sombras electrónicas, parecem bem mais que fenómeno de culto. O australiano que se estreou em álbum este ano, com Built on glass, canta “you're keeping me tired” (To me é o título da canção), mas ninguém parece cansado. Nem ele, nem o público. Foi uma constante no dia de despedida no Alive. No palco dito secundário, o Heineken, ninguém se cansou.

Foi nele que se fez verdadeiramente a despedida do festival, que regressará em 2015 nos dias 9, 10 e 11 de Julho, como confirmou em conferência de imprensa durante a tarde Álvaro Covões, da promotora organizadora do Nos Alive, a Everything is New. Covões adiantou também que, não tendo ainda números definitivos da edição 2014, confiava ter ultrapassado os 150 mil espectadores ao longo dos três dias.

Pouco antes do cenário descrito no palco Heineken, os Libertines, cabeças de cartaz, despediam-se muito felizes com abraços e cabriolas, com Pete Doherty e Carl Barat unidos de novo para resgatar para o presente o passado que ficou lá atrás. Não estamos certos que o consigam. Há neles um romantismo com a matéria pop que é quase enternecedor, mas a música, assim como a ouvimos, não provoca sobressalto. O momento passou (o momento, precisemos, era o início do século XXI em que ouvimos Up The Bracket e The Libertines, os dois álbuns que fizeram a história e o mito britânico da banda) e, além dos indefectíveis muito agitados nas primeiras filas, a música não contagiou.

Ouviram-se Can't stand me now, What became of the likely lads ou Don't look back into the sun, mas, à medida que o concerto avançava, tornava-se notória a debandada. Não, o Passeio Marítimo de Algés, para os Libertines, não teve nada de Hyde Park (no concerto de regresso em Londres, há cerca de uma semana, o delírio da multidão levou a que a banda parasse a actuação por diversas vezes por receio de esmagamento de espectadores nas primeiras filas).

A início, estávamos rodeados por um grupo de dezenas de fãs eufóricos, cantando todas as letras e dançando em correria felicíssima. Concerto a meio, sobravam três bravos do grupo gigantesco. Concerto a chegar ao encore, restava um indefectível. Não, não será dos regressados Libertines, donos de um catálogo curto mas de respeito no rock britânico, ponte entre a pop de cronista dos Kinks e a crueza do punk, que se fará a história da edição 2014 do Nos Alive. De resto, a história não se fará com nada do que vimos sábado no palco principal.

Nele, o dia arrancou prazenteiro com as ricas harmonias vocais dos You Can't Win, Charlie Brown e a sua música com tanto de delicadeza folk quanto de ambição prog. A banda de Diffraction/Refraction foi um oásis de sensibilidade e bom gosto na zona nobre do recinto. Porque depois dele chegaram os Black Mamba, mas excluímo-los dessa consideração (não nos foi possível assistir ao concerto). Ora, depois dos Black Mamba chegaram os Bastille. E em seguida os Foster The People. São duas bandas que parecem ter já nascido num festival, num concerto de estádio ou numa campanha publicitária.

Os primeiros investem pelo lado épico dos Coldplay, mas cobrem-no de sintetizadores e batida chapa quatro (e sai uma citação de Rhythm of night, vindas de discotecas de má memória dos anos 1990). Os segundos criam uma pop muito certinha, que não arrisca um milímetro que seja. Tocam o hit Pumped up kicks e tocam as outras canções que deveriam ser hits mas, não se sabe bem porquê (a fórmula não varia muito), não o chegou a ser. Pop a puxar para a dança movida a sintetizadores, pop a puxar ao sentimentalismo. “Pop!”: rebenta a bola de sabão e olha tão bonito que é – dez minutos depois já não nos lembramos.

Neste festival em que o Palco Comédia parece ter sido aposta bem sucedida, a julgar pela enchente registada quando o comediante Nilton ocupava o palco (havia gente cá fora tentando ouvir o que se passava no espaço lotado lá dentro), a despedida deixou boas memórias. Bastava procurar em espaços de dimensão mais modesta que a do palco principal. Recordemos então Cass McCombs, misterioso e genial cantautor americano que podia ser tradicionalista se não tivesse aquele sorriso sarcástico no rosto adornado com óculos escuros.

Em formato trio, quando a noite ainda não aparecera, McCombs cantou como um Roy Orbison moderno, fantasmagórico (Dreams come true girl) e enfiou o blues num camião TIR e, quando demos por ela, estávamos no deserto magrebino (Big wheel é boogie sulista iluminado no final por guitarra serpenteante). Por fim, no meio de burburinho incessante, ofereceu-nos uma canção soul em câmara lenta capaz de silenciar todo o ruido em volta (quando se ouviu County line, canção maior, apagou-se tudo o que nos rodeava – ficou só o som e aquela voz).

Depois de McCombs, a viagem americana ganhou aspecto de estrada sem fim: os War On Drugs de Adam Granduciel são a Americana clássica tornada matéria épica. Guitarras, órgãos e sintetizadores a colorir a paisagem com traço indefinido, uma secção rítmica em propulsão constante, um saxofone a divagar sobre canções sem pontes ou refrães: um contínuo que se prolonga, envolvendo-nos mais e mais, com Granduciel, sua voz nasalada e seu canto narrado (Dylan sempre foi bom professor), a servir de guia. Os anos 1980 nunca existiram. Só existiu a E Street Band e os War On Drugs de 2014, os de Lost in the Dream, o último álbum e o mote para a óptima actuação no Nos Alive. Depois deles, momento alto, altíssimo.

Quem não conhecia Unknown Mortal Orchestra, neozelandeses radicados nos Estados Unidos, saiu do palco Heineken boquiaberto. Quem os conhecia de discos como II, boquiaberto ficou. A banda de Ruban Nielson cria em estúdio uma pop dada ao psicadelismo e aquecida em sol de Verão. Quem os vê em concerto, depara-se com outra coisa. Um power trio portentoso, qual Ruban Nielson Experience que prolonga as canções em jams totalmente feitas de abandono ao momento sem ego e sem adiposidades. Ruban, chapéu decorado com lantejoulas na cabeça, camisola largueirona e guitarra colada ao peito (a antítese da pose de estrela rock, portanto), tem uma fluidez impressionante, como se as notas fossem matéria líquida, infinitamente moldável – sobem em espiral, rodam como dervixes, explodem num crescendo de intensidade. A ladeá-lo, um baterista tão irrequieto quanto talentoso, Riley Geare, e um baixista, Jake Portrait, que serve de âncora a toda a música. Enquanto ao público que já preenchia a tenda gigante se foi juntando público impressionado pelo som que dela brotava, ouve-se essa pérola pop chamada So good at being in trouble, agraciada com sotaque nasalado à John Lennon, e não temos dúvidas. A tenda já está repleta de gente, os aplausos são unânimes, entusiasmados e sinceros, e está encontrado às dez da noite um dos momentos altos do festival.

Depois, ainda ouviríamos os PAUS, viscerais, mostrar como o novo Clarão se transforma em concerto num infernal incitador de transe – e foi ver o headbanging no público agarrado às grades, e foi ver como se geraram rodas de dança, alegremente caóticas, um pouco por todo o lado no palco Heineken. Depois deles, confirmaríamos que os Daughter mantêm em Portugal o seu culto intocado (palco Heineken repleto, naturalmente), ficámos com vontade de reencontrar a elegância electrónica dos Jungle, que actuaram no Nos Clubbing. O Alive entrava na sua recta final. Os Libertines preparavam-se para dar início ao concerto de regresso no palco principal. Mas isso, como dissemos, não ficará para a história.

Ao longo de três dias, o Nos Alive 2014 manteve a sua identidade de festival de massas, demonstrando vontade de manter uma identidade melómana (o equilíbrio possível entre os nomes de culto, as revelações e os blockbusters, chamemos-lhe assim). Não foi certamente a edição mais memorável do festival, mas destacaram-se nele concertos de Arctic Monkeys, Black Keys, Pantha du Prince, Parquet Courts, Buraka Som Sistema ou Unknown Mortal Orchestra. Em 2015, novos protagonistas surgirão. E a história dos Nos continuará.

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