Poluição de cimenteira em Alhandra motiva protestos

Moradores e autarcas queixam-se de poeiras libertadas durante carregamento dos produtos em barcaças no Tejo.

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Autarcas dizem que poluição causada durante os carregamentos é "inaceitável" Pedro Cunha

Episódios de poluição causados pela fábrica de cimento da Cimpor em Alhandra estão a motivar queixas, com autarcas a classificarem a situação como “inaceitável”.

A Comissão de Acompanhamento Ambiental do Centro de Produção de Alhandra da Cimpor (CAACPAC) reclama medidas da empresa que minimizem os problemas de poluição originados, no último mês, naquela vila, pelos processos de carga de clínquer em barcaças.

A cimenteira utiliza esta opção para transporte por via marítima dos materiais que exporta para a América do Sul, mas em dias de vento forte tem havido sérios problemas de propagação de partículas nas zonas habitadas mais próximas, que a Junta de Alhandra e a Câmara de Vila Franca de Xira já consideraram “inaceitáveis”.

A CAACPAC, composta por representantes das autarquias locais, bombeiros, serviços de saúde, protecção civil e associações de defesa do ambiente, exige que “a empresa tome todas as medidas necessárias de molde a garantir que deixe de haver dispersão de poeiras para a vila de Alhandra” e considera que a Cimpor deve “desenvolver todos os esforços para aplicar soluções técnicas que ponham termo ao impacto do carregamento das barcaças na qualidade de vida das populações”.          

O problema já havia sido discutido na última sessão da Assembleia Municipal, com o presidente da Junta de Alhandra, Mário Cantiga (CDU), e o vereador do Ambiente, Fernando Paulo Ferreira (PS), a considerarem “inaceitáveis” as ondas de poluição que se espalham pela zona sul da vila.

Nos últimos anos, com a quebra dos mercados ibéricos, a Cimpor tem canalizado boa parte da produção da sua fábrica de Alhandra – a maior do grupo em Portugal – para a exportação, sobretudo com destino ao Brasil e Paraguai. O calcário existente na zona de Alhandra é de muito melhor qualidade do que o existente na América do Sul e a opção tem sido enviar grandes quantidades de clínquer – matéria base que, misturada com gesso, dá origem ao cimento – para aqueles dois países, através de embarcações de grande porte. Mas, para tal, é preciso carregar barcaças no cais fabril de Alhandra, operação que é feita com recurso a mangas de grande dimensão.

“Estamos hoje muito pior do ponto de vista ambiental. Com aquela actividade na zona de carga da Cimpor, todos os dias há pessoas a queixarem-se e a levarem sacos com cimento à Junta”, afirma Mário Cantiga. “Alhandra já teve qualidade de vida e já teve uma empresa de excelência do ponto de vista ambiental e, neste momento, não temos”, acrescenta.

Já Fernando Paulo Ferreira, vice-presidente da Câmara de Vila Franca com responsabilidades no pelouro do Ambiente, explica que, na semana passada, a edilidade contactou formalmente por duas vezes a Cimpor. “Não se compreende que estas situações ocorram. E, se o vento estiver de sul, o que há a fazer é aguardar e não fazer carregamentos”, sublinha Ferreira.

Em respostas ao PÚBLICO, fonte oficial da Cimpor explica que, no passado dia 20 de Junho, um vento “anormalmente forte” obrigou à suspensão, “de forma imediata e pró-activa” do carregamento de cimento e clínquer. “Apesar da suspensão imediata do carregamento, dada a intensidade das rajadas de vento, verificou-se que poeiras de diversas proveniências, entre elas partículas de clínquer e cimento oriundas da fábrica da Cimpor, afectaram a qualidade do ar da vila", completa a Cimpor.

 

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