Pegar em duas pontas para ver o que sai do meio

Letícia Ramos venceu a décima edição do prémio BESPhoto. Na exposição que apresenta no Museu Berardo, baseada na imagética de ciência, brinca com a percepção e tenta desmontar a verdade sagrada associada às imagens fotográficas (e não só).

Vostok#1
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Vostok#1

Para fazer o que fez na exposição Nós sempre Teremos Marte, Letícia Ramos virou tudo ao contrário. Começou por onde costumava terminar (as imagens), terminou por onde costumava começar (a construção dos mecanismos que as produzem). Por isso, não foi por acaso que, no momento em que subiu ao palanque para receber o prémio BESPhoto 2014, a meio da última semana, a artista brasileira tivesse sublinhado a oportunidade de conceber uma exposição a partir de uma folha em branco. Um ponto zero, que lhe deu o entusiasmo para reunir um conjunto de obras que marcam uma viragem na sua forma de trabalhar.

Até aqui, a produção essencial de Letícia Ramos (n. Santo Antônio da Patrulha, Rio Grande do Sul, 1976) baseava-se no estudo (e construção) dos mecanismos de captação e reconstrução do movimento através do vídeo, da instalação e da fotografia. Agora, é a imagem (ou o ideário a ela associado) que surge primeiro, um esboço que dita a forma como vai ser criada e que condiciona o formato com que vai ser apresentada. Foi assim com Vostok, o filme de oito minutos que fecha a exposição, patente até 7 de Setembro no Museu Berardo, em Lisboa, onde o imaginário de uma viagem de exploração científica a um lago pré-histórico submerso na Antárctida não poderia ter outra forma que não a de um filme e as condições de projecção que imitam a sala de cinema.

O universo das imagens de ciência povoam boa parte da obra de Letícia Ramos, que tem reflectido também sobre a rapidez com que desaparecem e se transformam os processos fotográficos e como esses processos influenciam quer as imagens quer a maneira como as apreendemos. Na apresentação da mostra no Museu Berardo, a artista brasileira resumiu assim a sua filosofia de trabalho: “Gosto de pegar as coisas pelas duas pontas. Gosto da matéria e de brincar com a hibridez das coisas.” Porque, acredita, é dessa mistura que saem as ideias mais interessantes.

Díptico#2
Díptico#2
Fenda
Fenda
Vostok#3
Vostok#3
Teletransporte
Teletransporte
Meteorito#1
Meteorito#1
Meteorito#2
Meteorito#2
Meteorito#3
Meteorito#3
Meteorito#4
Meteorito#4
Meteorito#5
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Paisagem #1
Paisagem #1
Paisagem #2
Paisagem #2
Vostok#1
Vostok#1