E se o Brasil não for favorito?

O Brasil tem novo duelo sul-americano, desta vez contra uma Colômbia que já assusta.

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Brasil está muito dependente de Neymar e Fred tarda em aparecer Marcelo Regua / Reuters

São duas equipas em pólos emocionais diametralmente opostos que se vão encontrar esta sexta-feira, em Fortaleza, nos quartos-de-final do Mundial. Brasil e Colômbia disputam um lugar nas meias-finais, num jogo em que a mente será o factor decisivo.

Que os cafeteros estão altamente moralizados não é novidade e não se trata de simples histeria. A Colômbia chega aos quartos-de-final com quatro vitórias imaculadas, exibindo uma equipa sólida, onde se destaca o prodígio que o mundo está a descobrir: James Rodríguez, que já leva cinco golos na competição.

O percurso dos colombianos permitiu a José Pékerman fazer descansar grande parte da equipa no último jogo do grupo, o que não impediu uma goleada por 4-1 frente ao Japão. Para além disso, os cafeteros ultrapassaram o Uruguai com uma facilidade avassaladora, contrastando com as grandes dificuldades encontradas pela generalidade das outras equipas na mesma fase.

A excitação entre a comitiva colombiana tem sido faseada. A qualificação para o primeiro Mundial em dezasseis anos foi logo vista como uma vitória. Seguiu-se a passagem aos quartos-de-final, que faz desta a melhor campanha da Colômbia em Mundiais. Mas agora há a sensação de que é possível chegar mais além.

O obstáculo chama-se Brasil, que para além de ser a selecção mais vitoriosa a nível mundial é também o país organizador da competição. Mas o peso da “canarinha” parece ser igualmente o seu calcanhar de Aquiles e teme-se que o Maracanazo de 2014 possa chegar.

Ao contrário do entusiasmo vivido entre os colombianos, o Brasil está em período de introspecção profunda. O medo de falhar em casa parece ter tomado conta dos jogadores brasileiros. “Ninguém quer ser Barbosa.” Foi desta forma que Márcio Santos, que foi campeão do mundo em 1994, resumiu o estado de espírito entre os jogadores. Barbosa era o nome do guarda-redes que arcou com as culpas da derrota na final de 1950 contra o Uruguai e que viveu com o fantasma do Maracanazo até ao fim dos seus dias.

Esse sentimento atingiu o auge durante o desempate por grandes penalidades frente ao Chile, quando vários jogadores brasileiros cederam aos nervos perante o receio do falhanço. A imagem de Neymar agarrado em lágrimas a Scolari percorreu o planeta, deixando perceber a fragilidade emocional entre a selecção brasileira.

De regresso ao sossego da Granja Comary, coube a Scolari fazer aquilo que sabe melhor: motivar o grupo para o “mata-mata” que se avizinha. O problema não está na qualidade técnica, mas sim no cérebro – o que pode ser tão ou mais problemático do que a falta de jeito. Chamou-se então Regina Brandão, uma psicóloga especializada em desporto de alta competição, para espantar os fantasmas que assombram os craques brasileiros.

Se a questão mental ficou resolvida, irá ver-se no desenrolar da partida, que promete ser tensa e disputada. Mas Scolari tem outras botas para descalçar, estas já no domínio da táctica. Mais uma vez, o técnico brasileiro será obrigado a mudar a equipa.

Desde logo não poderá contar com Luiz Gustavo, suspenso por acumulação de amarelos. Paulinho deverá regressar ao “onze”, com um recuo de Fernandinho para a posição de trinco. Mas na frente permanecem os problemas. Fred tem estado quase sempre ausente dos processos ofensivos e torna-se gritante a dependência em relação a Neymar, que fez metade dos golos do Brasil.

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