Os The Who fazem anos outra vez e querem festejar no palco e no estúdio

Acabam de anunciar que os seus corpos ainda aguentam mais uma vez os rigores da estrada, celebrando o 50º aniversário com uma nova digressão e a intenção de regressar a estúdio para dar uma irmão mais novo a Endless Wire, de 2006

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O vocalista Roger Daltrey chama-lhe “o início de um longo adeus” AFP PHOTO / NIKLAS HALLE'N

Quem os tenha visto há quase 50 anos, a destruir guitarras em palco, a santificar o feedback e a lançar o caos possível em espectáculos e actuações televisivas, não apostaria certamente quer na longevidade dos The Who enquanto banda, quer na saúde de cada um dos seus membros.

Qualquer banda de rock que se prezasse, aliás, estaria sempre à beira do colapso e da autodestruição. Só com os Rolling Stones fomos, depois, percebendo que afinal o rock podia envelhecer, ganhar artrites, caminhar de forma hesitante, e ainda assim parecer e soar enxuto. Pois também os The Who acabam de anunciar que os seus corpos ainda aguentam mais uma vez os rigores da estrada (certamente em aviões privados e hotéis de cinco estrelas, hoje em dia), celebrando o 50º aniversário com uma nova digressão e a intenção de regressar a estúdio para dar uma irmão mais novo a Endless Wire, de 2006. O vocalista Roger Daltrey chama-lhe “o início de um longo adeus”. Veremos depois do concerto na O2 Arena, em Londres, a 17 de Dezembro, último de uma digressão que arranca a 30 de Novembro, em Glasgow. Mas a digressão poderá ainda estender-se aos EUA e a algumas cidades europeias.

Talvez nenhuma outra banda dos anos de ouro do rock’n’roll inglês tenha percebido tão rapidamente as virtudes das efemérides – separados originalmente em 1982, quando Pete Townshend e Roger Daltrey já não se suportavam e manifestavam planos bastante diferentes para a banda (o guitarrista queria apostar em criações de estúdio, entusiasmado que andava a namoriscar os discos conceptuais, o vocalista queria eternizar-se nos palcos tocando noite após noite os sucessos passados do grupo), em 85 já estavam a reunir-se pela primeira vez e em 1989 a embarcar numa digressão de 25º aniversário de The Kids Are Alright – quando ainda se prestavam a ser confundidos com os Beatles. Agora, os planos parecem ser coincidentes e Townshend parece ter já passado para as mãos de Daltrey três novas canções para os The Who. E vai avisando os incautos para esperarem mais prog rock do que pub rock.

Autores de canções incendiárias como My Generation e Baba O’Riley, mas também dos fundamentos da ópera rock com Tommy, os The Who são hoje Daltrey e Townshend, reforçados por dois músicos substitutos para os lugares do baterista Keith Moon (morte por overdose em 1978) e o baixista John Entwistle (ataque cardíaco após ingestão de cocaína em 2002). É essa formação que se apresentará em nove grandes espectáculos no Reino Unido em Novembro e Dezembro, intitulada The Who Hits 50. “Somos o que somos, e extremamente bons naquilo que fazemos, mas temos sorte em estar vivos e ainda andarmos em digressão”, declarou Townshend. E esperançado em conseguir enganar o contínuo temporal escrevia ainda: “Diria que durante 13 anos, desde 1964, os The Who não existiram, pelo que, na verdade, temos apenas 37.”

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