Death Grips: o adeus chegou escrito num guardanapo

A banda americana anunciou quarta-feira o fim através da sua página de Facebook numa nota escrita num guardanapo. "Estamos agora no nosso melhor e por isso os Death Grips acabaram", lê-se nela.

Foto
A banda de Sacramento editou cinco álbuns desde a estreia em 2011 DR

Há menos de um mês os Death Grips editaram Niggas on the Moon, primeira parte de um álbum duplo, The Powers That B, que é o quinto desde que os descobrimos, com estrondo, na mixtape Ex-Military (2011). Nas oito canções que compõem a metade do novo disco, manipulam a voz de Björk, fã assumida que deu a sua bênção ao projecto – “adoro os Death Grips e estou deliciada por ser o seu ‘objecto encontrado’”, escreveu a islandesa na sua conta de Facebook.

Na sequência da edição, estava marcada, por exemplo, uma digressão americana com arranque marcado para daqui a duas semanas, em que a banda acompanharia os Nine Inch Nails e os Soundgarden. Estava marcada - porque os controversos Death Grips surpreenderam uma vez mais. “Estamos agora no nosso melhor e por isso os Death Grips acabaram”. Assim começa a nota de despedida, escrita num guardanapo e publicada quarta-feira na página de Facebook da banda.

Trent Reznor, vocalista e compositor dos Nine Inch Nails, reagiu com resignação no Twitter. “Desculpas a todos… Como é que fui acreditar alguma vez que estes gajos conseguiriam aguentar-se?” Os promotores do Fun Fun Fest, realizado em Austin, no Texas, que já o ano passado tinham visto os Death Grips cancelarem a sua aparição no festival, recorreram ao humor e responderam ao novo cancelamento utilizando a técnica da banda, uma nota escrita num guardanapo. “Estamos agora no nosso melhor de sempre e por isso na nossa relação com os Death Grips chegou finalmente ao fim – decidimos conscientemente separarmo-nos para sempre; depois de sermos por duas vezes abandonados no altar, tivemos que fazer uma profunda introspecção e perguntarmo-nos se os Death Grips nos amam realmente e se são capazes de amar alguém, e a resposta, infelizmente, é ‘não’”.

O fim da banda pode ser uma surpresa. Não o é o facto de o anúncio surgir de forma inesperada e frustrar tantos os promotores que os contrataram quanto o público que os desejava ver em palco. Nascidos em Sacramento, na Califórnia, os Death Grips são formados pelo vocalista Stefan Burnett (MC Ride), pelo baterista Zach Hill e por Andy Morin (teclas e programação). São autores de uma música apocalíptica, inclassificável, onde confluem hip hop sombrio, electrónica agreste, hard-core ou música industrial, e têm um percurso recheado de polémica. Houve os inúmeros concertos cancelados. Conscientemente cancelados: o material todo montado em palco e a banda a anunciar a ausência quando as salas já estavam lotadas de público e o público, por várias vezes, a reagir destruindo instrumentos e tudo o mais que tivesse à frente. Na nota de despedida, não por acaso, definem-se como “uma exposição de arte conceptual ancorada em som e imagem. Menos e mais que uma ‘banda’”.

Além dos (não) concertos, houve o surpreendente contrato, dada a natureza marginal da banda, com a multinacional Epic, que terminaria depois de os Death Grips, recebido o dinheiro de avanço para a gravação de um novo álbum, decidirem editá-lo online, gratuitamente e sem avisar a editora. O disco, o terceiro da banda, era No Love Deep Web e tinha por capa uma foto do pénis do baterista Zach Hill.

Com um grito niilista alucinado e música que representava de forma inédita a paranóia e as ansiedades desta segunda década do século XXI, os Death Grips ganharam respeito crítico e notoriedade desde que surgiram em 2011 (a Spin, por exemplo, nomeou-os Artistas do Ano em 2012). Depois disso, começaram a dividir opiniões quando da sabotagem da sua relação com a editora e do sucessivo cancelamento de concertos. A edição de Niggas on the Moon mostrou que ainda estavam bem vivos. Até ontem, quarta-feira.

Mantém-se, como previsto, a edição da segunda parte do duplo álbum anunciado, intitulada Jenny Death, mais próximo do final do ano.

Sugerir correcção
Comentar