Sem crescimento a UE não tem futuro, avisa Matteo Renzi

A Itália envia duas mensagens. É preciso rigor e crescimento. E sobretudo reencontrar a “alma da Europa” para haver futuro

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“Sim à estabilidade, mas sem crescimento a Europa morre", disse Renzi Vincent Kessle/Reuters

O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, apresentou esta quarta-feira ao Parlamento Europeu as grandes linhas da presidência italiana da UE. Começou por uma imagem: “Se a Europa fizesse um selfie, que imagem apareceria? O rosto do cansaço e em certos casos de resignação. A Europa mostraria a face do aborrecimento. No entanto, lá fora, o mundo corre a uma extraordinária velocidade.”

A primeira mensagem está nesta frase: “Sim à estabilidade, mas sem crescimento a Europa morre. É um problema de todos e não só italiano. A Itália não pede à Europa que resolva os nossos problemas. Sabemos que temos de ser nós a mudar.” Prosseguiu: “Não queremos mudar as regras, mas também queremos crescimento, tal como estava previsto no pacto fundador assinado pelos nossos pais.”

“[A Itália sabe que a UE] não pode desvalorizar a questão financeira, [como também] não vai pedir à Europa mudanças que ela não tem condições para fazer, mas dizer-lhe que somos os primeiros a saber da necessidade de mudar. (...) A questão económica e a discussão do último conselho não se reduzem ao pedido de mudar as regras por alguns países. Assinámos em conjunto um pacto de estabilidade e crescimento. Não só de estabilidade. E a reivindicação não é para um único país, mas para toda a Europa.”

Enfatizou um ponto: “O grande desafio do semestre será não apenas agendar medidas e encontros, mas reencontrar a alma da Europa e o sentido de estarmos juntos. Se queremos unir burocracias, à Itália já chega a que tem. Há uma identidade a reencontrar.”

“Não interessa julgar o passado, queremos começar o futuro e já. O mundo corre mais depressa: queremos recuperar o nosso gap ou não? Sobre a investigação, a mudança climática, ou o capital humano. Não haverá nenhum espaço para a Europa, se continuarmos a ser apenas uma expressão geográfica.” Esta é a segunda mensagem.

Aos eurodeputados pediu que lancem o desafio de uma maior “simplicidade” no funcionamento das instituições europeias, “para que a Europa seja um pouco mais smart”.

Na mesma linha tocou o tema do eurocepticismo inglês. “Uma Europa sem o Reino Unido seria menos rica e seria menos Europa." Cameron enviou-lhe um tweet simpático.

Confronto com o PPE
No debate, o alemão Manfred Weber, novo líder da bancada do Partido Popular Europeu (PPE, conservador), lançou uma ataque cerrado a Renzi, a propósito da “flexibilidade” orçamental.

“A Itália tem uma dívida de 130%, onde vai buscar o dinheiro? As dívidas não criam futuro, destroem-no. (...) Renzi quer mais tempo para fazer as reformas, Barroso deu mais tempo à França, mas ninguém viu as reformas."

Renzi respondeu-lhe que não aceita lições do PPE. “Se Weber fala em nome da Alemanha, recordo-lhe que nesta mesma sala, sob a anterior presidência italiana, [a Alemanha] foi o único país ao qual foi concedida flexibilidade e que violou os limites para ser hoje um país que cresce.” Esta troca de “galhardetes” anuncia os confrontos que esperam a presidência italiana.

A presidência semestral não é um lugar de poder, mas de iniciativa, mediação e aceleração das decisões. A eficácia “europeia” de Renzi muito dependerá da relação de confiança que estabelecer com Angela Merkel e das lições que os governos europeus tenham tirado das eleições de 25 de Maio.

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