Tesouro chega a gestores de fundos norte-americanos com emissão de 4500 milhões de dólares

Colocação de dívida em dólares obtém forte procura nos EUA. Custos adicionais em relação a anteriores emissões são compensados por diversificação da base de investidores, diz o Governo.

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João Moreira Rato quer entrar em 2015 com dois terços das necessidades de financiamento do Estado asseguradas Miguel Manso

O objectivo era chegar aos investidores norte-americanos que normalmente não investem em euros e foi alcançado esta quarta-feira com a emissão de 4500 milhões de dólares de dívida pública portuguesa, a maior operação do género realizada por países europeus desde 2005, segundo as contas do presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública - IGCP.

A colocação de obrigações de tesouro portuguesas a 10 anos, denominadas em dólares, atraiu, como revela João Moreira Rato em declarações ao PÚBLICO, uma procura de 10.000 milhões de dólares. Desse valor, o Tesouro português decidiu emitir 4500 milhões de dólares (cerca de 3375 milhões de euros).

O responsável máximo da entidade que gere a dívida pública portuguesa assinala ainda que 86% da procura foi proveniente de investidores residentes nos Estados Unidos. "Há liquidez nos mercados norte-americanos que não chega ao euro. Captámos gestores de fundos dos Estado Unidos que não investem em euros. Era aí que queríamos chegar", afirma Moreira Rato, que classifica a operação como "um sucesso".

Em declarações feitas ao Jornal de Negócios, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho disse que a emissão "tem um significado muito especial porque atraiu investidores que são importantes".

A taxa de juro obtida ficou 260 pontos base acima das taxas de juro de referência dos títulos de dívida pública norte-americanos, o que representa, aos valores actuais do mercado, uma taxa próxima de 5,2%. João Moreira Rato afirma que "este valor corresponde, em euros, a 3,65%".

Esta é a taxa de juro que resultaria de acrescentar o spread de 260 pontos base à taxa de referência da dívida alemã a 10 anos em vez da dívida norte-americana. "Se se fizer as coberturas [cambiais] todas - e nós já fizemos a maior parte - o que conta são os 3,65%", diz.

A última emissão de obrigações a dez anos em euros e através de um leilão realizou-se a 11 de Junho, altura em que o Tesouro conseguiu levantar no mercado 975 milhões de euros, suportando uma taxa de juro média de 3,25%. Actualmente, as taxas de juro a dez anos praticadas nos mercados estão próximas de 3,5%.

A taxa de juro mais alta agora registada e os custos adicionais relacionados com as coberturas cambiais que têm de ser realizadas não preocupam os gestores da dívida portuguesa, que assinalam a vantagem que constitui chegar a investidores que, de outra forma, não apostariam em Portugal.

"Estamos realmente a pagar um pouco mais", afirma Pedro Lino, administrador da corretora Dif Brokers. Este analista destaca contudo que esta operação "oferece a possibilidade de diversificar a base de investidores em dívida portuguesa", num cenário em que "é muito difícil os americanos investirem em euros". 

A emissão em dólares foi realizada com o apoio de um sindicato bancário — formado pelo Barclays, o Danske Bank, o HSBC e o Société Générale — responsável por angariar investidores e, assim, dar à partida mais garantias de sucesso à emissão de dívida. A operação acontece depois de o IGCP ter realizado um road-show nos Estados Unidos, para estabelecer contactos e identificar o interesse de investidores norte-americanos pela dívida portuguesa. 

A entrada de mais 3375 milhões de euros nos cofres do Estado acontece numa altura em que Portugal já está totalmente dependente do financiamento dos mercados, depois de ter abdicado da última tranche do empréstimo da troika.

A estratégia tem sido a de acumular uma almofada financeira de dimensão suficiente que dê aos investidores uma confiança acrescida de que Portugal terá capacidade para fazer face aos seus compromissos. Ter essa almofada financeira representa, é claro, um custo adicional em juros.

O financiamento para 2014 já estará assegurado e o presidente do IGCP, João Moreira Rato, já traçou como meta chegar a 2015 com dois terços das necessidades de financiamento desse ano asseguradas.

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