Morreu Paul Mazursky, o cronista da “nova América” dos anos 1970

Menos recordado que alguns contemporâneos, o realizador assinou alguns dos filmes mais aclamados da época, como Uma Mulher Só

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Paul Mazursky fotografado em Novembro de 2012 em Beverly Hills, Califórnia Jason Redmond/REUTERS

Na década de 1970, que foi uma idade de ouro para o cinema americano, Paul Mazursky, actor, realizador e argumentista nova-iorquino falecido esta segunda-feira em Los Angeles, aos 84 anos de idade, foi um dos seus nomes mais aclamados. Embora nunca tenha atingido a proeminência de contemporâneos como Francis Ford Coppola, William Friedkin ou Brian de Palma, Mazursky foi nomeado por cinco vezes para o Óscar e assinou alguns dos filmes mais emblemáticos do cinema americano “livre” desse período.

O crítico Richard Corliss, citado pelo jornal New York Times, definiu-o em tempos como “o cineasta representativo dos anos 1970; nenhum outro argumentista terá explorado tão a fundo (...) esta década fascinante e mal-amada.”

Comentando agora a morte do seu amigo de longa data na rede social Twitter, o actor e realizador Mel Brooks não hesitou em chamar-lhe “o Fellini americano” e “um dos mais talentosos realizadores e argumentistas de sempre”.

Entre as obras mais conhecidas de Paul Mazursky (1930-2014) contam-se Bob, Carol, Ted e Alice (1969), sobre dois casais que começam a explorar o amor livre, Paragem no Bairro Boémio (1975), autobiografia ficcionada na Greenwich Village dos anos 1960, e, sobretudo, Uma Mulher Só (1977), acompanhando a reaprendizagem da vida por uma mulher (Jill Clayburgh) que o marido trocou por outra. 

Uma Mulher Só foi a única das suas 15 realizações a ser nomeada para o Óscar de Melhor Filme; as restantes quatro nomeações que Mazursky recebeu foram como argumentista: Bob, Carol, Ted e Alice, Harry e Tonto (1974), Uma Mulher Só e Inimigas e Amantes, uma História de Amor (1989).

Foi, aliás, o guião que escreveu (com Larry Tucker) para A Borboleta Vermelha (1968), de Hy Averback, sobre um advogado (Peter Sellers) que se torna hippie, que lhe abriu as portas de Hollywood. Mas foi como actor que Mazursky iniciou a sua carreira, participando na primeira realização de Stanley Kubrick, Fear and Desire (1953), em Sementes de Violência (1955), o drama escolar que ajudou a popularizar o rock'n'roll, e em séries televisivas como a Quinta Dimensão

Na sequência de A Borboleta Vermelha, Mazursky tornou-se num dos mais activos exploradores do modo como os novos comportamentos trazidos pela revolução cultural dos anos 1960 começaram a influenciar o mainstream da sociedade americana. E, tal como os seus contemporâneos, o cineasta nunca enjeitou a influência do cinema de autor europeu – Federico Fellini e Jeanne Moreau fizeram breves aparições no seu segundo filme como realizador, Alex no País das Maravilhas (1970), e O Trio do Amor (1980) assumia abertamente a sua dívida a Jules e Jim, de François Truffaut. 

Se os seus filmes mais recordados são os da década de 1970, seria mais tarde que Mazursky assinaria alguns dos seus maiores êxitos comerciais, mantendo intacta a dimensão cinéfila; é o caso de Um Vagabundo na Alta Roda (1986), remake de Boudu Querido, de Jean Renoir, com Nick Nolte como um sem-abrigo que altera por completo a vida do casal de Beverly Hills que o acolhe. 

O último filme que dirigiu para o grande écrã foi a comédia Fielmente Teu (1996), adaptação de uma peça de Chazz Palminteri com Cher no papel principal, tendo posteriormente dirigido alguns telefilmes. 

Nos últimos anos trabalhou sobretudo como crítico de cinema para a revista Vanity Fair, e teve pequenos papéis secundários recorrentes nas séries televisivas Calma, Larry e Os Sopranos

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