Sophia continua "deslumbrantemente actual"

"Toda a gente entende o que ela escreve", disse Miguel Sousa Tavares, filho da poetisa Sophia de Mello Breyner Adresen, numa sessão de homenagem à autora

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O escritor Miguel Sousa Tavares disse, na noite de quarta-feira, que a melhor homenagem que se pode prestar hoje a Sophia de Mello Breyner Andresen é o reconhecimento de que a sua obra continua "deslumbrantemente atual". O jornalista, filho da poetisa, afirmou que, perante um país "onde a seleção nacional vale mais do que a língua" e que é caracterizado pelo "novo-riquismo" e pela "piroseira literária", "a melhor homenagem que se pode fazer à escrita de Sophia, dez anos após a sua morte, é reconhecer que ela continua deslumbrantemente atual".

"Pedra, luz, fruto, manhã, mar, vento, nisto todos nos reconhecemos, por isso citamos de cor os seus poemas e passamos de geração em geração os seus livros infantis, com que tantos de nós aprendemos o fascínio da leitura", realçou Miguel Sousa Tavares, no seu dia de aniversário, durante uma sessão do "Porto de Encontro" numa Casa da Música praticamente completa.

O escritor, que momentos antes havia lido "Caminho da manhã" por, entre várias razões, resumir "em si tudo o que é a essência da criação literária" da sua mãe, recebeu a maior ovação da noite que concluiu lembrando que se assinalavam na quarta-feira "demasiados anos" desde que a homenageada lhe havia dito pela primeira vez: "Miguel, olha o mundo".

Numa noite que contou com a participação de vários membros da família e de especialistas literários, Miguel Sousa Tavares sublinhou que Sophia de Mello Breyner Andresen é uma autora "que não precisa nem de crítica nem de explicações" e que, por esse motivo, sempre pôde "dispensar da crítica, pois foi direta ao coração dos leitores, onde conquistou um espaço indestrutível". "Porquê? Porque toda a gente entende o que ela escreve", respondeu Sousa Tavares perante uma plateia que incluía diversas figuras da cidade, desde o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, ao reitor da Universidade do Porto, José Marques dos Santos. O professor universitário Carlos Mendes de Sousa ecoou palavras que havia dito à Lusa na semana passada acerca da escrita de Sophia: "Não há enfeite, não há ornamento, é difícil perceber isso, mas não há palavras a mais".

Numa altura em que se aproxima o marco dos 10 anos volvidos sobre a morte de Sophia de Mello Breyner, com a sua trasladação para o Panteão Nacional, o ator e encenador Luís Miguel Cintra, que declamou vários dos poemas na sessão organizada pela Porto Editora, resumiu: "Quem conviveu com ela, quem assistiu à sua maneira de estar na vida nunca mais será o mesmo."

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