Precariedade, bebé do governo

Há sete meses o McDonalds despediu ilegalmente várias dezenas de trabalhadoras, entre as quais estavam, curiosamente, algumas que tinham engravidado ou que estavam com horário de amamentação

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Regis Duvignau/ Reuters

Os últimos meses foram triunfais para o Governo, apesar de alguns contratempos. Há sete meses o McDonalds despediu ilegalmente várias dezenas de trabalhadoras, entre as quais estavam, curiosamente, algumas que tinham engravidado ou que estavam com horário de amamentação. No fim de Maio, o ministro Pedro Mota Soares assinou protocolo com a mesma multinacional para utilizar o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) como agente de recrutamento de 600 trabalhadores até 2016. Grande triunfo! Recentemente Joaquim Azevedo, consultor do Governo para a natalidade, veio denunciar que há empresas que obrigam as mulheres a não engravidar durante cinco anos. Mota Soares correu imediatamente a apelar à denúncia: que vergonha comportamentos destes!

Pouco depois, o mesmo ministro anunciou a maior queda do número de desempregados inscritos nos centros de emprego em seis anos. Que triunfo! Mas os desempregados, em vez de passarem a empregados, passaram a “ocupados”, isto é, foram fazer formações obrigatórias do IEFP, deixando de contar como desempregados inscritos nos centros.

Mas a batalha continua: Paulo Portas assinou com a Portucel um acordo de 56 milhões de euros, 15 milhões dos quais são benefícios fiscais concedidos à empresa de celulose, para criar 10 postos de trabalho! 1,5 milhões de euros à cabeça, um importante triunfo para os 0,0001% de desempregados beneficiados! Entretanto, saíram os últimos números da emigração: aos 100 mil de 2011 e aos 120 mil de 2012, juntaram-se mais 128 mil expatriados em 2013. O país perdeu 350 mil pessoas em três anos.

Na semana passada, no Parlamento, o primeiro-ministro disse ao líder parlamentar do CDS-PP que “não há precariedade, mas há estabilidade laboral”. Aqui sim, triunfo incontestável! Coelho falava da criação de emprego e da baixa dos números de desemprego anunciada por Mota Soares. A subida dos contratos sem termo, era um triunfo mais modesto: há menos 130 mil contratos sem termo do que há três anos, e os contratos sem termo de hoje valem menos do que os de há três anos.

Mas valham-nos os estágios! Com pompa, o primeiro-ministro juntou-se à comemoração da criação de 500 estágios pela Nestlé, que pretende recrutar 10 mil trabalhadores em toda a Europa nos próximos três anos, todos com menos de trinta anos. Um grande triunfo para os sortudos 0,3% de jovens desempregados portugueses e para os 0,05% de desempregados europeus que vão usufruir da oferta. Passos aplaudiu a multinacional ao lado de Mota Soares, Paulo Portas e Durão Barroso em mais este triunfo na Fundação Champalimaud, agradecendo à Nestlé por “fornecer emprego a jovens” e aconselhando outros empresários a criarem estágios para os jovens portugueses. O triunfo da estabilidade!

Com base em tantos e sucessivos triunfos e com tamanha estabilidade, Passos Coelho afirmou, num lar de idosos em Sintra, que a prioridade europeia para os próximos anos deve ser a natalidade. Com tantos e tão sólidos triunfos e estabilidade, as pessoas só têm uma coisa a fazer: bebés!

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