Sínodo sobre a família deve abrir caminho a Igreja mais acolhedora

Documento de trabalho para a reunião de Outubro excluiu mudanças na doutrina, mas propõe nova atitude pastoral em relação aos divorciados e homossexuais.

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Francisco quer uma Igreja que condene menos e perdoe mais Alberto Pizzoli/AFP

A Igreja deve julgar menos e ser mais acolhedora com os fiéis que vivem em situações contrárias à sua doutrina, sejam os casais homossexuais ou os divorciados que voltam a casar, adianta o documento de trabalho que servirá de base ao Sínodo dos bispos sobre a família que vai realizar-se em Outubro no Vaticano. Mas ao mesmo tempo que propõe uma nova atitude pastoral, o documento deixa claro que não haverá espaço para mudanças doutrinais.

O Instrumentum Laboris parte da análise ao inquérito enviado no ano passado às dioceses de todo o mundo para perceber como os fiéis encaram os ensinamentos da Igreja sobre a família e a moral sexual – uma iniciativa inédita que permitiu confirmar o fosso que existe, sobretudo nos países desenvolvidos, entre o que é dito no púlpito e aquilo que a maioria dos católicos pensa e pratica.

O documento divulgado nesta quinta-feira atribuiu muita desta distância ao desconhecimento da doutrina e a uma “cultura hedonista, ao relativismo, materialismo e individualismo” que dominam a sociedade actual. Mas reconhece o desconforto dos crentes com uma Igreja que tem sido rápida a condenar e a excluir. “As respostas lamentam que as pessoas que são separadas, divorciadas ou pais solteiros não se sintam bem-vindas em algumas paróquias” e que “a Igreja não seja vista como inclusiva”. Neste sentido, acrescenta, “é necessária uma pastoral mais aberta e positiva, capaz de restaurar a confiança na instituição através de um testemunho credível de todos”.

A situação dos divorciados recasados, excluídos de sacramentos como a comunhão, tem sido apontada como uma das mudanças que pode sair da grande reunião dos bispos a que o Papa presidirá entre 5 e 19 de Outubro. Bruno Forte, secretário especial para o Sínodo, disse nesta quinta-feira que a Igreja reconhece a “verdadeira urgência pastoral” de dar resposta aos que se sentem excluídos. Mas insistiu que a doutrina sobre a indissolubilidade do casamento não está aberta a discussão. “Este Sínodo não abrirá caminho, como alguns antecipam, à figura do divórcio católico”, afirmou o prelado italiano.

O documento reafirma também a condenação do aborto, dos métodos de contracepção artificial e mostra-se intransigente na defesa do casamento como união entre homem e mulher com o propósito da procriação. Mas, em sintonia com aquilo que tem sido o discurso do Papa Francisco "Se uma pessoa que procura Deus de boa vontade, e é gay, quem sou eu para a julgar?", disse numa já célebre intervenção no ano passado mostra-se mais reticente em condenar a homossexualidade, que há ainda não muito tempo o Vaticano descrevia como “uma desordem intrínseca”.

A Igreja tem de encontrar um equilíbrio entre a defesa da família tradicional “e uma atitude de respeito e de não julgamento das pessoas que vivem nestas uniões”, lê-se no documento, lembrando ainda que a maioria dos que responderam ao inquérito entendem que não deve ser negado o baptismo às crianças destes casais, que “devem ser recebidas com o mesmo cuidado, carinho e preocupação dados a todas as outras”.

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