“E o Brasil ficará sem a simpática mãe pátria na Copa”

No dia em que Portugal se despediu do Mundial, a Fan Fest de Copacabana tinha os olhos postos no Alemanha-EUA.

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O FIFA Fan Fest na praia de Copacabana não estava feito para portugueses, mas a selecção nacional não deixou de ter apoios ainda que de adeptos menos convencionais. Face ao grande número de turistas alemães e americanos no Rio de Janeiro, a opção em exibir a partida de Recife foi óbvia para a organização do evento. Pelo meio, iam chegando informações de Brasília, onde Portugal e o Gana procuravam, à mesma hora, alcançar o milagre de chegar aos oitavos-de-final.

No meio da animada multidão que se concentrou no areal junto ao palco onde estava o ecrã gigante da FIFA, Eduardo seria um dos raros portugueses. Pelo menos era o único a exibir-se como tal. Embrulhado com a namorada inglesa numa bandeira nacional, quando chegou o intervalo, ainda tinha esperanças no apuramento da equipa orientada por Paulo Bento. Um autogolo dos ganeses na primeira parte ia dando vantagem às cores nacionais, mas o resultado ainda era curto e o empate que persistia entre EUA e Alemanha não ajudava.

Rodeado de adeptos germânicos, Eduardo era um dos mais fervorosos apoiantes da selecção de Joachim Low ao início da tarde desta quinta-feira. Nem sempre foi assim. Há dez dias, estava nas bancadas do estádio Fonte Nova, em Salvador, a assistir ao massacre dos portugueses e rogando pragas aos alemães que golearam, por 4-0. O Mundial do Brasil seria a fase final de uma longa viagem do português, de 26 anos, que estuda em Londres, e da sua companheira Hannah.

Durante seis meses percorreram a América do Sul, atravessando Argentina, Bolívia, Perú e Equador. Pouparam durante seis meses para realizarem o projecto dos seus sonhos, que terminará esta segunda-feira no Rio de Janeiro. “A Alemanha é muito superior aos EUA e está a jogar bem. Se Portugal marcar mais um ou dois golos, chegamos aos oitavos-de-final”, antecipava.

Um pouco atrás um pequeno grupo, cercado por americanos, exibia camisolas da selecção portuguesa, mas quando o PÚBLICO se aproximou, percebeu que nenhum falava português e a única afinidade que os juntava era a admiração por Cristiano Ronaldo. Entre eles, estava um jovem norte-americano, chamado apropriadamente Mark Anthony. Tal como o antigo general romano, também este californiano desafiou a sua pátria com uma “traição”. Esta não foi despoletada pelo charme de Cleópatra, mas pela magia sedutora de CR7.

A partida recomeçou no “telão” e o grupo de “portugueses”, que incluía um francês, um argelino (com a camisola do Sporting, onde alinha o seu compatriota Islam Slimani) e dois brasileiros vindos da Austrália, voltou a concentrar-se no jogo. Aos 55 minutos do encontro vibraram com o golo de Muller, que colocava a Alemanha em vantagem, mas instantes depois surgia a informação de que o Gana empatara o jogo em Brasília. Foi o desânimo. O apuramento voltava a ser uma miragem.

O golo de Ronaldo, que deu a vitória a Portugal, acabou por ser mais festejado pelos americanos, que estavam essencialmente preocupados com a hipótese da equipa africana vencer e colocar em risco a passagem dos EUA à fase seguinte, face à diferença de golos menos desnivelada entre as duas selecções. Os dois encontros terminaram, quase em simultâneo, sem mais alterações no marcador. No aparelho de som o speaker lamentou o adeus de Portugal ao Mundial: “E o Brasil ficará sem a simpática mãe pátria na Copa.”

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