Um jornal a chorar

Foi difícil o dia de hoje aqui na redacção, Miguel. Fizemos o luto juntos, entre abraços e muitos telefonemas, enquanto arranjávamos maneira de nos concentrarmos no dia de trabalho que tínhamos pela frente.

Já não foi nada fácil fazer este jornal sem ti nas semanas relâmpago que estiveste internado no hospital. Fazias-nos falta em tudo, a todas as horas. Nas reuniões, nas conversas de corredor, nas discussões sobre o que escrever sobre a Ucrânia ou o Seguro. Faziam falta os teus mails a chamar à atenção para isto ou para aquilo, e tuas folhas Excel com o planeamento que mandavas todas as semanas, a tua persistência para fazer as coisas acontecer, a tua presença segura na redacção. Nem acredito que vou escrever isto, mas até me faziam falta os teus telefonemas quando eu estava de folga para falarmos de trabalho. Mesmo aqueles que eu não atendia.

Nestas semanas relâmpago que estiveste no hospital, todos dias, quando mandava o plano de trabalho para a redacção do Mundo, recebia a mensagem “a caixa de correio de Miguel Gaspar está cheia” para me lembrar logo de manhã a tua ausência. Hoje não mandei mail. Hoje, aqui na redacção, foi chorar e escrever. Amanhã o teu jornal estará nas bancas.

(editora do Mundo)

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