Costa coloca pressão nas distritais que ainda não reuniram para decidir directas e congresso

A Comissão Nacional do PS debate este domingo a realização de um congresso e de directas para líder, mas o assunto pode ficar adiado, à espera das distritais

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Nelson Garrido
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O PS reúne este domingo a sua Comissão Nacional (CN) num clima de grande tensão interna. O incidente de sexta-feira na distrital de Braga, que aprovou por uma esmagadora maioria a realização de directas e de congresso extraordinário, evidencia o momento de crispação que o partido respira. Braga é o distrito por onde António José Seguro foi cabeça de lista dois mandatos, mas desta vez está ao lado de Costa.

O presidente da Câmara de Lisboa vai à reunião sem ter ainda conseguido  a maioria das federações do partido e dos militantes, mas respaldado no apoio de peso de muitas figuras socialistas, entre eles alguns secretários-gerais. Mário Soares, Ferro Rodrigues e José Sócrates já manifestaram o apoio ao presidente da Câmara de Lisboa, reclamando uma resolução rápida, como forma de evitar maiores danos nesta querela interna entre “seguristas” e “costistas”.

O presidente da Câmara de Lisboa sabe vai ser difícil fazer vingar a sua proposta, porque António José Seguro mantém-se irredutivel na realização de primários a 28 de Setembro, mas também sabe que tem ainda pela frente outras oportunidades para chegar à liderança do partido.

Neste momento, das 11 federações que se reuniram, Costa conta com oito do seu lado (Açores, Algarve, FAUL, Braga, Castelo Branco, Évora, Portalegre e Vila Real), que aprovaram a convocação de um congresso extraordinários antecedido de directas para a eleição do secretário-geral. As outras três Beja, Setúbal e Viseu) estão em total sintomia com a estratégia de António José Seguro.

As federações de Aveiro, Bragança, Coimbra, Guarda, Leiria, Madeira, Porto, FRO (Federação Regional do Oeste), Santarém e Viana do Castelo ainda não reuniram e sobre estas recai agora uma enorme pressão.

Mas há uma grande dinâmica à volta da candidatura de António Costa. A votação de ontem da comissão regional dos Açores foi esmagadora. Os militantes aprovaram por unanimidade uma deliberação a propor aos órgãos nacionais do partido a realização de directas e de um congresso extraordinário. A moção manifesta também o apoio a António Costa na liderança do partido.

A proposta, que será apresentada hoje à CN solicita a convocação de um congresso “o mais rapidamente possível, antecedido de eleições directas, de forma a que seja possível ao PS nacional rapidamente ultrapassar esta fase que vive neste momento e concentrar-se naquilo que é essencial: soluções para os portugueses e soluções para o nosso país”, declarou o líder regional dos socialistas açoriano, Vasco Cordeiro.

A necessidade de combater o “caminho do empobrecimento, do desinvestimento e da austeridade” que o país segue, justifica a “urgente e imprescindível” realização de um congresso, sustenta a moção, aprovada pelos 47 membros da comissão regional presentes na reunião, retaliada na Praia da Vitória.

Para que isso aconteça. É condição essencial que o PS esteja devidamente orientado para a construção de uma solução de governo, dotado de uma liderança carismática e agregadora da participação política, dentro e fora das fronteiras partidárias", frisa a moção, concluindo que Costa personifica o melhor programa alternativo para o país. "Essa alternativa, essa confiança e essa esperança são particularmente visíveis no projecto liderado” por António Costa, sublinha na moção proposta pelo sucessor de Carlos César, um dos impulsionadores da candidatura do presidente da Câmara de Lisboa.

Mas Costa conta com o apoio de muitas concelhias. Das mais de 60 concelhias que se reuniram todas votaram favoravelmente a pretensão do autarca de Lisboa. A distrital o Porto ainda não reuniu para discutir a proposta de António Costa, mas a concelhia, liderada por Manuel Pizarro, aprovou (34 votos a favor e 12 contra) uma deliberação a propor aos órgãos nacionais do partido a realização de directas e de um congresso extraordinário.

Apoiante de Costa, Manuel Pizarro está preocupado com o clima instalado no partido e pensa que “se calhar a melhor estratégia” seria “trabalhar para as primárias”. “Não vale a pena alimentar este confronto”, afirmou em declarações ao PÚBLICO.

 “Se o debate continuar neste tom crispado, o PS sofrerá sequelas muito grandes”. E dispara na direcção de Seguro: “Isto que a direcção do PS está a fazer põem em causa princípios basilares como a tolerância”. E acrescenta: “O PS é um partido de homens e mulheres livres”. Do seu ponto de vista, “há uma tentativa inédita de condicionamento das pessoas no sentido de abdicarem da sua liberdade de pensamento em nome de um julgamento moral que não tem lugar nesta história”.

Ao PÚBLICO, Pizarro lamenta “os sinais das últimas semanas com o nível de quase insulto pessoal utilizado pelos adeptos dos secretário-geral com ausência de diálogo efectivo sobre as regras da realização das primárias que são um péssimo sinal e que fazem temer o pior”.

Pode ainda não ser desta vez que Costa consiga fazer vingar a sua tese, mas o presidente da Câmara de Lisboa já disse que está disponível para todos os combates para chegar à liderança do PS.

Resta saber, o que é que a presidente do partido, Maria de Belém Roseira, vai fazer. Se usa o parecer que solicitou à Comissão Nacional de Jurisdição e que se pronunciou contra a realização e directas e de um congresso extraordinário, por entender que viola os estatutos, ou se o mantem na gaveta, uma vez que não é vinculativo.

com Tolentino de Nóbrega

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