Futebol sem golos também pode ser uma arte

Brasil e México empataram a zero, em Fortaleza, no início da segunda jornada do Grupo A, numa partida em que brilhou Ochoa.

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O México travou o Brasil Sergio Moraes/Reuters

O jogo 50 de Luiz Filipe Scolari à frente da selecção brasileira foi o primeiro em que o antigo seleccionador português não venceu uma partida num Campeonato do Mundo e o mérito é inteirinho do México. No “Castelão”, em Fortaleza, os mexicanos realizaram uma grande exibição e, com uma táctica perfeita e uma soberba prestação de Guillermo Ochoa, adiaram para a última jornada as decisões no Grupo A. Apesar de o guarda-redes do Ajaccio ter sido o homem do jogo, a selecção comandada por Miguel Herrera defrontou o Brasil olhos nos olhos e nunca abdicou de procurar a vitória.

O primeiro nulo do Mundial 2014 (Irão-Nigéria) foi justamente definido pelo jornal espanhol Marca como uma “homenagem ao antifutebol”, mas o segundo 0-0 ficará certamente na história da prova como uma das partidas mais intensas e bem jogadas da competição. Num encontro repleto de ocasiões para ambos os lados, Miguel Herrera venceu a batalha táctica com Luiz Filipe Scolari e tirou as dúvidas aos mais cépticos: este México será um “osso duro de roer” para qualquer adversário.

Miguel Herrera não tinha nenhum trunfo guardado na manga para o segundo jogo no Brasil e o México que surgiu em campo, foi uma equipa decalcada da que tinha vencido (e convencido) na estreia contra os Camarões. Com o 5x3x2 habitual, Herrera voltou a abdicar da “estrela” Javier Hernandez e, com um conjunto equilibrado e arrojado, anulou e assustou a “canarinha” durante os 90 minutos — os primeiros 15 minutos da segunda parte, por exemplo, foram de domínio completo do México que ameaçou várias vezes a baliza de Júlio Cesar.

Ao contrário do seu colega mexicano, Scolari foi obrigado a mexer no seu “onze-fetiche”. Sem Hulk, que não recuperou de uma lesão muscular na coxa, “Filipão” lançou Ramires, mas a aposta do seleccionador brasileiro revelou-se um “flop”. Perante uma equipa mexicana com uma defesa competente e reforçada, a entrada do ex-benfiquista para o lugar do ex-portista retirou velocidade e criatividade ao ataque brasileiro — as características de Bernard, que entrou na segunda parte, assemelham-se mais às de Hulk.

Com Rafa Márquez a liderar a defesa e José Juan Vásquez a confirmar, no meio-campo, que é um sério candidato a jogador revelação do Mundial, o México desde o primeiro minuto mostrou que não estava em Fortaleza apenas para defender. E, se no ataque, Peralta e Giovani dos Santos (sempre bem acompanhados por Herrera e Guardado) eram um perigo constante para a defesa do Brasil, atrás Guillermo Ochoa deu espectáculo. O guarda-redes mexicano, que nas últimas três épocas representou o Ajaccio (a formação da Córsega ficou no último lugar do campeonato francês) esteve intransponível e realizou a melhor exibição de um guarda-redes até ao momento no Mundial.

A mão cheia de grandes defesas de “Memo” Ochoa (a realizada ao minuto 26 após um remate de cabeça de Neymar ficará certamente na história como uma das melhores do Mundial 2014) e a tradição (o Brasil apenas venceu dois dos últimos nove jogos frente ao México) ajudam a explicar o primeiro revés de Scolari, mas sem Hulk, a “canarinha” tornou-se ainda mais dependente de Neymar, o que será um problema sério para os brasileiros quando encontrarem pela frente selecções organizadas tacticamente como o México.

No entanto, se para os mexicanos o precioso empate serve para reforçar a candidatura a um lugar nos oitavos-de-final, para o Brasil os dois pontos perdidos parecem ser apenas um pequeno percalço que impedirá Scolari de dar “folga” a alguns dos seus trunfos na última jornada, frente aos Camarões.

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