Luís faz de desperdícios verdadeiras ideias luminosas

De cabides da Tezenis pode fazer-se um candeeiro, de frascos de perfume podem nascer anéis. Para este auto-didacta não existem desperdícios — existe matéria-prima

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Fabrice Ziegler

Plástico, vidro, madeira, caixas de perfumes, cabides, cartão. Todo o tipo de desperdícios pode ser utilizado por Luís Teixeira, “curioso do design e auto-didacta”, como matéria-prima. Depois dos candeeiros, o financeiro está a apostar em joalharia e tem um projecto de mobiliários na calha.

Recuemos. Estávamos em 2005 quando a Tetra Pak, empresa onde Luís Teixeira trabalha e que é também responsável “pelo bichinho da reciclagem”, lançou um concurso de design. Aventurou-se com um candeeiro feito em tampinhas e levou o primeiro prémio. A partir daí não parou mais.

O objectivo do 1961ecodesign é “reduzir desperdícios de pré ou pós-consumo” com alterações das politicas ambientais de empresas (e de cada indivíduo). “Uma empresa que tenha desperdícios e que queria encontrar uma solução para esses desperdícios pode contactar-me e eu tento encontrar uma solução. Dessa forma as empresas estão a potenciar a sua imagem ambiental”, disse ao P3 numa entrevista telefónica.

Sem “encomenda” da empresa, Luís Teixeira desenvolveu aquilo que poderia ser um projecto da Tezenis, empresa italiana do grupo Calzedonia. Ao passar em frente a uma loja da marca italiana, deparava-se constantemente com cabides que ao fim do dia eram deixados num monte para irem para o lixo. Com 210 mil cabides que tinham acabado o seu ciclo de vida, construiu 100 candeeiros na prisão de Tires. “No meio disto tudo, o próprio dono da Calzedonia comprou um candeeiro”, conta. Tempos depois, os cabides deixaram de existir: “Penso que ele deve ter ficado muito apreensivo ao ver a quantidade de cabides desperdiçados e deixaram de produzir.”

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De frascos de perfume também se fazem candeeiros Fabrice Ziegler

É este o tipo de projecto que o lisboeta quer fazer mais junto das empresas e enquanto as encomendas escasseiam, Luís vai agindo por conta própria. Os seus “candeeiros gémeos” foram desenvolvidos com pratos de piquenique que as cantinas deitavam foram. “Quando terminei e lhes mostrei o resultado eles passaram a servir a comida em pratos normais.”

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Candeeiro call me Fabrice Ziegler

Peças diferentes e amigas do ambiente

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Candeeiros desenvolvido com cabides da Tezenis Fabrice Ziegler

A paixão pela iluminação é antiga: “Quando entramos numa casa podemos olhar para tudo, mas acho que os candeeiros são privilegiados. De dia está apagado, à noite acende. Tem uma vida diferente. E depois é uma opção por algo diferente, que não se vai ver em todas as casas”, argumenta acrescentando que as suas criações podem ir de 20 a 200 euros.

Nas muitas viagens que fazia, Luís apercebeu-se que os frascos dos “testers” das perfumarias eram deitados fora. Por questões burocráticas, não conseguiu que as lojas francas lhe dessem os frascos, mas acabou por consegui-los noutras perfumarias.

Desse material não só nasceram candeeiros, como também se iniciou um novo produto: joalharia. Os anéis da 1961ecodesign são feitos a partir de tampas de perfumes — e o resultado tem encantado muita gente. “Quando as pessoas percebem que material é aquele ficam espantadas. Talvez se pense duas vezes antes de deitar o próximo frasco para o lixo.”

A próxima aposta será juntar a estas criações o mobiliário. Sempre com a vertente ambiental presente: “80% do que faço é upcycling”, diz. A melhor forma de adquirir qualquer peça do autor é contactando-o directamente, através do Facebook.

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