Viva Las Vegas!

Deboche é uma boa palavra para definir Vegas. Mas Vegas não é só isso. É o "freak show" dos mascarados de Darth Vader ou Homer Simpson que fazem concorrência às polícias sexy à cata de dólares em troca de uma foto

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Moyan Brenn/Flickr

Vegas é “kitsch”. Vegas corresponde aos estereótipos. Vegas é deslumbrante. Vegas é tudo isso e muito mais. É por isso que é tão especial e única. Quando se chega a Vegas, estranha-se ver "slot machines" no aeroporto. Como dizia Fernando Pessoa sobre a Coca-Cola, depois entranha-se. Mesmo para quem não joga, convém tentar a sorte para uma "full experience" em Las Vegas. E esse é apenas um dos pecados que se podem cometer na Sin City. Beber um cocktail no Hyde enquanto se assiste ao espectáculo do lago do Bellagio é outro. Para quem procura o deboche total, os “flyers” de "escorts" explícitos, quer visualmente quer a nível de preço, são constantemente distribuídos nas ruas.

Deboche é uma boa palavra para definir Vegas. Mas Vegas não é só isso. É o “freak show” dos mascarados de Darth Vader ou Homer Simpson que fazem concorrência às polícias “sexy” à cata de dólares em troca de uma foto. São os pedintes que calcorreiam as ruas à procura de uma beata de cigarro. Ou o concurso de quem-tem-a-melhor-desculpa-para-pedir, entre um “homeless” que diz que os ninjas lhe raptaram o filho e outro que a mulher mudou de sexo e fugiu com a namorada. O desespero de outra “homeless” cujo cartaz suplica “até um sorriso ajuda”. Famílias inteiras sentadas no chão a pedir. E num instante, a beleza de uma voz de fazer chorar as pedras da calçada, ali mesmo, numa das pontes pedonais que ligam os hotéis-casino. Ou um bonito solo de um violino só apagado pelo ruidoso vizinho de rua que toca gaita de foles.

Sim, a beleza também existe em Vegas. Seja numa voz magnífica ou num violino virtuoso ela está lá. Mas a grande atracção mágica é mesmo o espectáculo das fontes do Bellagio. É um cliché de Las Vegas mas o lirismo do momento quando acompanhado de música lírica é imbatível. Com menos sorte, o espectáculo é acompanhado de Fever de Elvis (ser múltiplo omnipresente e sempre pronto a tirar fotos). Nesse caso, podem aparecer os fanáticos religiosos a aproveitar o som para cantar Jesus (no lugar de Fever) “Christ is Lord!” empunhando cartazes que prometem um além radioso.

Mas voltemos ao “kitsch”, esse sim uma constante de Vegas. A pirâmide egípcia do Luxor projecta o seu icónico feixe de luz na noite de Vegas há mais de 20 anos. Contudo, este não é o único hotel a imitar geograficamente um lugar famoso. O New York New York imita a homónima cidade com uma série de arranha-céus do “skyline” nova-iorquino, uma réplica da Estátua da Liberdade e outra da Ponte de Brooklyn. O Paris Las Vegas tem uma Torre Eiffel que quase nos transporta para Paris. Mas o The Venetian é o mais bem conseguido que se pode encontrar no capítulo das imitações. Se por fora não impressiona, por dentro torna-se tão real que o visitante sente uma contração espácio-temporal e acorda em Veneza. Os tectos são tão realísticos que não interessa se na rua é noite, dentro é um dia luminoso e as gôndolas estão ali para nos levar aos canais fictícios e fazer esquecer que estamos dentro de um casino. Porque em Vegas vive-se sempre uma ilusão.

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