Mensagem do IAVE revolta correctores dos testes de Inglês

Numa mensagem electrónica que o Ministério da Educação fez chegar às escolas, o IAVE questiona a responsabilidade e a solidariedade dos docentes que, alegadamente, não estão a participar na correcção do teste diagnóstico. Associações de professores de Inglês contrapõem que aqueles se confrontam com problemas técnicos e falta de tempo.

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Cerca de 120 mil alunos realizaram exame. A corrcção está atrasada Adriano Miranda

Os presidentes das duas associações nacionais de professores de inglês consideraram esta sexta-feira “revoltante” e “inadmissível” que o Ministério da Educação e Ciência (MEC) e o Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) estejam a responsabilizar os docentes pelo atraso na correcção testes diagnóstico, obrigatórios para todos os alunos do 9.º ano. A gota de água foi um e-mail que o IAVE fez chegar às escolas através dos serviços do MEC, em que são questionadas a “responsabilidade” e “o dever de solidariedade” dos classificadores.

Em causa está o processo de classificação, por professores voluntários, dos testes de cerca de 120 mil alunos. Num comunicado divulgado esta segunda-feira, o IAVE anunciou o adiamento para data não definida dos resultados que deviam ser conhecidos dois dias depois. Nessa ocasião atribuiu o atraso ao facto de “apenas pouco mais de 800” professores da disciplina terem estado “efectivamente envolvidos no processo de classificação”, apesar de, sublinhou, cerca de 1200 se terem disponibilizado, numa fase inicial, “para realizar as tarefas”.

Na mensagem electrónica enviada esta quinta-feira para as direcções das escolas, os números são outros. Num tom que Alberto Gaspar, da Associação Portuguesa de Professores de Inglês (APPI), considera “completamente desadequado e inadmissível”, o conselho directivo do IAVE avisa que a classificação da componente escrita do teste certificado pelo Cambridge English Language Assessment “deverá estar terminada impreterivelmente até ao dia 15 de Junho” e diz constatar que “dos cerca de 1100 professores envolvidos no processo apenas cerca de 400 têm cumprido com regularidade” as funções.

Depois de enaltecer a “elevadíssima qualidade técnica” do trabalho destes últimos, o IAVE diz estimar que “num quadro de participação equitativa” a classificação ficará concluída dia 15 “se diariamente cada professor dedicar apenas cerca de 20 minutos” à tarefa. “Porém, no contexto actual, a sobrecarga de trabalho que recai sobre os que têm assegurado a classificação será da ordem de uma hora diária, situação que traduz uma evidente falta de equidade e que deixa transparecer falta de responsabilidade por parte dos classificadores que se têm mantido ausentes do processo ou cuja participação tem sido pontual e sem expressão quantitativa”, pode ler-se, na mensagem electrónica. Nela, o IAVE dá ainda conta de que na quarta-feira fez chegar aos próprios classificadores mensagens “diferenciadas”, “apelando nuns casos à manutenção da colaboração e, noutros, a uma participação activa no processo"  "pelo respeito e essencial princípio de dever de solidariedade profissional dos ausentes face aos colegas”, frisa.

O IAVE conclui avisando que o acesso à prometida formação gratuita aos professores classificadores que se voluntariassem para corrigir os testes resultará da avaliação do seu nível de participação. "Ou seja, criou outra regra, agora no final do processo”, ironizou Alberto Gaspar. Em declarações ao PÚBLICO,o dirigente da APPI acrescentou ter "mais uma vez a sensação terrível de que foi apenas por razões de agenda política que o MEC decidiu avançar já este ano com uma iniciativa que tinha tudo para funcionar se fosse preparada com tempo". "Como aparentemente nada planeou, vai inventado soluções à medida que os problemas surgem", comentou, frisando que "os professores estão a ser apanhados num processo armadilhado”.

Ana Neves, da Associação Nacional de Professores de Língua Inglês (ANPLI), considerou o teor da mensagem "frustrante e revoltante”. “Os classificadores são voluntários, não ganham nada com isto, não puderam ser dispensados das actividades não lectivas por esta ser uma fase especialmente complicada do ano, estão afogados em trabalho e ainda têm de se confrontar com uma plataforma electrónica para a correcção dos testes que ou está lenta ou inactiva – mereciam ser louvados, elogiados, não criticados e muito menos neste termos tão infelizes”, criticou.

Também em declarações ao PÚBLICO, Manuel Pereira, da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE) considerou que “o MEC e o IAVE estão a querer culpar os professores por falhas que são da sua responsabilidade”. Duas professoras de Inglês ouvidas pelo PÚBLICO, uma das quais dá aulas a oito turmas, disseram estar a fazer exposições ao IAVE dando conta da sua indignação. Ambas mostraram mensagens em que o os serviços da Cambridge confirmam períodos de inactividade ou de lentidão da plataforma electrónica destinada à correcção da componente escrita do teste. E afirmaram, também, não estarem certas de que conseguirão cumprir o prazo agora estabelecido pelo IAVE, já que na próxima semana estão com reuniões de avaliação de parte de alunos e a corrigir os testes de outra parte.

Esta semana, o secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário, João Grancho, anunciou a intenção do Governo de implementar em 2014/2015 um quadro regulador para professores classificadores de provas de exame para "reconhecer e valorizar" a função.

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