Os primeiros ovos intactos de pterossauros chegaram-nos 120 milhões de anos depois

São apenas cinco, mas fazem toda a diferença. Estão bem muito bem preservados – ao contrário dos únicos quatro ovos de pterossauros conhecidos até agora, que estão todos esmagados.

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Ilustração artística de um macho e uma fêmea de Hamipterus tianshanensis Chuang Zhao
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Um dos ovos encontrados Maurilio Oliveira
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Ilustração artística de Hamipterus tianshanensis Chuang Zhao
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Ilustração artística de um Quetzalcoatlus, o maior pterossauros, ao lado do Nemicolopterus crypticus, um dos mais pequenos Mark Witton

Os pterossauros eram répteis voadores, com uma anatomia que não existe em nenhum réptil actual e as suas asas podiam ter entre os 25 centímetros e os 12 metros de envergadura. Tinham uma crista na cabeça e muitos exibiam dentes pontiagudos. Pouco se sabe sobre eles, mas a descoberta de dezenas de fósseis de pterossauros na China – incluindo os primeiros cinco ovos em excelentes condições, com 120 milhões de anos – conduziu à criação de um género e uma espécie novos para a ciência, revela um artigo na revista Current Biology.

Os pterossauros apareceram na Terra há 225 milhões de anos, ao mesmo tempo que os dinossauros, e extinguiram-se com eles há 65 milhões de anos. Foram os primeiros animais voadores da Terra, muito antes de as aves terem levantado voo. Mas há poucos fósseis destes répteis voadores. Graças ao trabalho de campo, desde 2006, de uma equipa internacional – na Bacia de Turpan-Hami, a sul das montanhas de Tian Shan, na região de Xinjiang (Noroeste da China) –, foram encontrados cerca de 40 pterossauros machos e fêmeas, todos no mesmo sítio.

Juntamente com eles estavam os cinco ovos na sua forma original, portanto preservados a três dimensões, e em grande parte intactos. Terão sido enterrados na areia pelos progenitores, junto às margens de um lago antigo, para evitar que secassem. Uma tempestade terá estado na origem da sua morte.

Os ossos dos 40 pterossauros e os ovos, segundo a equipa de cientistas, são de um animal novo para a ciência: o Hamipterus tianshanensis

“Os cinco ovos ficaram preservados tridimensionalmente e alguns estão mesmo completos”, sublinha Xiaolin Wang, do Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia de Vertebrados da Academia Chinesa das Ciências, num comunicado.

“Os ovos não fazem parte da mesma ninhada e provavelmente foram postos por fêmeas diferentes, uma vez estavam afastados uns dos outros, misturados com os ossos e o seu transporte foi limitado”, descreve o artigo científico.

Até agora, apenas se conheciam quatro ovos isolados e achatadas de pterossauros (três encontrados na China e o restante na Argentina). “Sendo animais voadores com esqueletos frágeis, a maior parte das espécies conhecidas de pterossauros está representada, no máximo, apenas por um ou dois exemplares, com pouca informação sobre as suas populações”, explica o artigo. “Ovos de pterossauros são ainda mais raros, existindo até ao momento apenas quatro amostras isoladas e espalmadas”, frisa o artigo.

Os ovos descobertos têm diferenças de tamanho, apesar de isso ser normal dentro de uma mesma espécie, e um deles não estava totalmente desenvolvido. Tinham ainda fissuras no exterior. Ao serem examinados pelos cientistas, verificou-se que foram flexíveis, com uma casca calcária fina no exterior e uma membrana macia e grossa no interior, assemelhando-se aos ovos de cobras e lagartos que conhecemos hoje. “É possível que o [ovo do] Hamipterus também tenha tido uma membrana muito mais espessa, que não ficou completamente preservada”, explica o artigo.

Répteis gregários
Quanto aos ossos, estão igualmente bem preservados e ilustram as diferenças sexuais existentes entre estes animais, por exemplo a crista na cabeça dos machos era maior. “O género definia o tamanho, a forma e a robustez dos Hamipterus”, diz à agência Reuters Xiaolin Wang, acrescentando que esta descoberta contradiz a ideia de que o “dimorfismo sexual nos pterossauros só se manifestava na ausência de cristas” nas fêmeas.

“Outro aspecto significativo desta descoberta é que confirma que os pterossauros eram gregários e o tamanho desta população era surpreendentemente grande”, acrescenta Xiaolin Wang. 

“Estes fósseis lançam uma nova luz sobre a estratégia reprodutiva, a ontogenia e o comportamento dos pterossauros”, conclui o artigo.

Embora por agora os cientistas só tenham escavado cerca de 40 indivíduos, suspeitam que no local podem estar muitos mais. “O número real pode ser na casa das centenas”, avança o artigo científico. “Sem dúvida, este é o local mais importante de pterossauros alguma vez encontrado”, considera o paleontólogo Zhonghe Zhou, director do Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia de Vertebrados da Academia Chinesa das Ciências. “Estou verdadeiramente fascinado com a abundância de ossos e ovos, bem como a possibilidade de mais descobertas neste local.”

O Hamipterus tianshanensis tinha um crânio alongado com uma crista e dentes pontiagudos utilizados para apanhar peixe, ao contrário de outros pterossauros que comiam sementes e insectos. Com “apenas” 3,5 metros de envergadura de asas, não é muito grande em comparação com o Quetzalcoatlus, da América do Norte, que tinha cerca de 12 metros. Viveram em vários ponto do globo, em variadas espécies edimensões, e até ao momento em que se extinguiram reinaram nos ares.

Texto editado por Teresa Firmino

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