Como Tiananmen decidiu o futuro da China

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Um homem enfrenta os tanques chineses no dia 5 de Junho de 1989; quando já tinham sido mortas centenas de pessoas Reuters

Um ataque em duas frentes — pelos flancos ocidental e oriental da Praça Tiananmen — acabou com todas as ilusões em Pequim, escreveu o correspondente do “Guardian” na capital chinesa sobre o ataque do exército aos manifestantes na madrugada de 3 para 4 de Junho de 1989. “As tropas leais e assassinas chegaram por ocidente, pouco depois da meia-noite, quando centenas de camiões já subiam a avenida principal. A táctica foi brutalmente simples. Os blindados foram a ponta de lança, enquanto os soldados, a pé, dispararam de ambos os lados”.

Passaram 25 anos e continua por se saber ao certo quantas pessoas morreram quando o movimento civil, em Pequim e em pelo menos mais 180 cidades da China, foi esmagado. Os manifestantes, que chegaram ao milhão em Pequim, pediam liberdade, pressionavam pelas mudanças que pareciam possíveis. O muro de Berlim caíra, a Guerra Fria terminava e novas democracias nasciam no mundo.

Na Primavera de 1989, as divisões na liderança comunista transpareciam e os cidadãos davam-se conta delas. Os protestos começaram em Abril, depois da morte do antigo secretário-geral do Partido Comunista da China, Hu Yaobang, um liberal e reformador derrotado na guerra pelo poder — e pelo rumo económico e político do país — travada entre esta facção e a ala conservadora. Os estudantes universitários manifestaram-se em Tiananmen, a grande praça no coração da capital, pedindo mudanças e chorando a perda de Hu e de uma visão de futuro.

Os historiadores explicam que, no início, o Governo esboçou uma abordagem conciliatória com os estudantes. Mas, subitamente, foi declarada a lei marcial e 300 mil soldados avançaram sobre Pequim.

A “limpeza” das ruas teve eco no Governo — afastam-se os reformadores e sobe na hierarquia a facção conservadora e tecnocrata do partido. A dissidência civil é presa, os líderes estudantis são postos na prisão, alguns exilam-se, depois. A ilusão da mudança foi esmagada pela força e o regime, ameaçado por uns instantes, sobrevive.

Mas para sobreviver, perceberam os líderes, a China não poderia continuar a ser a mesma, dizem os historiadores e os analistas. A reforma política não aconteceu, mas o movimento de Tiananmen foi determinante para que ocorresse a viragem económica e social que os estudantes e a população reclamaram. “Para se entender os últimos 20 anos da China é preciso perceber Tiananmen”, diz uma análise na “Foreign Policy”. As reformas económicas aceleraram, o modelo social alterou-se com a ascensão da classe média, a China reposicionou-se no mundo e está hoje à beira de se tornar a maior economia do planeta.

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