Um “tsunami” na ciência

Boaventura de Sousa Santos lamenta as mudanças impostas sobre a política científica depois da chegada da troika.

Boaventura de Sousa Santos afirma que a política científica do actual Governo é “suicida”. “As instituições científicas estão a ser demonizadas, estão a ser sujeitas a uma avaliação completamente arbitrária, a critérios que não podemos aceitar. Pelos resultados provisórios que vão sendo conhecidos, estão a destruir as melhores instituições com a ideia de que o que é preciso é premiar os investigadores inovadores, como se um investigador inovador pudesse existir sem uma instituição a sustentá-lo”, protesta.

Até 2009, lembra, a política científica assentava na ideia de que, para termos investigadores que conseguiam financiamento europeu e internacional, era fundamental ter instituições científicas fortes. Tudo mudou. “Este Governo está a arrasar as instituições científicas que levaram muito tempo a estabilizar.” O Centro de Estudos Sociais, por exemplo, ocupa o 18.º lugar no perfil do chamado financiamento competitivo europeu. “Por cada euro que nos deram, fomos buscar três euros à Europa. Esta política está a ser totalmente desmantelada de uma maneira planeada para destruir as instituições”, acusa.

Como coordenador científico do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa, Boaventura de Sousa Santos reuniu-se com a troika, ainda Alberto Martins era ministro. Percebeu quais eram as intenções. A cidadania e o acesso aos tribunais não fizeram parte das preocupações. As atenções centraram-se numa justiça “mais amiga dos negócios”. A troika fixou-se no corte das despesas e na lei de arrendamento. “Era preciso facilitar os despejos para fazer a renovação urbana das cidades. Reanimar o mercado imobiliário com rendas mais caras e despejos mais rápidos.”

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