UKIP leva 24 eurodeputados para Estrasburgo, trabalhistas ficam em segundo

Ninguém parou o UKIP de Farage. Partido eurocéptico venceu em metade das regiões eleitorais britânicas e ainda conseguiu eleger deputados na Escócia e em Gales.

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Nigel Farage, um "político consumado" ou apenas "um tipo normal"? Leon Neal / AFP

É preciso recuar mais de cem anos para assistira a algo assim na política britânica. O UKIP (Partido da Independência do Reino Unido) venceu as eleições europeias e os partidos tradicionais tentam gerir as diferentes derrotas.

A contagem dos votos, concluída esta segunda-feira, confirmou a vitória do partido eurocéptico, que garante a eleição de 24 eurodeputados, mais 11 do que em 2009. Das 12 regiões eleitorais do Reino Unido, o UKIP venceu em seis e conseguiu até eleger eurodeputados na Escócia e no País de Gales.

O Partido Trabalhista esteve numa luta taco a taco com os conservadores para alcançar o segundo lugar, valendo ao partido de Ed Miliband a vitória na capital. O maior partido da oposição assegurou 20 eleitos – ainda sem os votos na Irlanda do Norte –, mais um do que o Partido Conservador.

No discurso da vitória, Nigel Farage, igual a ele próprio, disse que, “apesar da carga de abusos” cometidos sobre o seu partido durante a campanha, os britânicos votaram no UKIP. “O partido fez algo que não acontecia há cem anos e ganhámos umas eleições nacionais neste país e estou muito orgulhoso”, afirmou. A última vez que umas eleições nacionais no Reino Unido não foram ganhas por trabalhistas ou conservadores foi em 1910, com uma vitória dos liberais.

Farage não perdeu a oportunidade para destacar os resultados em Gales, onde esteve muito de perto de ficar à frente dos trabalhistas, e na Escócia, onde a eleição de um eurodeputado é algo “que Alex Salmond [líder do Partido Nacional Escocês, principal defensor do referendo soberanista] não irá gostar de todo”.

As maiores vítimas do “terramoto” eurocéptico foram os Liberais Democratas – actuais parceiros de coligação dos conservadores no poder –, que conseguiram eleger apenas um eurodeputado, perdendo dez em relação a 2009.

Na iminência de uma derrota avassaladora nas eleições legislativas do próximo ano, acentuaram-se os clamores para que Nick Clegg se demita da liderança do LibDem. O partido está desavindo como em poucas ocasiões da sua história. Sandra Giley, uma ex-deputada liberal, personificou a facção que pede a cabeça de Clegg, ao dizer, num programa televisivo, que “a marca LibDem tornou-se tóxica”.

Clegg afastou a possibilidade de se demitir, não vendo nessa hipótese qualquer ajuda ao seu partido. “Se pensasse que algo poderia ser resolvido mudando a liderança, a estratégia, a abordagem, saindo agora, mudando de direcção, então não hesitaria em fazê-lo”, disse numa entrevista no rescaldo da noite eleitoral. O crescimento do UKIP está em linha com a deriva europeia na direcção da direita e do populismo, no entender do líder dos liberais britânicos.

O primeiro-ministro, David Cameron, atirou-se a Farage, considerando-o “um político consumado” em oposição à forma comum como o líder do UKIP se gosta de apresentar: “Um tipo normal que se encontra num pub.”

O líder dos trabalhistas, Ed Miliband, assegurou que, mesmo perante os resultados, o seu partido não vai mudar quanto à sua oposição ao referendo à permanência na União Europeia, que os conservadores prometem organizar, caso vençam as eleições legislativas de 2015. No entanto, começam a ouvir-se vozes discordantes no seio do partido que lidera a oposição. Graham Stringer, um deputado trabalhista, alertou que se o partido não se comprometesse com a consulta iria perder votos.

O ex-primeiro-ministro trabalhista Tony Blair manifestou preocupação com a vitória do UKIP, mas sublinhou que a permanência do Reino Unido na UE não deve ser questionada. “Ter um debate dominado por sentimentos anti-imigração e pelo desejo de retirar a Grã-Bretanha da Europa não são soluções para o século XXI”, disse Blair.

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