Russos dizem-se prontos a dialogar com novo Presidente da Ucrânia

As posições sobre a situação no Leste da Ucrânia são inconciliáveis, mas todos dizem querer falar. Pró-russos ocupam aeroporto de Donetsk.

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Lavrov comentou as eleições ucranianas em Moscovo Vasili Maximov/AFP

A Rússia está “pronta a dialogar” com o novo Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, eleito domingo nas presidenciais, desencadeadas pelo derrube de Viktor Ianukovich. As palavras são do ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, que também pediu o fim da missão “antiterrorismo” no Leste da Ucrânia, estimando que a continuação das operações de Kiev contra os pró-russos será um “erro colossal”.

“Tendo em conta a expressão da vontade popular, que respeitamos, estaremos preparados para estabelecer um diálogo pragmático e equilibrado a partir das fundações existentes – com isto quero dizer o cumprimento dos acordos em vigor, incluindo nos sectores do comércio e do gás”, disse Lavrov, em Moscovo, enquanto o primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, visitava a península da Crimeia.

Para o Governo russo, afirmou o chefe da diplomacia, “o mais importante é que as autoridades actuais respeitem os cidadãos, o povo e permitam que estes encontrem compromissos que levem em conta os interesses de todas as forças políticas”. Moscovo defende a anexação da Crimeia – que se seguiu a um referendo não reconhecido internacionalmente – assim como o direito dos habitantes do Leste ucraniano a decidirem sobre o seu futuro político.

Quase em simultâneo, numa conferência de imprensa, Poroshenko avisava que a “operação antiterrorismo” no Leste é para prosseguir, estimando que tem de ser mais eficaz e breve, com unidades “mais bem equipadas” – defendeu o diálogo com os separatistas, mas recusou negociar com “terroristas” que ameacem a segurança do país. Aos separatistas, avisou, não será permitido transformar o Leste da Ucrânia “numa Somália”.

“Espero que a Rússia apoie os esforços para enfrentar a situação no Leste”, também disse o recém-eleito chefe de Estado, afirmando que conta poder encontrar-se com líderes russos durante a primeira metade de Junho.

Ao mesmo tempo, preveniu que vai recorrer a todos os meios legais para assegurar o regresso da península da Crimeia, anexada por Moscovo em Março, à posse da Ucrânia. E confirmou a sua vontade de avançar no sentido da “integração europeia” – o afastamento de Ianukovich de Bruxelas esteve na origem das manifestações durante meses que levaram à saída de Ianukovich do poder.

No Leste da Ucrânia foram poucos os que conseguiram votar. Grupos separatistas pró-russos ocuparam, no último mês, várias cidades e vilas na região de maioria russófona. Da Crimeia houve quem fosse até à Ucrânia continental para votar.

Ainda na noite de domingo, Porochenko anunciou que se iria deslocar à região de Donbass, no Leste, o coração da insurreição pró-russa. A resposta dos separatistas não se fez esperar para mostrarem que  não é bem-vindo: durante a noite avançaram para o aeroporto de Donetsk e correram com os soldados ucranianos que lá estavam, o que levou ao cancelamento de todos os voos e ao encerramento do aeroporto.

A meio do dia, as autoridades de Kiev anunciaram uma “operação antiterrorismo” para recuperar o aeroporto, tendo-se registado trocas de tiros e explosões. Aviões de combate do Exército ucraniano participam na operação. Um porta-voz militar confirmou à AFP que “soldados pára-quedistas saltaram  de helicóptero e estão em vias de limpar o território".


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