PÚBLICO e O GLOBO juntam-se para apresentar os vinhos portugueses no Rio

Parceria entre os dois jornais e a ViniPortugal leva 62 produtores nacionais ao Rio de Janeiro para um evento de três dias com provas, harmonizações, e cursos de iniciação, um suplemento especial, e ainda a tecnologia portuguesa do “copo inteligente”. Para um público ávido por conhecer melhor os grandes vinhos nacionais e um mercado “com um peso enorme para os vinhos de Portugal”.

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De hoje até domingo haverá provas, harmonizações, cursos e apresentações especiais Nuno Alexandre Mendes

“O Rio é um mercado com um peso muito grande para os vinhos de Portugal”, afirma Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal, a associação que promove os vinhos portugueses no exterior e que gere a marca Wines of Portugal. “E sendo este um evento focado nos consumidores cariocas, com uma forte componente de educação e grande visibilidade em termos de comunicação, pela associação dos jornais O GLOBO e o PÚBLICO, é sem dúvida uma grande oportunidade”. Além disso, sublinha, “surge no momento e no local certo: quando estamos num crescendo de notoriedade no principal mercado regional onde mantemos maior presença”.

As provas, cursos e harmonizações com doces e queijos (com o patrocínio da Deli Delícia) destinam-se tanto a quem já conhece bem os vinhos portugueses como a quem se quer iniciar no tema. Há provas mais específicas, como a dos vinhos portugueses de nova geração (quatro brancos e quatro tintos) pelo crítico do PÚBLICO Pedro Garcias, no domingo às 17h, ou os Vinhos de Portugal no feminino, sobre o trabalho das enólogas portuguesas, conduzida pelo crítico do GLOBO Bruno Agostini no sábado às 15h, além de provas centradas nos Grandes Tintos de Portugal (Pedro Garcias, hoje às 16h) e nos Grandes Brancos de Portugal (também Pedro Garcias sábado às 17h).

Mas há também os cursos de iniciação conduzidos por Rui Falcão, cronista do PÚBLICO e autor do Guia de Vinhos, e um olhar mais brasileiro sobre as castas portuguesas, trazido pelo Master of Wine do Brasil, o único de língua portuguesa, Dirceu Vianna Júnior, numa prova intitulada “As uvas de Portugal que me apaixonam!” (esta sexta e sábado às 20h). Manuel Carvalho, do PÚBLICO, fará uma introdução ao Douro ao Vinho do Porto (esta sexta-feira às 18h), e Guilherme Rodrigues, advogado brasileiro especialista em Vinho do Porto, proporá uma leitura muito pessoal ligando as vitórias do Brasil em Mundiais de futebol com os Vinhos do Porto de 1958 a 2002 (este sábado às 19h).

Esta sexta e sábado entre as 10h e as 12h, abre-se um espaço de “degustação rápida” destinado a profissionais, que permitirá um contacto directo entre produtores e os representantes do mercado brasileiro.

O Vinhos de Portugal no Rio será ainda uma oportunidade para apresentar ao mercado brasileiro uma tecnologia portuguesa única e premiada: o “copo inteligente”, criação da empresa Adegga, de André Ribeirinho, venceu a edição deste ano do Wine Business Innovation Summit. Trata-se de um copo de vinho aparentemente igual aos outros, mas que tem um chip que regista o percurso do utilizador no evento, memorizando todos os produtores visitados e os vinhos que cada um tem em prova. No final, o registo é enviado por e-mail para o cliente, que fica na posse de toda a informação sobre os vinhos que provou, as castas, as regiões, os enólogos, e até o supermercado, garrafeira ou contacto do importador através do qual os pode comprar.

Esta parceria, com uma aposta na área dos vinhos, faz todo o sentido para os dois jornais, garantem os responsáveis de ambos. “Vamos aliar informação à interactividade para trazer pela primeira vez ao Rio tudo sobre os vinhos portugueses”, declara Fernanda Araújo, gerente de marketing do GLOBO. “Este evento inovador oferece experiências únicas aos cariocas, que têm mostrado cada vez mais interesse sobre o tema, já abordado em diversas colunas e cadernos do GLOBO.”

“Por mês, quase um milhão de brasileiros lê o PÚBLICO”, explica, por seu lado, a directora deste diário, Bárbara Reis. “Sentimos que devíamos dar resposta a este interesse crescente do Brasil pelos nossos conteúdos e lançar pontes de aproximação mais concretas. Estamos atentos ao que os leitores do Brasil querem ler, e o que procuram”.

Foi o digital que veio mudar essa relação. “Já não estamos limitados aos aviões que levam uma mala com alguns exemplares do PÚBLICO para o Brasil, Angola ou Moçambique. Acreditamos que, à medida que os leitores brasileiros forem conhecendo mais o PÚBLICO, mais PÚBLICO vão querer ler”, acrescenta Bárbara Reis. Quando entram no site do diário português, os brasileiros procuram sobretudo política internacional e cultura, “mas há também uma grande curiosidade em relação à gastronomia e vinhos, áreas nas quais o jornal tem um conhecimento profundo e uma dedicação atenta”.

Simone Duarte, directora-adjunta do PÚBLICO, é a responsável por esta ponte entre os dois países. Até porque, sendo brasileira conhece também essa realidade. “Há vinte anos ninguém falava de vinho no Brasil, havia um interesse residual. Hoje existe uma curiosidade cada vez maior”. Uma iniciativa como esta, diz, “que se destina prioritariamente ao consumidor/leitor”, faz sentido para um jornal que tem “um conhecimento muito grande ligado aos vinhos, que se junta à experiência do GLOBO em fazer grandes eventos”.

Trata-se de informação, “e nós, como jornalistas, estamos habituados a pensar o que é que o leitor quer saber sobre um assunto”. Daí que, pelo facto de ter por trás dois jornais, “é um evento diferente do que seria um feito por uma organização de eventos”. Aliás, a par dos três dias de provas, vai ser distribuído com o GLOBO, em 210 mil exemplares, um suplemento especial dedicado ao vinho português “80% do qual feito pelos críticos e jornalistas do PÚBLICO”.

Jorge Monteiro diz que para a ViniPortugal faz também todo o sentido associar-se à iniciativa. “O Brasil é o segundo maior mercado de investimento em promoção da nossa parte, e a estratégia nos últimos anos visa uma consolidação da marca Vinhos de Portugal junto do trade e do consumidor no eixo Rio-São Paulo, bem como o alargamento da presença dos vinhos portugueses a outros estados onde a taxa de penetração ainda é baixa.” Dentro desta estratégia, os “eventos e educação representam mais de 80% do plano de promoção”.

Esta atenção dada ao Brasil prende-se com uma evolução de certo modo inesperada deste mercado. “Recorde-se que quando a Monitor Company de Michael Porter estabeleceu os mercados estratégicos para os nossos vinhos, o Brasil não figurava. Mas o comportamento deste mercado acabou por transformar o Brasil num dos mais importantes mercados para os vinhos de Portugal”.

Os números são reveladores: entre 2002 e 2012, as exportações cresceram em volume 220%. Jorge Monteiro reconhece que este ritmo não pode continuar dada a actual desaceleração da economia brasileira, mas acredita que continua a haver margem de crescimento para os vinhos portugueses que procuram “ganhar posição em estados do Sul, como Santa Catarina ou Paraná (onde não atingimos 6% da quota de mercado), aproximando-nos mais dos valores que atingimos no estado de São Paulo (19%) para não falar no estado do Rio, onde detemos quase 30% da quota”.

O Master of Wine Dirceu Vianna Junior, que vive em Londres e estará no Brasil especialmente para participar no Vinhos de Portugal no Rio, considera que actualmente os brasileiros “já conhecem e muitos respeitam a qualidade dos vinhos portugueses, sobretudo os da região do Douro e Alentejo, que agradam muito ao consumidor brasileiro, apreciador de vinhos exuberantes e bastante frutados”. Mas, sublinha, “Portugal tem muito mais a oferecer, e por isso existe um processo de educação muito importante a ser feito para que o consumidor brasileiro continue a descobrir a diversidade dos vinhos portugueses.”

No passado, o que os brasileiros conheciam eram os vinhos mais baratos e rústicos, acrescenta Guilherme Rodrigues, especialista em Vinho do Porto. “O que vem mudando com certa velocidade, felizmente, é o conteúdo dessa percepção, cada vez mais associada a vinhos de qualidade superior”. Assim, os portugueses “surgem como alternativa mais directa quando os consumidores começam a cansar dos vinhos sul-americanos”. Esta alteração da imagem dos vinhos portugueses tem tido como motor os vinhos do Douro e do Alentejo, mas também Guilherme Rodrigues defende que há muito a fazer pelas restantes regiões.

Pelo seu lado, vai dar um contributo para um melhor conhecimento do Vinho do Porto na prova em que o vai ligar às vitórias do Brasil no Mundial. “A ideia é associar o Vinho do Porto à conquista e ao triunfo, mas não de um ponto de vista elitista e sim voltado a todas as camadas da população – daí a aproximação ao futebol”. E acontece que “os anos que deram a Copa ao Brasil renderam também ao Vinho do Porto colheitas singulares: 1970 e 1994, dois dos mais espectaculares anos vintage de sempre.”

E depois deste primeiro Vinhos de Portugal no Rio, o que acontecerá? Simone Duarte, do PÚBLICO, afirma que a ideia é manter o evento com carácter anual no Rio e eventualmente alargá-lo, sendo que “São Paulo parece ser um destino óbvio”. Também Sandra Sanches, directora-executiva do GLOBO, está convicta de que “a partir desta primeira edição, a iniciativa tem tudo para entrar para o calendário da cidade” do Rio.

E quando perguntamos a Dirceu Vianna Júnior qual a melhor forma de os produtores portugueses explicarem ao público brasileiro as especificidades dos seus vinhos, ele é taxativo: “Não existe forma melhor do que colocar uma taça na mão do consumidor e contar uma bela história”. É o que vai acontecer durante os próximos três dias no Palácio de São Clemente.

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