O top 10 das espécies descobertas em 2013

Foram descobertas 18.000 novas espécies no ano passado. Dez delas foram escolhidas para uma lista que chama a atenção para os problemas da biodiversidade, incluindo vários animais, uma árvore, um fungo e uma bactéria. Embora muitas espécies estejam a extinguir-se, a natureza continua a surpreender-nos.

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1- Bassaricyon neblina, o olinguito Mark Gurney
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1- Bassaricyon neblina, o olinguito Mark Gurney
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2- Dracaena kaweesakii, o novo dragoeiro Paul Wilkin
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3- Edwardsiella andrillae Cortesia de Marymegan Daly
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4- Liropus minusculus AINC/J.M. Guerra García
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5- Penicillium vanoranjei Cortesia de Cobus M. Visagie
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5- Penicillium vanoranjei ao microscópio Cortesia de Cobus M. Visagie
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6- Saltuarius eximius Conrad Hoskin
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7- Spiculosiphon oceana Cortesia de Manuel Maldonado
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8- Tersicoccus phoenicis DSMZ/Jet Propulsion Laboratory/Calthec
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9- Tinkerbella nana Jennifer Read
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10- Zospeum tholossum Alexander M. Weigand

Um mamífero, uma árvore de 12 metros ou um gastrópode que vive numa gruta – estas são três das 18.000 espécies descobertas em 2013. O Instituto Internacional para a Exploração de Espécies, nos Estados Unidos, escolheu dez delas para nesta sexta-feira marcar o dia de aniversário de Lineu, naturalista sueco nascido a 23 de Maio de 1707 e pai da taxonomia, a disciplina que ajuda os biólogos a catalogar os seres vivos. “Um mamífero e uma árvore confirmam que as espécies à espera de ser descobertas não pertencem só à escala microscópica”, diz Antonio Valdecasas, zoólogo do Museu Nacional de Ciências Naturais em Madrid, que dirigiu o comité de peritos internacionais que seleccionou esta lista. Conhecem-se dois milhões de espécies e estima-se que outros dez milhões estejam por descobrir. Muitas desaparecerão antes disso, vítimas da actividade humana que está a destruir a biodiversidade. Mas outras continuarão a espantar-nos, tal como fazem estes dez recém-chegados ao nosso mundo.

1. Um mamífero escondido nas árvores

Há 35 anos que os biólogos não descobriam um mamífero da ordem dos Carnivora. Mas o olinguito (Bassaricyon neblina) estava escondido em colecções naturais. Kristofer Helgen, conservador do Museu Nacional de História Natural da Instituição Smithsonian, na cidade de Washington, liderava um estudo de revisão do género Bassaricyon (pequenos mamíferos chamados olingos, da América Central e do Sul, parentes do guaxinim e do quati) quando deu com peles e ossos de indivíduos nas gavetas de museus, recolhidos no início de século XX. A dimensão e o tamanho dos dentes não batiam certo com as espécies conhecidas de Bassaricyon. “As peles eram de um vermelho intenso e, quando olhei para os crânios, não reconheci a anatomia. Era diferente de todos os animais semelhantes que já tinha visto e de imediato pensei que poderia ser uma espécie nova para a ciência”, recordava Kristofer Helgen à BBC online na altura do anúncio.

O mistério levou a equipa ao Norte da cordilheira dos Andes, onde acabou por descobrir indivíduos vivos da nova espécie. O olinguito é o mais pequeno dos Bassaricyon, tem 900 gramas, uma pele castanha-alaranjada, alimenta-se de frutos, é nocturno e vive nas árvores das florestas da Colômbia e do Equador, entre os 1500 e 2750 metros de altitude. Cerca de 42% do habitat do olinguito já desapareceu.

2. Um dragoeiro de 12 metros

Como é que uma árvore de 12 metros passa despercebida tanto tempo? Não passa, a nova espécie de dragoeiro (Dracaena kaweesakii), da Tailândia, é plantada nos templos budistas e tem, consoante a região, nomes comuns como chan nuu, chan pa krai e chan ku on. Existe em florestas que crescem em substratos calcários, como se vê em baixo (na fotografia cujos créditos são de Warakorn Kasempankul e Parinya Siriponamat) nas províncias de Lopburi e Loei, no Centro e Norte da Tailândia. Há, contudo, descrições de árvores na Birmânia, que no entanto ninguém conseguiu ainda confirmar. Este novo dragoeiro, identificado agora por Paul Wilkin, dos Jardins Kew, no Reino Unido, e colegas, é caracterizado pelos muitos ramos que tem, pelas folhas em formato de espada com extremidades brancas e as flores são cremes. Pensa-se que existam apenas 2500 indivíduos. Uma população tão pequena e a extracção de calcário na região onde a espécie cresce estão a colocar o novo dragoeiro em perigo de extinção.

 

3. Uma anémona-do-mar de cabeça para baixo

Na região da Antárctida Ocidental, a 270 metros de profundidade no Mar de Ross, encontraram-se pequenas anémonas-do-mar presas ao gelo, de cabeça para baixo. A descoberta da Edwardsiella andrillae foi um acaso. Um robô aquático munido de câmara, da equipa internacional do Programa de Perfuração Geológica da Antárctida (Andrill), deparou-se com milhares e milhares das pequenas anémonas. O robô estava a ser usado no estudo das correntes marinhas, quando “olhou” para cima e viu os pequenos animais. As anémonas foram estudadas por Marymegan Daly, da Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos. Com menos de dez centímetros quando são esticadas, as anémonas têm 20 a 24 tentáculos (um interior com oito e outro exterior com 12 a 16 tentáculos). Pensa-se que se alimentam de plâncton, mas ninguém sabe como é que ficam enterradas ou presas ao gelo, nem como sobrevivem a temperaturas tão baixas. Estes são alguns mistérios que os cientistas esperam descortinar no futuro.

4. Crustáceo fantasmagórico do Pacífico

Transparente, esguio, com longos membros chamados gnatopódes e apenas 3,3 milímetros (no caso dos machos, as fêmeas têm 2,1 milímetros), este novo crustáceo marinho tem algo de “fantasmagórico”, como diz Antonio Valdecasas. O Liropus minusculus foi descoberto numa gruta na ilha de Santa Catalina, ao largo da costa da Califórnia, nos Estados Unidos. “Esta nova espécie apresenta diferenças relativamente a outros exemplares do mesmo género, tanto nas protuberâncias dorsais, assim como nas patas, nas pinças e no abdómen”, explica o investigador espanhol José Manuel Guerra Garcia, da Universidade de Sevilha, que descobriu este crustáceo. Há outras espécies do género Liropus no Atlântico e no mar Mediterrânico.

5. Bolor com nome da Casa Real holandesa

A homenagem veio do Centro de Biodiversidade dos Fungos, um instituto da Real Academia da Holanda para as Artes e Ciências, que resolveu atribuir o nome da Casa Real holandesa a um bolor cor de laranja descoberto na Tunísia. Assim a Casa Real de Orange deu nome ao Penicillium vanoranjei. A descoberta e o nome foram divulgados em Abril de 2013, o mês em que o príncipe de Orange, Willem-Alexander Claus George Ferdinand, ia ser coroado rei da Holanda.

“O laranja é impressionante, os nossos investigadores nunca viram nada assim”, disse Pedro Crous, director do centro, num comunicado. Na altura, a equipa tinha descoberto outros quatro fungos do mesmo género, que receberam nomes associados a outros membros da família real holandesa: “Decidimos prestar uma homenagem humorística mas respeitosa.” Sendo espécies de Penicillium, o fungo que originou a penicilina, o poderoso antibiótico descoberto por Alexander Fleming em 1928, os cientistas vão procurar propriedades semelhantes nestes novos bolores.

6. Um geco extraordinário

Um corpo que se confunde com as rochas, uma cauda em forma de folha que termina num pequeno prolongamento, os olhos esbugalhados: é o Saltuarius eximius, um novo geco australiano de 17 centímetros. O réptil foi descoberto nas regiões mais altas do cabo de Melville, com cerca de 500 metros de altura, no Nordeste da Austrália, por uma equipa liderada por Conrad Hoskin, da Universidade de James Cook, em Townsville. O nome eximius, que significa extraordinário, deve-se ao facto de este geco ter um corpo mais esguio, membros mais finos e longos e olhos maiores do que as espécies do geco do género Saltuarius.

Este é um dos três géneros de gecos com cauda em forma de folha, que se distribuem por habitats rochosos e pelas florestas húmidas no Leste da Austrália. Normalmente, estas espécies encontram-se em pequenas áreas. O Saltuarius eximius não foge à regra: vários esforços de amostragem – sem sucesso – tentaram localizar a espécie noutras áreas. É provável que a sua população seja diminuta.

 

7 – Célula imita esponja carnívora

O Spiculosiphon oceana é um foraminífero, um grupo de seres unicelulares que costumam ter poucos milímetros de comprimento, tal como as amibas, e produzem uma carapaça externa de protecção. Mas este novo organismo, encontrado no mar Mediterrânico, num monte submarino a algumas dezenas de quilómetros da costa Sudoeste de Espanha, é completamente diferente.

Cresce até aos quatro centímetros, um tamanho gigante para uma célula, e apanha pedacinhos do esqueleto (espículas) deixados por esponjas (animais marinhos que, na vida adulta, estão presos a um substrato e têm uma abertura por onde entra água para filtrar partículas). Com as espículas, o Spiculosiphon oceana constrói um exosqueleto, usando uma proteína, de produção própria, como cola. Os cientistas começaram por pensar que este organismo era uma nova espécie de esponja carnívora – este grupo de esponjas não filtra da água alimentos e desenvolveu braços que funcionam como armadilhas para crustáceos. Mas Manuel Maldonado, investigador do Centro de Estudos Avançados de Blanes, em Girona, Espanha, resolveu o enigma. O novo foraminífero usa uma técnica parecida com a das esponjas carnívoras: agarrado ao solo, na sua extremidade tem filamentos que servem para apanhar pequenos invertebrados.

8. Bactéria pronta para ir para outro mundo


Uma bactéria foi encontrada em dois locais, só que a 4000 quilómetros de distância um do outro. O achado não teria importância, se os dois locais não fossem o chão de salas esterilizadas onde se encontram naves prontas para ir para o espaço. Estas salas são especialmente desinfectadas para que nenhum organismo terrestre viaje nas missões espaciais e contamine o resto do Universo.

Mas a bactéria Tersicoccus phoenicis sobreviveu a todos os métodos de lavagem, tanto numa sala do Centro Espacial Kennedy, na Florida, Estados Unidos, onde em 2007 se construía o módulo de aterragem Phoenix Mars (daí o nome phoenicis da bactéria), como no Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa.

A bactéria agrega-se em bolinhas chamadas cocos. A Tersicoccus phoenicis é uma bactéria extremamente resistente e alimenta-se de muito pouco. Para Parag Vaishampayan, microbiólogo do Laboratório de Propulsão a Jacto da NASA, na Califórnia, um dos autores deste estudo, dificilmente se encontraria esta espécie no mundo natural: “Encontramos muitos micróbios nas salas desinfectadas porque nos esforçamos muito para os encontrar. O mesmo micróbio poderá estar lá fora no solo, à saída destas salas, mas não quer dizer que o encontraríamos porque estaria escondido entre um número assolador de outros micróbios.”

9. Insecto voador com um quarto de milímetro

Se há células que crescem até vários centímetros, também há insectos cuja cabeça, abdómen e asas, tudo incluído, medem um quarto de milímetro – como o Tinkerbella nana, descoberto na Estação Biológica de La Selva, na Costa Rica. Este insecto mínimo pertence à família das Mymaridae, um grupo de 1400 espécies de vespas parasitóides, que põem os seus ovos nos ovos de outros insectos, e foi descoberto por John Huber, da agência de Recursos Naturais do Canadá. Apesar de só ter 250 micrómetros de comprimento, há espécies neste grupo ainda mais pequenas do que o Tinkerbella nana, em que o macho só cresce até aos 130 micrómetros, o mesmo tamanho de um óvulo humano.

10. Um caracol translúcido cavernícola

O Zospeum tholossum dá um novo sentido à lentidão dos caracóis: durante uma semana inteira só consegue percorrer distâncias de milímetros a poucos centímetros. O gastrópode foi descoberto por Alexander Weigand, do Centro de Investigação da Biodiversidade e do Clima de Frankfurt (Alemanha), no sistema de grutas de Lukina Jama-Trojama, na Croácia, um dos 20 maiores sistemas de grutas do mundo e que chega aos 1392 metros de profundidade. O caracol estava a 980 metros de profundidade, perto de um pequeno curso de água existente numa galeria da gruta com rochas e areia.

Translúcido, por não ter pigmentação na casca, sem olhos e com apenas dois milímetros de comprimento, este caracol é um autêntico animal das grutas onde não entra um único raio de luz. Os cientistas pensam que, para se mover, ele utilize os cursos de água ou apanhe a boleia de outros animais que frequentem a gruta, como morcegos e grilos. Além de se terem encontrado cascas sem caracóis, apenas se descobriu um único indivíduo vivo desta espécie, como se vê abaixo (na fotografia tirada por Jana Bedek).

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